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“Cool evil”: O mal bacana (por Bruce Frohnen)*

Filosofia | 03/02/2015 | | IFE CAMPINAS

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Evidentemente que Bruce Frohnen escreve sobretudo para americanos. Contudo, seu ensaio revela elementos que estão além da cultura americana, podendo ser encontrados na cultura européia dos dias de hoje e na nossa, brasileira. É o que ele chama de “cool evil”, algo como “mal bacana” ou “mal legal”, no sentido de o mal não ser tomado como mal, mas como algo bacana, interessante. Contudo, para o autor, esse “cool evil” dos dias de hoje só leva a degradação pública e privada. Abaixo, segue seu artigo traduzido.

***

“Cool evil”: O mal bacana

por Bruce Frohnen

Ouvi dizer que no mundo do wrestling profissional [N.T.: arte marcial popular nos EUA], os vilões populares são conhecidos como “calcanhares bacanas”. O wrestling profissional dificilmente encontra-se na fronteira da teoria moral ou das tendências da cultura popular. Mas a inclusão de caras maus como “bacanas/legais” em seu código moral violento é uma indicação, acredito, de quão longe chegamos na estrada que leva ao niilismo cultural. Cada vez mais os filmes e programas de televisão, sem mencionar os rappers e esportistas, parecem dispostos a lucrar com o “mau bacana”. Cada vez mais os americanos estão comprando a idéia de um niilismo pré-embalado, aparentemente revelando o sentimento de superioridade que se pode ganhar da ilusão de estar acima do bem e do mal.

Não quero dizer com isso que o vilão atraente é uma novidade. A literatura clássica está repleta de vilões que amamos ver em ação nos livros. Os atores dizem que o melhor papel em qualquer produção é o do violão, não o papel do herói adocicado. Também não quero dar a entender que os vilões, até nas décadas recentes, tem sido pouco atrativos, ou até mesmo relegados a papéis coadjuvantes. Os filmes das décadas de 60 e 70 estão cheios de anti-heróis, e os baby boomers [N.T.: geração do que nasceram na década de 50 e 60] procuravam esses filmes como cães selvagens.

Mas parece que as últimas décadas produziram uma proporção de vilões “bacanas” acima do padrão, que um número cada vez maior de filmes – e especialmente séries da TV a cabo – apresenta o mal implacável como normal e sexy, e que a tendência ao código de rua entre as pessoas famosas serviu para borrar os limites morais da grande audiência.

Quando  pediram a Ian Richardson que voltasse a fazer o papel do anti-Herói Francis Urquhart no drama cínico-policial inglês “House of Cards”, conta-se que ele recusou a proposta até chegar ao acordo de que o personagem seria assassinado. Richardson demonstrou suficiente senso moral para reconhecer que seu personagem, ainda que para ele fosse delicioso estar no seu papel, simplesmente fazia o mau parecer excessivamente atraente.  Isso se deve em parte por causa do modo como os outros personagens são caracterizados, mas nada disso é então novidade, antes é o antigo dito popular “o demônio é um homem sedutor”. A atratividade do mal também vem da crescente medida para a qual ele parece ser útil [1] na ficção contemporânea. Cada vez mais, os vilões não recebem o troco no final pelas suas más ações. A justiça poética nos roteiros, palcos e telas é agora vista como irrealista e até infantil. Em outros tempos, logicamente, isso era visto como absolutamente necessário para a preservação do senso moral da audiência, e as pessoas tinham de fato suficiente senso moral para reivindicar isso.

Infelizmente, esse senso moral parece ter morrido. Já não se percebe claramente o senso moral nas atuações de Kevin Spacey, que faz o papel do anti-herói na adaptação americana de “House of Cards” com uma satisfação malévola, e que fez carreira fazendo papéis de vilões inspiradores de alguma forma de admiração, sendo que os poucos heróis de sua carreira (como no filme “Pay it Forward” [N.R.: no Brasil, “A Corrente do Bem”]) são figuras simplórias.

Depois há a série “fantasia” “Game of Thrones”. Nesse carnaval de implacável degradação, adaptada da série igualmente repreensível de George R.R. Martin, o espectador é “tratado” com cenas de tortura, violência sexual e depravação agressiva que forma o núcleo de uma série centrada na obsessão por poder em um universo de estilo medieval.[2]

É fácil levantar uma série de causas para essa recente explosão do “mal bacana”. O declínio dos padrões morais na grande mídia, seguida da difusão da TV a cabo, associada à sua total falta de auto-regulação[3], e a competição para fazer chocar mais os espectadores para aumentar a audiência, fez da tortura coisa normal das noites de TV em casa (em programas como “Lost” e “24” [N.R.: no Brasil, “24 Horas”]) alguns anos atrás. Antes disso, a tendência entre os rappers de reproduzir o código de rua, tão bem parodiado por Chris Rock no filme “CB4”, foi amplamente difundida e por sua vez alimentou uma cultura de violência já infelizmente muito difundida nas nossas áreas urbanas. A violência rural, evidentemente, há muito é apresentada pela grande mídia, mas geralmente com a intenção clara de provocar repulsa pelo racismo e violência doméstica. Mesmo assim esses retratos perderam sua força depois que filmes ambientados em pequenas cidades (“Sons of Anarchy”, [N.R.: no Brasil, “Filhos da Anarquia”]), nos subúrbios (“Breaking Bad”, [N.R.: no Brasil, “Ruptura Total” ou “Breaking Bad: A Química do Mal”]) e mesmo no velho oeste (“Deadwood”) buscaram uma abordagem realista baseada em sangue jorrando por tudo para mostrar quão sofisticados se tornaram tanto produtores como espectadores.

Esse último desdobramento poderia ter sido previsto como uma extensão inevitável da desmoralização gradual do entretenimento. Nós passamos de “Leave it to Beaver” [da série “Veronica Mars: A Jovem Espiã”[4], com suas falsas imagens de felicidade suburbana, para comédias sexuais infantilóides como “Three’s Company” [N.R.: no Brasil, “Um é Pouco, Dois é Bom e Três é Demais”], com sua continuação previsível, “Three’s a Crowd”, uma sequência que teve pouca audiência sobre um casal em coabitação que compartilhava os aposentos com o pai da mulher. A moralidade sexual logo se tornou ultrapassada, mesmo com as críticas um tanto quanto moralistas que os grupos de pais e educadores dirigiram à violência veiculada tanto nas telas de cinema como na TV. É claro que agora o movimento do anti-herói no cinema tem sido um movimento de massas há décadas, embora talvez melhor resumido no herói de “Midnight Cowboy” [N.R.: no Brasil “Perdidos na noite”], um caipira mentecapto cujo objetivo de vida era se tornar um prostituto.

Libertinos sexuais sempre insistiram que sua forma de libertinagem traria paz e amor. Mas isso não ocorre; ao contrário, abre espaço para mais estrago em um mundo cada vez mais desordenado. A “liberação” sexual da onda [do momento] andava de mão dadas com a crescente marginalização, por parte dos meios de comunicação, de temas e figuras religiosos, assim como da moralidade. “M*A*S*H” pode ter retratado seu capelão militar como alguém ineficaz, mas o programa televisivo pelo menos reconhecia a sua existência – algo quase desconhecido dos dias de hoje.

Para onde tudo isso nos leva? Certamente não para além do bem e do mal. Antes, deixa muitas pessoas ao nosso redor enamoradas pelo mal. Isso não significa que qualquer um que veja “Breaking Bad” vá imediatamente considerar a vida de um traficante de drogas como uma forma legítima de pagar um bom tratamento médico.  Mas o “mal bacana” é uma parte ativa da degradação contínua do espaço público, que está longe de ser irrelevante para nossa vida privada e pessoal.

O moderno pensador político de Florença, Nicolau Maquiavel, foi reconhecido como o pregador do mal por ter defendido a necessidade de um príncipe que fizesse o trabalho sujo necessário para reunificar a Itália contra os bárbaros. É muito comum entre os entendidos em política de hoje dizerem que a má fama sobre Maquiavel é mera hipocrisia, já que todos na política agem como Maquiavel disse que agiriam, embora queiram parecer virtuosos. Não somente essa suposta “análise sofisticada” é factualmente incorreta – muitos homens de vida pública sacrificam seus gostos pessoais pelo bem comum e o fazem com a intenção de praticar e dar o exemplo da virtude –, mas é também perversa. O cinismo que diz “todos fazem isso” leva à auto-indulgência do vício. Nenhum filme, série de TV, ou qualquer outra forma de entretenimento pode criar uma cultura de vícios. Mas o flerte complacente e frequente com o mal pode, de fato, tornar o mal algo “bacana” na mente do grande público. O resultado será o agravamento da deterioração de uma moralidade pública já bastante debilitada.

Bruce Frohnen é contribuinte sênior no jornal on-line The Imaginative Conservative, é professor de Direito na Ohio Northern University College of Law e autor dos livros Virtue and the Promise of Conservatism: The Legacy of Burke and Tocqueville e The New Communitarians and The Crisis of Modern Liberalism e editor (junto com George Carey) do livro Community and Tradition: Conservative Perspectives on the American Experience.

Artigo publicado originalmente em 19 de setembro de 2014 no journal on-line The Imaginative Conservative, link:
http://www.theimaginativeconservative.org/2014/09/cool-evil.html.
Permissão da tradução e publicação em português neste site dada por Stephen M. Klugewicz, Ph.D., editor do journal. Para saber mais sobre este jornal, clique em The Imaginative Conservative.

Imagem extraída da publicação original, neste link.

Tradução: Marco Antonio.

Revisão e edição da tradução: João Toniolo.

 

NOTAS DA REVISÃO E EDIÇÃO DA TRADUÇÃO:

* As Notas do Tradutor estão indicadas com “N.T.” e as do revisor e editor da tradução como “N.R.” (ou numeradas).

[1] N.R.: A frase no original inglês aqui é “The attractiveness of evil also comes from the increasing extent to which it seems to ‘pay’ in contemporary fiction”. “Pay” tem o sentido de pagar, mas também de “ser útil”, entre outros. Parece que o autor joga com a multiplicidade de sentidos que esta palavra tem, pelo fato da cultura do “mal bacana” gerar dinheiro e ao mesmo tempo ser útil para o fim de ganhar dinheiro.

[2] N.R.: Como se na época medieval as coisas fossem somente assim como a série trata. A esse respeito, cf. os livros de Régine Pernoud, O Mito da Idade Média e Luzes Sobre a Idade Média.

[3] N.R.: Note que o autor fala em “auto-regulação”, que é diferente de regulação total da mídia pelo Estado.

[4] N.R.: “Leave it to Beaver” é 22º e último episódio da primeira temporada de “Veronica Mars: A Jovem Espiã”.

47 Ronins: Uma avalanche de virtudes que carecemos!, por Pablo González Blasco

Cinema | 02/02/2015 | | IFE CAMPINAS

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47 Ronins. Diretor: Carl Rinsch. Keanu Reeves, Hiroyuki Sanada, Min Tanaka, Kou Shibasaki, Tadanobu Asano, 119 min. (2013)

47ronins-capa     Reconheço que minha sensibilidade é insuficiente para apreciar a fascinante cultura oriental; escapam-me muitos dos detalhes, riquíssimos, que embrulham suas historias. Mesmo assim, aventurei-me com este filme, apesar de ter ouvido comentários não muito favoráveis. “Uma mistura de lenda épica com fantasias fora de lugar: bruxas, criaturas raras, excesso de imaginação. Um filme esquisito.”. Apertei o play e já nos primeiros fotogramas escutei o recado que me seduziu. “No Japão Feudal as províncias eram governadas por um Shogun, e a paz mantida pelos Samurais a qualquer custo. Se um Samurai fracassasse ou decepcionasse o seu senhor, sofria a pior vergonha em toda a comunidade japonesa: tornava-se um Ronin. Saber a história dos 47 Ronins significa saber a história de todo o Japão”.

Não pude menos de lembrar uma outra experiência que vivi há 10 anos, quando assisti O Último Samurai, e me emocionei com as lendas do Japão Feudal, e com a enxurrada de virtudes humanas que ornam a vida dos Samurais. Muitas vezes usei cenas desse filme nas minhas conferências, sempre com alto impacto. Recordo um aluno de medicina que se aproximou de mim no final de uma palestra, quando eu estava recolhendo o meu computador e me disse emocionado: “Professor, eu quero ser um Samurai”.

47ronins-2     Os 47 Ronins são Samurais degradados pelo Shogun porque o Samurai líder decepcionou com o seu comportamento, atacando um hóspede. Naturalmente o hóspede não era um inocente, mas um ser invejoso, mancomunado com uma bruxa malvada que arquitetou toda a farsa. Como não é possível provar a conspiração, e a queixa não é recurso contemplado no catálogo de atitudes de um Samurai, o líder aceita o castigo e o desterro. Juntam-se a ele todos os seus homens –Samurais genuínos- que decidem correr a mesma sorte do seu chefe.

A cena do desterro evocou na minha memória aquela outra onde se desterra um inocente que também está carregado de razão: El Cid. O filme entrava num clima que, também pela similitude com a Espanha medieval, me agradava. Relaxei e me dispus a saborear essa historia que as minhas lembranças atrelavam à Reconquista espanhola nas terras de Castela. E não poderia faltar até uma personagem que apresenta analogia com Dona Ximena –a filha do líder desterrado- e os amores impossíveis com um Keanu Reeves que sintoniza bem com o ambiente nipônico. “Eu te buscarei nos mil mundos possíveis, em todas as vidas”…..A voz de dona Ximena aproximando-se de Rodrigo de Vivar, o único homem em Castela capaz de humilhar um Rei e partilhar o cantil com um leproso, ecoava nas minhas lembranças. “Rodrigo, leve-me com você. Estando juntos serei feliz”. El Cid diz: “Não tenho onde te levar, vou para o desterro”. E Ximena –aquele olhar quase oriental da Sofia Loren envolvido na inesquecível trilha sonora, acrescenta: “Já que o meu homem não é um homem comum, o meu destino também não será comum”.

Estou convencido que cada filme tem o seu momento, o tempo certo para ser visto. Nesta ocasião o meu plano temporal estava definido por duas retas. Uma, a primeira, um vídeo que assisti e recomendo vivamente (vídeo abaixo). Trata-se de um comentário à sugestiva obra do Prof. Antonhy Esolen, do Providence College: “Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho” (Ten ways to Destroy the Imagination of your Child).

Os conselhos lá comentados são, naturalmente, um recurso para apontar as atitudes erradas e cada vez mais comuns, que pais e educadores empregam e que conduzem ao desfecho fatal: destroçar a imaginação da criança, fazer dele um produto meia boca, em série, que infelizmente contemplamos diariamente.

Lá pelo meio do vídeo, destacam-se dois “conselhos” que estão relacionados: difame o heroico e o patriótico, diminua todos os heróis, ensine os seus filhos a rir e a desacreditar das virtudes difíceis de conseguir (aquelas que naturalmente você mesmo não tem), ridicularize a excelência, ou melhor, democratize-a: todos são excelentes, todos são heróis, mesmo por fazer o café da manhã na hora. Há muitos outros conselhos nesse vídeo que são suculentos, sugestivos, e desafiantes: um verdadeiro gabarito para tirar a limpo os modos como se educam –quer dizer, se deformam- os jovens hoje. Por exemplo, as explicações prosaicas sobre os fenômenos transcendentes ou notáveis reduzindo-os com um sorriso e rebaixando-os com a frase chavão: “é somente isso, não esquente”. É claro, que não há nenhuma obrigação de concordar com o educador americano; podem se ignorar as advertências ou desprezá-las por parecerem exageradas. Mas tudo indica que desconhecer o tema que ele coloca acabará por levar até à via fácil que conduz à mediocridade.

47ronins-4     A segunda reta é por conta da enxurrada de virtudes que o filme destila. Virtudes das que carecemos no mundo de hoje. Lealdade, fidelidade, compromisso, cumprimento do dever, consciência de missão. Não se trata de ser pessimista; a virtude sempre foi um desafio a ser conquistado, um divisor de águas que separa as pessoas de acordo com a sua fibra moral, com a sua estatura como cidadão e ser humano. Mas vivemos momentos onde as atitudes virtuosas –que comprometem toda a existência- brilham pela ausência. Nunca se falou tanto de ética, em momentos onde o sentido do termo está desbotado. Ortega falava do clamor ético num mundo que não se rege por esses parâmetros, assemelhando-o à dor do membro fantasma. A dor do membro que foi amputado, e continua doendo: a dor da ausência.

47ronins-3     Sim, é verdade que os 47 Ronins convivem com um universo de monstros, bruxas, criaturas diabólicas e fantasiosas. Mas também são notáveis as prioridades e o valor da virtude: da palavra empenhada, da sinceridade de vida, da lealdade a toda prova, da integridade. Um Samurai feito Ronin encontra-se degradado no seu status, mas conserva as virtudes que viveu como Samurai. Conserva-as porque as incorporou, fazem parte do seu ser, não são um apêndice, ou uma habilidade comportamental treinada num curso de liderança feito no final de semana. São constitutivas. Por isso, assinam o compromisso com tinta e com sangue, sublinhando que vida e missão são inseparáveis. A missão é a razão de ser da própria vida. “Triste de quem é feliz, e vive porque a vida dura –escreve Fernando Pessoa- nada na alma lhe diz, mas que a lição de raiz: ter por vida a sepultura”. Quem não tem missão, vive como um morto vivo.

Hoje convivemos com a mentira –a nível institucional- que nega o óbvio; com homens públicos que se desdizem, com uma nutrida fauna do “deixa disso”, com argumentos de articulação que não convencem nem aos próprios autores dos mesmos. E com a deslealdade a todo e qualquer nível: basta cair na desgraça –quer dizer, que apareçam teus podres- que em poucos minutos se dá a fuga de todos os que andavam do teu lado (também repletos de podres, é claro, mas ainda ocultos) e negam te conhecer. É o salve-se quem puder dos medíocres. Integram-se nas artimanhas nefastas –aquilo que Balzac chamava a secreta maçonaria das paixões- e desparecem quando o bicho pega.

47ronins-1     Os 47 Ronins relatam, no dizer do narrador, a história do Japão. Até hoje se celebra a data em sua honra, e têm a admiração desse povo que devolve para a Cruz Vermelha Internacional 150 milhões de dólares que lhes emprestaram para reconstruir os desastres causado pelo Tsunami anos atrás, e que sobraram. Devolver o que sobra, depois de reerguer-se da tragédia. Está tudo dito.

Sim, tinha razão o meu aluno: eu quero também ser um Samurai, um Ronin que seja. Sinto a dor do membro fantasma, da ética que –trazida e levada- nos é amputada diariamente nas notícias que lemos no jornal, nas ponderações da mídia, no péssimo exemplo de quem está no comando e carece por completo das virtudes que constituem a integridade do ser humano. E ainda dão risada dos heróis –como a raposa da fábula, para quem as uvas estavam verdes, fora do seu alcance. E desaparecem quando a coisa fica difícil. Que história vamos contar para as gerações futuras? A opção cabe a cada um de nós.

 

Pablo González Blasco é médico (FMUSP, 1981) e Doutor em Medicina (FMUSP, 2002). Membro Fundador (São Paulo, 1992) e Diretor Científico da SOBRAMFA – Sociedade Brasileira de Medicina de Família, e Membro Internacional da Society of Teachers of Family Medicine (STFM). É autor dos livros “O Médico de Família, hoje” (SOBRAMFA, 1997), “Medicina de Família & Cinema” (Casa do Psicólogo, 2002) “Educação da Afetividade através do Cinema” (IEF-Instituto de Ensino e Fomento/SOBRAMFA, São Paulo, 2006) , ”Humanizando a Medicina: Uma Metodologia com o Cinema” (Sâo Camilo, 2011) e “Lições de Liderança no Cinema” (SOBRAMFA, 2013). Co-autor dos livros “Princípios de Medicina de Família” (SOBRAMFA, São Paulo, 2003) e Cinemeducation: a Comprehensive Guide to using film in medical education. (Radcliffe Publishing, Oxford, UK. 2005). 

Fontehttp://www.pablogonzalezblasco.com.br/2014/05/23/47-ronins-uma-avalanche-de-virtudes-que-carecemos/

Desmentidos pelo Tempo (por Flávio Quintela)

Opinião Pública | 30/01/2015 | | IFE CAMPINAS

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Muitas pessoas sofrem com um hábito difícil de se vencer, a procrastinação. Quem deixa para amanhã as obrigações de hoje está se apossando de um tempo que não lhe pertence, por assim dizer. A partir do momento em que assumimos responsabilidades em nossas micro-comunidades – a família, o lugar onde trabalhamos, a igreja que frequentamos, a instituição onde nos dispomos a contribuir – estamos doando parte de nosso tempo para cada uma das pessoas que conosco se relacionam, sempre em busca de um resultado que seja benéfico a todos os envolvidos.

A procrastinação também costuma ser muito comum na esfera governamental, tanto individualmente como numa forma mais coletiva, onde o chefe do executivo encabeça as responsabilidades, não podendo culpar ninguém abaixo de si por faltas ou falhas, já que a premissa de se presidir qualquer empreendimento é justamente ter a capacidade de gerenciar equipes e garantir que seus esforços estejam dentro das metas.

Os procrastinadores conseguem se dar bem por um tempo, enquanto for possível ludibriar seu “supervisor” imediato. Refiro-me aqui tanto ao supervisor no trabalho, que pode ser um gerente, diretor ou presidente, como ao supervisor na família, como um cônjuge que cobra do outro algo que havia sido prometido ou um pai que cobra o filho de sua lição de casa; mas também ao supervisor maior de todos os políticos, que é o povo. Ora, a procrastinação só pode acontecer dentro de um governo se for possível ludibriar e enganar o povo por algum tempo. E depois desse tempo há apenas duas possibilidades de acontecimento:

  1. O procrastinador resolve se mexer: faz suas “horas-extras”, deixa de dormir, corre o quanto for preciso, e dá um jeito de entregar o prometido; ou
  2. O procrastinador é desmascarado.

Estamos diante da segunda situação no tocante ao governo federal brasileiro. Num curto espaço de tempo, de pouco mais de uma década, conseguiram deixar de cumprir quase todas as responsabilidades que se espera de um governo minimamente competente. Os comportamentos irresponsáveis de Lula e de Dilma nos trouxeram à situação calamitosa de hoje: dívida pública galopante, balança comercial deficitária, Petrobrás em descrédito, escândalos de corrupção sem precedentes, achatamento da classe média, aumento da carga tributária, crise energética, descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, fuga em massa de investimentos externos, inflação alta e camuflada por congelamentos artificiais de alguns preços, aumento acentuado da máquina estatal, falta de investimentos em infraestrutura etc., e a lista poderia continuar.

Enquanto a situação de seu entorno é favorável, o procrastinador consegue ganhar tempo; mas quando as coisas pioram para todo mundo, seu relaxo e sua falta de responsabilidade saltam aos olhos. Os governos petistas aproveitaram-se de um momento único na história mundial, de crescimento econômico acentuado, e de um país que lhes foi entregue com boa parte das contas em dia, pronto para qualquer governo que estivesse disposto a fazer um trabalho apenas mediano – não era preciso o maior estadista da história para continuar o trabalho anterior, mas apenas um estadista. Quando os brasileiros optaram por um político inescrupuloso como Lula, e depois por uma incompetente desconhecida como Dilma, abriram mão de ter alguém qualificado para lidar com as necessidades que tínhamos.

O tempo, grande vilão dos procrastinadores, está agora cobrando seu preço. O país ainda pode piorar muito e, a julgar pelos feitos do primeiro governo de Dilma Rousseff, essa possibilidade está entre as mais prováveis. As reformas necessárias para levar o Brasil de volta à normalidade são completamente incompatíveis com o tipo de governo que o PT consegue fazer. Esperar desse partido algo tão diferente é como esperar colher limões de mangueiras, é algo que não vai acontecer.

O povo brasileiro tem sido o pior supervisor possível. Deixou de demitir quando era preciso, e agora não sabe o que fazer. Mais quatro anos dessa administração pautada pela incompetência trarão resultados cada vez piores para o país. Resta saber se até lá não estaremos completamente mesmerizados por esse faz-de-conta mentiroso, ou se restará algum sangue correndo em nossas veias para quebrarmos o ciclo vicioso que está afundando o Brasil.

Flavio Quintela é escritor, tradutor de obras sobre política, filosofia e história, e membro do IFE Campinas. É o autor do livro “Mentiram e muito para mim”. (flavio@quintelatranslations.com)

Artigo publicado no jornal Correio Popular em 28/01/2015, Página A2 – Opinião.

AGENDA 2015 – IFE

Agenda | 21/12/2014 | | IFE CAMPINAS

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Prezados leitores, segue nossa programação de atividades para o ano de 2015. Para mais detalhes, contatem-nos por aqui (http://ifecampinas.org.br/contato/) ou pela página do “Facebook” (https://www.facebook.com/ifecampinas).

FEVEREIRO
07.02 (9/11h30) – CiECO (Filosofia)
07.02 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
14.02 (9/11h30) – CiECO (Filosofia)
21.02 (9/11h30) – CiECO (Filosofia)
28.02 (9/12h) – CULTURA GERAL

MARÇO
07.03 (9/12h) – CULTURA GERAL
14.03 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
28.03 (9/12h) – CULTURA GERAL

ABRIL
11.04 (9/12h) – CULTURA GERAL
11.04 (14/18h) – DIÁLOGOS CCFT
18.04 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
25.04 (9/12h) – CULTURA GERAL

MAIO
16.05 (9/12h) – CULTURA GERAL
16.05 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
23.05 (14/18h) – SEMINÁRIO IFE
30.05 (9/12h) – CULTURA GERAL

JUNHO
13.06 (9/12h) – CULTURA GERAL
13.06 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
27.06 (9/12h) – CULTURA GERAL

AGOSTO
01º.08 (9/12h) – INTÉRPRETES DO BRASIL
15.08 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
22.08 (9/12h) – INTÉRPRETES DO BRASIL

SETEMBRO
12.09 (9/12h) – INTÉRPRETES DO BRASIL
12.09 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
19.09 (14/18h) – DIÁLOGOS CCFT
26.09 (9/12h) – INTÉRPRETES DO BRASIL

OUTUBRO
03.10 (9/12h) – INTÉRPRETES DO BRASIL
03.10 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
17.10 (14/18h) – SEMINÁRIO IFE

NOVEMBRO
07.11 (9/12h) – INTÉRPRETES DO BRASIL
07.11 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA
28.11 (14/18h) – DIÁLOGOS CCFT

DEZEMBRO
05.12 (15/18h) – SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA

Último post do ano: agradecimento, novidades e felicitações

Educação | 18/12/2014 | | IFE CAMPINAS

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Cena do filme “A Felicidade não se compra” (‘It's a wonderful life’)

Cena do filme “A Felicidade não se compra” (‘It’s a wonderful life’)

 

Caros leitores,

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a vocês que nos acompanharam neste ano em nossas diversas atividades, seja neste site, no Facebook, em nossos seminários em parceria com a Academia Campinense de Letras, no curso de extensão universitária na Unisal, em nossos artigos publicados no jornal Correio Popular, entre outras. Nosso muito obrigado! Sem vocês nosso trabalho não faria sentido, pois o IFE tem uma missão que não se centra em si mesmo, mas procura se expandir a toda a sociedade. Agradecemos também a todos os colaboradores que ajudam a fazer com que o IFE aconteça. Foi uma grande satisfação trabalhar este ano trazendo conhecimento e cultura.

Como sabem, o IFE tem um Ideário norteado por quatro princípios: 1) a dignidade humana, com a defesa e promoção dos direitos e deveres de cada indivíduo, sem discriminações de espécie alguma; 2) o respeito aos valores religiosos que fundaram as grandes civilizações ocidentais e orientais, bem como à mútua autonomia dos âmbitos religioso e político; 3) a afirmação da família como formadora primária e essencial da pessoa humana, escola da cidadania e célula da sociedade; 4) o ideal democrático, com o respeito essencial e intrínseco pela liberdade dos indivíduos e das organizações intermediárias.

Como é cada vez mais perceptível, nossa cultura vem sofrendo uma crise que atinge, em grande parte, esses princípios. Por isso, reafirmamos nosso compromisso com a defesa desses valores e ideais, por meio da realização de um constante trabalho intelectual e da busca da coerência entre a vida e o conhecimento.

Convidamos vocês a conhecerem melhor o nosso ideário (basta clicar aqui) e a continuarem a participar do IFE no próximo ano, nos ajudando, também, a divulgá-lo entre seus amigos, para que possamos chegar a mais pessoas. Quanto mais conhecimento compartilhado, melhor a comunicação e mais benefício à vida social.

Para ano que vem, anunciamos as seguintes novidades: 

a) Lançaremos um curso de introdução aos clássicos da interpretação do Brasil, com autores como José Bonifácio de Andrada e Silva, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e outros. Em breve divulgaremos mais detalhes.

b) Realizaremos dois Seminários IFE/ACL, nos moldes dos já ocorridos este ano, um em cada semestre de 2015, com temática desta vez em política. Anunciaremos as datas e os palestrantes convidados oportunamente, quando tivermos as informações a esse respeito confirmadas.

c) Nosso site ganhará uma nova seção, de Cinema, que contará com textos de crítica sobre diversos gêneros. Também passará a contar com publicações do novo site da revista Dicta&Contradicta (a revista cultural do IFE). Além disso, temos previsão de uma maior frequência de publicações.

Por fim, gostaríamos de recomendar um belíssimo filme a vocês e família, especialmente para esta época do ano. Trata-se do clássico filme natalino A Felicidade não se Compra [It’s a Wonderful Life], de Frank Capra (da imagem acima). Que ele os inspire a entrar no verdadeiro espírito do Natal!

Desejamos um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo!

Mais uma vez, nosso muito obrigado!

P.S.: Retomaremos as atividades do site e do Facebook na última semana de janeiro. Até lá vocês continuam a acompanhar, contudo, as publicações dos artigos publicados no jornal Correio Popular.