Muitos brasileiros têm pavor de armas, como se fossem uma coisa do mal. Infelizmente, nos últimos 25 anos o estado e a mídia conseguiram colar nas armas a culpa pela violência, quando na verdade foi o banimento delas que deixou os brasileiros indefesos e à mercê de criminosos que atacam com a certeza de que não haverá resistência da vítima. Quando eu tinha meus dez anos de idade lembro muito bem que meu tio andava armado, e meu pai sempre falava em comprar a dele. Lembro de ter entrado numa loja com ele e ver as armas expostas, armas que podiam ser compradas por cidadãos obedientes à lei. Isso soa hoje como fantasia no Brasil, depois que o governo conseguiu desarmar grande parte da população, e não tirou uma pistola sequer das mãos dos criminosos.
Eu tenho estudado o assunto a fundo, pois nos últimos meses traduzi alguns livros excelentes e extremamente bem fundamentados sobre armas e suas consequências para a sociedade. Quando escrevo aqui, não é com o achismo desses grupos de “defesa dos direitos humanos”, que pegam meia dúzia de reportagens e acham que têm informação suficiente para tentar educar as pessoas. Não, estou falando baseado em centenas de tabelas estatísticas, de dados dos últimos 400 anos, de países diferentes, de estudos sérios feitos por professores de grandes universidades. Eu entendo que essa é a maneira correta de alguém se informar sobre um assunto, e não lendo três reportagens tendenciosas num jornal qualquer.
A mídia engana demais. Como exemplo posso citar os casos de tiroteios em escolas americanas, que são tratados como a coisa mais absurda do mundo. Pois bem, se você pegar qualquer ano como exemplo, de 1995 até hoje, o número de estudantes mortos em ataques como esse é menor do que o número de estudantes mortos por esforço excessivo nas práticas de educação física. Mas ninguém vai ver uma reportagem sobre isso, porque o que interessa é pintar as armas como vilãs supremas. Em casa é a mesma coisa: quando uma criança morre por um disparo acidental da arma de seus pais, vira notícia no mundo inteiro; mas não há uma menção sequer às mortes por ingestão de produtos de limpeza, que acontecem NOVENTA vezes mais do que as mortes com armas. E aí? O que pensar sobre isso?
Para mim é bastante óbvio. Se existisse um interesse do governo e da mídia de evitar mortes infantis, por exemplo, eles deveriam se preocupar muito mais em instruir os pais sobre como guardar seus produtos de limpeza do que tentar tirar o instrumento de defesa de suas mãos. Deveriam alardear os riscos de se andar de bicicleta, atividade que mata mais jovens do que todos os atiradores dementes juntos. Mais do que isso, deveriam mostrar os inúmeros casos documentados de pessoas que estão vivas hoje porque alguém próximo, ou elas mesmas, tinha uma arma numa situação de confronto com um criminoso.
Perceba a diferença: muitas pessoas morrem de bicicleta, mas não se tem notícia de que uma bicicleta tenha salvo uma vida, e ninguém sai por aí pedindo o banimento das bicicletas. Muitas pessoas morrem pelo uso de armas, mas muitas mais vivem por causa delas; as armas que matam são as que estão nas mãos de criminosos, que as obtêm diretamente do contrabando, e todo mundo sai pedindo seu banimento generalizado. Um estudo recente da Universidade de Chicago, sobre o uso defensivo de armas, mostrou que em 99% dos confrontos com criminosos a pessoa só precisa sacar a arma para assustar o bandido e impedir o crime, e que menos de 0,1% dos crimes com armas de fogo foram cometidos por cidadãos que possuem uma arma legalizada.
A quem tem um preconceito infundado sobre as armas de fogo, convido a conhecer mais sobre o assunto. Ainda que você nunca compre uma arma para si, é importante saber que o direito de tê-las deve ser garantido a todos os cidadãos de bem, e que seu bairro será mais seguro se você ou alguns dos seus vizinhos tiverem uma arma em casa. Lembre-se que a polícia chega, quase sempre, depois do crime. Está na hora de apoiar os esforços que estão sendo feitos para a derrubada do estatuto do desarmamento, uma excrescência que ajudou o Brasil a atingir o recorde de 60 mil mortes violentas por ano, nos dando uma taxa per capita maior do que a de muitos países em guerra.
Brasileiros, armai-vos!
Flavio Quintela é bacharel em Engenharia Elétrica, escritor, tradutor de obras sobre política, filosofia e história, e membro do IFE Campinas. É o autor do livro “Mentiram (e muito) para mim”. (flavio@quintelatranslations.com)
Artigo publicado no jornal Correio Popular, 09 de dezembro de 2014, Página A2.