O QUE É O IFE?

image_pdfimage_print

imagem_quefaz“Hoje são muito raros certos pensadores que havia no passado, que são os maîtres à penser [mestres que ensinam a pensar]. Na França do meu tempo, havia o Aron e o Sartre, que dividiam entre si a área de ciências humanas. Hoje, não temos mais maîtres à penser.”

Fernando Henrique Cardoso, Da política ao mapa da vida. Entrevista, extraído da Revista Dicta&Contradicta, nº 3, principal publicação do IFE.

“Hierarquias no amplo espectro dos saberes que formam o conhecimento; uma moral abrangente, que requer a liberdade e permite expressar a grande diversidade do humano, mas rme em sua rejeição de tudo o que envilece e degrada a humanidade; uma elite estruturada não pelo critério do nascimento, ou do poder econômico ou político, mas pelo esforço, pelo talento e pela obra realizada […]: isso foi a cultura nas circunstâncias e sociedades mais cultas que a história conheceu, e o que deveria voltar a ser se não queremos progredir sem rumo, às cegas, como autômatos, até a nossa desintegração.”

Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura, Breve discurso sobre a cultura, Dicta&Contradicta, nº 6.

 

É possível incentivar o hábito de discussão de ideias para o Brasil contemporâneo, formando opiniões e expondo-as a uma crítica honesta intelectualmente?

É possível oferecer à opinião pública e ao mundo acadêmico um estímulo para pensar e não uma solução pré-fabricada para o que se deve pensar?

 

O Instituto de Formação e Educação (IFE) é uma associação sem fins lucrativos que visa a estudar, criar e divulgar no Brasil o conhecimento nos campos das Humanidades, das Artes e da Filosofia. Como estudiosos dessas áreas, sentimos a carência de instituições que assumam a tarefa de educar nos valores básicos do ser humano e na grande cultura clássica e humanística. Esta é a lacuna que pretendemos suprir, recriando as bases para uma educação cultural de qualidade. Os gênios individuais e as grandes ideias desempenham um papel muito importante na formação da cultura de um povo, mas não são suficientes. Até encontrarem difusão e terem impacto a longo prazo, necessitam de um “substrato” cultural receptivo. Na Inglaterra, esse substrato foi criado por uma educação média de excelente qualidade, graças às grandes escolas secundárias. Nos outros países da Europa, isso se deu pela educação pública média e superior. Nos Estados Unidos, pelas Universidades. Ao mesmo tempo, foram necessárias diversas outras instituições que fornecessem infraestrutura adequada: bibliotecas, institutos de pesquisa e pós-graduação, conhecidas modernamente como os think tanks. Mas houve, sobretudo, um elemento intangível, que consistiu e consiste numa tradição de trabalho intelectual sério. O Brasil sofre de uma extrema carência desse pensamento humanista e isso prejudica não só o estudo de nossa própria cultura, mas também toda nossa vida privada e pública. Afinal, as disciplinas práticas, como a ética, o direito, a política e economia, estão baseadas inteiramente na visão que se tem de sociedade e de ser humano. O resultado é que hoje não há, no panorama brasileiro, nenhuma instituição que assuma a tarefa de educar nos valores básicos do ser humano e na grande cultura clássica ocidental, a espinha dorsal das humanidades. Ao mesmo tempo, sente-se que há uma grande demanda entre estudantes e profissionais por valores apoiados na experiência humana e por um conhecimento humanístico sólido.

É necessário ter presente que não se trata de um apego obstinado ao passado. As contribuições da modernidade são enormes e não se trata de enfatizar nenhum pensamento reducionista. Nesse sentido, é hora de superar clichês, como tradicionalismo x progressismo, conservadorismo x inovação, esquerda x direita. É necessário hoje um ponto de vista mais amplo, que leve em conta toda a tradição, mas não para prender-se a ela e sim para encarar os desafios que o futuro nos apresenta.