Arquivo da tag: Ano Novo

image_pdfimage_print

Tem valor os nossos votos?

Direito| Opinião Pública | 03/01/2018 | | IFE CAMPINAS

image_pdfimage_print

Nas mensagens de fim de ano é comum desejarmos votos de paz, saúde, alegria, amor, sucesso. Esses desejos podem ser mais ou menos conscientes, mas a verdade é que ninguém está muito preocupado com isso em meio à euforia do réveillon. Passada a festa, no entanto, se queremos concretizar esses bens em nossas vidas, sem que se percam apenas no efeito emotivo que provocam, nos vemos diante desse desafio: o que de fato cada uma dessas palavras significam? Que paz pretendo buscar, que alegria desejo, que amor anseio, qual sucesso devo alcançar? Por outro lado, essas questões nos remetem ao campo dos valores, pois são eles que nos indicam o caminho a seguir para alcançar os bens que desejamos.

Encontrar essas respostas nunca é um exercício meramente individual, pois não é possível alcançar esses bens sozinho. Mesmo o efeito emocional que essas palavras provocam pressupõe um mínimo entendimento entre os interlocutores sobre os bens verdadeiros que elas designam. E na medida em que avançamos na busca da realização desses mesmos bens, a exigência de compreensão também se torna maior. Aqui transparece, justamente, uma das maiores fragilidades da sociedade plural em que vivemos, onde é cada vez mais raro encontrar esses consensos.

Em um contexto em que já não cultivamos valores comuns, torna-se difícil construir um caminho de comunhão, pois já não reconhecemos o outro, não compreendemos o seu mundo, suas escolhas e atitudes. Por isso, o pluralismo tão festejado em nossas democracias mostra, na verdade, uma face cruel, pois, levado às últimas consequências, dissolve os vínculos reais que dão alicerce às nossas comunidades.

De fato, se “os valores são subjetivos”, se “todos os valores são iguais”, se “não há certo e errado”, então cada indivíduo se converte na instância máxima de seu próprio sistema, onde encontrará por si mesmo as respostas a que nos referimos, protegido de qualquer enfrentamento e isolado em seu mundo de referências pessoais. Se já não há uma verdade a ser buscada, com humildade e esforço comum, então resta-nos conviver sob o critério da tolerância, imposto por um relativismo que pretende igualar desde cima todas as “verdades”, sem qualquer oportunidade de diálogo.

Em outras palavras, sem a construção de um espaço comum de convivência, assentado sobre uma base de valores firmes e reconhecidos como verdadeiros, palavras como paz, alegria, justiça, amor ficam reduzidas a meras exortações, sem uma densidade real que possa guiar nossas condutas no dia-a-dia, restando-nos suportar uns aos outros, como estranhos obrigados a dividir o mesmo teto.

Portanto, se pretendemos de fato que os votos de Ano Novo não se percam no vazio das boas intenções e das emoções fugazes, precisamos ter a coragem de resistir à chamada “ditadura do relativismo” e reafirmar o compromisso com determinados valores, abrindo espaço à sua realização comum na esfera pública. Pluralidade e tolerância são maus necessários, mas estão muito longe de se constituírem num ideal de convivência.

Acredito que a nossa maior esperança reside em um paradoxo, pois o anseio por um bem é tanto maior quanto menos o possuímos. Ninguém conhece mais o valor da paz, do que aqueles que estão imersos na guerra. Aprendemos muito mais sobre o sucesso, quando experimentamos o fracasso. Zelamos mais por nossa saúde, quando estamos doentes. Diante das enormidades que temos presenciado em nosso país nos últimos tempos, em grande parte fruto da dissolução dos valores que sempre nos guiaram, ao menos podemos esperar que a carência dos bens que tanto desejamos nas saudações de Ano Novo se converterá, pouco a pouco, em um empenho sério e determinado, sem espaço para as velhas desculpas e comodismos, sem chance para as conhecidas mancomunações. Nossos votos é que o despertar dessa consciência não tarde demais.

João Marcelo Sarkis, analista jurídico, gestor do núcleo de Direito do IFE Campinas (joaosarkis@gmail.com)

Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição 03/01/2018, Página A-2, Opinião.

Caro leitor, muito obrigado!

Opinião Pública | 31/12/2014 | | IFE CAMPINAS

image_pdfimage_print

Às vezes, tenho a impressão de que festa com data marcada, como a da virada de ano, começa e não vira nada. Quem sabe vem daí a razão do provérbio popular, segundo o qual o melhor da festa é esperar por ela. De fato, a véspera deixa a imaginação fora de si. Depois, surge a dura realidade e que fica sempre aquém do estratosférico horizonte criado pela imaginação alada. Para o mundo imaterial dos sonhos, vale a máxima do mundo mais aqui embaixo da gulodice: os olhos são maiores que a barriga.

Mais um ano se passou. Pensamos e não fizemos. Fizemos sem pensar. Pensamos demais e fizemos de menos. Ou, ainda, nem pensamos e nem fizemos. Enfim, cada um que se curve e reflita sobre a vida que levou no ano passado. E uma boa forma de começar nosso exame pode ser, simplesmente, agradecer. Sim, um espírito de gratidão é capaz de dar outro sentido à nossa vida.

A gratidão, esse sentimento puro e desinteressado, faz com que o homem converta-se a si mesmo em devedor daquele de quem se recebe um dom. É uma intensificação da virtude da justiça, porque busca afirmar ao outro pagando-lhe amorosamente o devido a ele. Haver recebido põe o homem frente à justa obrigação de devolver ao menos uma parte do dom recebido. Muitas vezes este dever se vive, mais radicalmente, como ato prazeroso e espontâneo de agradecimento.

Nota-se, assim, que a gratidão, no mundo de nossa existência, tem uma dimensão social, ética e estética. Sob as mais variadas formas, ponto que deixo ao exclusivo gosto de cada um. Existem agradecimentos polidos (“Fico-lhe obrigado por tanta gentileza”) e não polidos (“Valeu!”). Agradecimentos masculinos (“Obrigado!”), femininos (“Obrigada!”) e politicamente corretos (“Obrigadx!”). Agradecimentos elegantes (“Estou ternamente agradecido!”) e comuns (“Agradeço a você!”). Agradecimentos antigos (“É alta a mercê que me fazes!”), modernos (“Obrigado!”), pós-modernos (“Obrigado eu!” e, na forma meio descortês, “Obrigado você!”) e virtuais (“#‎obrigadooogalera!”). Agradecimentos curtos (“Grato!”) e longos (“Muitíssimo obrigado!”).

Por falar em forma, para além de um certo formalismo vazio, bem ao gosto kantiano, que o cotidiano tende a arremessá-las, todas essas expressões, à primeira vista, tão inofensivas e pueris, incidem, originariamente, sobre aquelas importantes dimensões de nossa existência e, muitas vezes, mostram-se autênticas mensagens cifradas, por vezes infinitamente sutis, surpreendentes e sábias, como sempre nos ensinaram a prosa, a poesia, a filosofia, mas, sobretudo, a linguagem, por meio da etimologia e da semântica.

Sob esse ângulo, o dinamismo da linguagem pode minar o sentido mais profundo do “obrigado” que, como outras expressões do cotidiano, é depositário da destilação das grandes experiências esquecidas. E se quisermos resgatar aquele sentido que elas encerram, devemos voltar-nos, criticamente, para esse depósito. Sob certa forma, é uma espécie do “eterno retorno” de Nietzsche, nem que seja ao dicionário, responsável por detectar e registrar tais sentidos.

Então, deixo por aqui meus agradecimentos a todos que contribuíram para minhas conquistas pessoais em 2014, mas, principalmente, para os leitores cordatos que interagiram comigo depois de cada artigo publicado. Cada qual, à sua maneira, sempre me ensinou um pormenor virtuoso a ser incorporado no baú das minhas ideias. Agradecimentos polidos, não polidos, masculinos, femininos, politicamente corretos, elegantes, comuns, antigos, modernos, pós-modernos, virtuais, curtos e longos e outros mais.

Este singelo agradecimento, como epílogo de 2014, serve, também, como prólogo de 2015, dessa vez, na expectativa de realização de mais uma “contribuição demográfica” à humanidade. Sempre em companhia dos livros, que são meu último reduto em busca de uma vida ainda não vivida: tal como os mendigos de Oxford, sempre bêbados (no meu caso, não necessariamente) e agarrados aos opúsculos.

Acabo por aqui, porque estou percebendo que o agradecimento está ficando muito extenso, a ponto de pretender conquistar a atenção de uma leitura maior que uma xícara de café que, se for da Nespresso, deveria ser ingerido às colheradas. Tal como uma sopa e para o desespero dos baristas mais ortodoxos. Por fim, lembro ao leitor que o colunista merece umas férias e a coluna regressa apenas em fevereiro.

André Gonçalves Fernandes é juiz de direito, doutorando em Filosofia e História da Educação, pesquisador, professor, coordenador do IFE Campinas e membro da Academia Campinense de Letras (fernandes.agf@hotmail.com).

Artigo publicado no jornal Correio Popular, dia 31.12.2014, Página-A2, Opinião.

Último post do ano: agradecimento, novidades e felicitações

Educação | 18/12/2014 | | IFE CAMPINAS

image_pdfimage_print
Cena do filme “A Felicidade não se compra” (‘It's a wonderful life’)

Cena do filme “A Felicidade não se compra” (‘It’s a wonderful life’)

 

Caros leitores,

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a vocês que nos acompanharam neste ano em nossas diversas atividades, seja neste site, no Facebook, em nossos seminários em parceria com a Academia Campinense de Letras, no curso de extensão universitária na Unisal, em nossos artigos publicados no jornal Correio Popular, entre outras. Nosso muito obrigado! Sem vocês nosso trabalho não faria sentido, pois o IFE tem uma missão que não se centra em si mesmo, mas procura se expandir a toda a sociedade. Agradecemos também a todos os colaboradores que ajudam a fazer com que o IFE aconteça. Foi uma grande satisfação trabalhar este ano trazendo conhecimento e cultura.

Como sabem, o IFE tem um Ideário norteado por quatro princípios: 1) a dignidade humana, com a defesa e promoção dos direitos e deveres de cada indivíduo, sem discriminações de espécie alguma; 2) o respeito aos valores religiosos que fundaram as grandes civilizações ocidentais e orientais, bem como à mútua autonomia dos âmbitos religioso e político; 3) a afirmação da família como formadora primária e essencial da pessoa humana, escola da cidadania e célula da sociedade; 4) o ideal democrático, com o respeito essencial e intrínseco pela liberdade dos indivíduos e das organizações intermediárias.

Como é cada vez mais perceptível, nossa cultura vem sofrendo uma crise que atinge, em grande parte, esses princípios. Por isso, reafirmamos nosso compromisso com a defesa desses valores e ideais, por meio da realização de um constante trabalho intelectual e da busca da coerência entre a vida e o conhecimento.

Convidamos vocês a conhecerem melhor o nosso ideário (basta clicar aqui) e a continuarem a participar do IFE no próximo ano, nos ajudando, também, a divulgá-lo entre seus amigos, para que possamos chegar a mais pessoas. Quanto mais conhecimento compartilhado, melhor a comunicação e mais benefício à vida social.

Para ano que vem, anunciamos as seguintes novidades: 

a) Lançaremos um curso de introdução aos clássicos da interpretação do Brasil, com autores como José Bonifácio de Andrada e Silva, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e outros. Em breve divulgaremos mais detalhes.

b) Realizaremos dois Seminários IFE/ACL, nos moldes dos já ocorridos este ano, um em cada semestre de 2015, com temática desta vez em política. Anunciaremos as datas e os palestrantes convidados oportunamente, quando tivermos as informações a esse respeito confirmadas.

c) Nosso site ganhará uma nova seção, de Cinema, que contará com textos de crítica sobre diversos gêneros. Também passará a contar com publicações do novo site da revista Dicta&Contradicta (a revista cultural do IFE). Além disso, temos previsão de uma maior frequência de publicações.

Por fim, gostaríamos de recomendar um belíssimo filme a vocês e família, especialmente para esta época do ano. Trata-se do clássico filme natalino A Felicidade não se Compra [It’s a Wonderful Life], de Frank Capra (da imagem acima). Que ele os inspire a entrar no verdadeiro espírito do Natal!

Desejamos um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo!

Mais uma vez, nosso muito obrigado!

P.S.: Retomaremos as atividades do site e do Facebook na última semana de janeiro. Até lá vocês continuam a acompanhar, contudo, as publicações dos artigos publicados no jornal Correio Popular.