O cenário que se nos apresenta no Brasil atual é caótico sob vários aspectos: político, econômico, jurídico, religioso, filosófico… Mas nosso tempo não pode requisitar para si o título de pior tempo, embora muitos assim o vejam. O fato é que muitos costumes, valores e tradições parecem ruir diante de novidades que se apresentam a todo tempo. O fato de um período degringolar e desfazer-se já ocorreu centenas de vezes no passado e seguirá ocorrendo no futuro, como agora ocorre e isto não é necessariamente algo ruim. Muitas vezes o que está ruindo precisa cair para que surja algo novo.
O grande Império Romano, com seu exército extremamente disciplinado, com seu cerimonial pomposo, com as belezas da língua latina, com a fineza de sua arquitetura, com arguteza de seus filósofos e oradores, num dado momento deixou-se levar por novidades corriqueiras, permitiu que seus valores se corrompessem, favoreceu a adoção de práticas estranhas à sua clássica cultura e começou a ruir. Altivos, muitos romanos reputavam seu império como invencível e descansaram naquilo que imaginavam ser o império e não naquilo que de fato ele estava sendo: uma instituição obsoleta e carcomida em suas bases.
As mulheres e homens romanos se entregaram a todo tipo de prazeres torpes. A desordem sexual, o concubinato, as relações ilícitas se tornaram comuns, e assim, centenas de mulheres e homens que desejavam o prazer sexual sem a responsabilidade das novas vidas que dessas relações podiam ser geradas passaram às práticas abortivas que então se conheciam. A população começou a diminuir e com ela também o exército encolheu enquanto os povos bárbaros seguiam tendo muitos filhos, equipando seus exércitos e preservando sua cultura e costumes, muito menos interessantes e belos do que a cultura romana, é bem verdade, mas muito mais respeitados. Roma caiu e os bárbaros triunfaram.
O grande objetivo da História é “conhecer o passado para entender o presente e modificar o futuro”, mas nem sempre isso se efetiva na prática. Basta pensar na Europa que no fim da Antiguidade tornou-se cristã e hoje vira as costas para suas raízes. Veja-se o caso dos mais de mil e trezentos ataques a igrejas francesas nos últimos três meses ou a um cemitério judeu profanado com suásticas pichadas sobre suas lápides. Enquanto os europeus se fecham à vida com taxas de natalidade cada vez mais baixas, negam suas raízes históricas, ignoram o sofrimento dos judeus num passado recente e criam uma subcultura onde o que conta é o prazer, estamos assistindo a uma repetição da mesma degradação pela qual Roma passou e do mesmo modo que os bárbaros no passado, também hoje as ondas migratórias, sobretudo de refugiados muçulmanos promovem o mesmo ocupando espaços, levando sua cultura e sua religião para dentro de um ambiente que já se deixou corroer por ideologias variadas.
A islamização é apenas um sintoma da ruína da sociedade europeia que não percebe que se esse processo continuar, em breve as liberdades que tanto estimam podem ser substituídas por costumes e práticas estranhas à sua índole. O individualismo, o abandono do cristianismo a negação dos direitos da Igreja que edificou a sociedade ocidental, enfim, tudo pode parecer catastrófico, mas na realidade é justamente na ruína que reside o gérmen de renascimento dessa sociedade e isso já está ocorrendo através de tantas iniciativas no campo da cultura, da religião, do direito… O renascimento da cultura ocidental que agora agoniza virá por duas vias: Cristo e o acesso à alta cultura. Chesterton, iminente poeta inglês afirmava que “cada época é salva por um punhado de homens que não tiveram medo de não serem atuais”, justamente porque defendem valores que não passam. A verdade quando é conhecida atrai para si, portanto, sigamos o conselho dado por Cristo: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará!” E a Verdade não é tanto um conceito, mas sim uma Pessoa: o próprio Cristo. “Ego sum via, veritas et vita” (Jo 14,6).
L. Raphael Tonon é professor e gestor do Núcleo de Teologia do IFE Campinas.
Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição de 27 de fevereiro de 2018, Página A2 – Opinião.