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A lição de uma trégua

Opinião Pública | 16/01/2019 | | IFE CAMPINAS

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Eu deveria escrever um artigo de opinião, tomar posição diante de assuntos polêmicos que estão na pauta nacional. Ocupar o espaço, diriam, para uma militância necessária e urgente. É tempo de empunhar a espada, elevar gritos de ordem, exercer a cidadania. Mas, hoje, gostaria de mergulhar um pouco mais profundo, longe da confusão de narrativas que invade diariamente o nosso noticiário. Estou farto de discursos de opiniões convictas e suspeito que se algum discernimento não nos socorrer, de nada valerá todo esse esforço de convencimento.

Se ainda fosse dezembro, eu traria comigo a esperança de uma “Trégua de Natal”, como naquele histórico episódio ocorrido na véspera do Natal de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, quando os soldados ingleses e alemães, tomados pelo espírito natalino, depuseram as armas. Conta-se que os ingleses começaram a cantar canções natalinas e, imediatamente, os alemães se uniram ao coral. Com a promessa recíproca de cessar fogo, aos poucos os soldados foram deixando as trincheiras para trocar presentes, bebidas, chocolate, cigarros, chegando até mesmo a jogar futebol. Estima-se que durante os dias de trégua cerca de 100 mil soldados deixaram de lutar.

Com esta trégua, não quero fazer coro às ideologias pacifistas. É verdade que, às vezes, a guerra é que garante a paz e o sacrifício da vida, a própria vida. Mas este episódio magnífico faz pensar que mesmo uma guerra justa e legítima jamais pode abandonar aqueles limites que tocam a nossa própria humanidade, sob pena de perder todo o seu sentido. Não devemos esquecer, como diz Chesterton, que “o verdadeiro soldado luta não porque odeia o que está à sua frente, mas porque ele ama o que está atrás”, isto é, o sentido da sua luta não é a destruição do inimigo, mas a preservação e o sustento do que ama. Por isso, a necessidade do combate contra o seu semelhante pesa-lhe sobre os ombros como remédio amargo, que aceita com responsabilidade, estritamente por amor ao bem e à verdade, jamais pelo ódio, pela vaidade de vencer ou pela cobiça de conquistar.

Penso que esta é uma lição importante para a atual momento político brasileiro, em que temos visto um acirramento do debate político-ideológico que, embora saudável para a nossa democracia, também deve se pautar por estes mesmos princípios, sob pena de a busca pelo bem comum, finalidade precípua da verdadeira política, degenerar numa luta cega pelo poder. Infelizmente é o que acontece quando o exercício da política é dominado pera mera militância ideológica.

As ideologias tendem a produzir fanáticos que, seduzidos por narrativas prontas e simplificadas da realidade, nada mais fazem que bradar os mesmos lemas e bandeiras, como cães adestrados, sem espaço para a reflexão racional e o livre debate. Absorvidos pela narrativa do “partido” e convencidos da superioridade moral dos seus membros, passam a considerar qualquer um que pense diferente um inimigo a ser combatido, entrando em um perigoso jogo de “nós contra eles”. Sua grande tarefa não é enfrentar os problemas concretos que a realidade apresenta, em prol do bem comum, mas simplesmente implantar uma agenda pronta e destruir tudo o que a contrarie, custe o que custar.

Esse modo de pensar e agir é uma real ameaça à democracia e combatê-lo é um dever, mas devemos resistir ao impulso de utilizar os mesmos meios, aceitando os pressupostos de uma guerra inescrupulosa e irracional. No atual contexto brasileiro, fica o convite de não nos esquecermos da lição daquela “trégua de natal”, para impedir que nossas convicções políticas extrapolem os seus limites, justificando brigas em famílias, rompimento de amizades, disseminação de mentiras e fake news, destruição de reputações e atos ainda piores.

Definitivamente, os fins não justificam os meios e uma luta política que não se fundamente na ética, na honestidade, no respeito ao próximo e à coisa pública, no debate livre e racional de ideias, perde completamente o seu sentido. Que o motor da nossa cidadania não seja o fanatismo das ideologias, o ódio pelo outro ou a cobiça pelo poder, mas a busca pelo bem comum, o amor ao próximo, à pátria e aos valores que nos sustentam.

João Marcelo Sarkis é analista jurídico e gestor do núcleo de Direito do IFE Campinas.
E-mail: joaosarkis@gmail.com.

Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição de 16 de Janeiro de 2018, Página A2 – Opinião.

Svetlana Alexiévich: “A Guerra não tem rosto de Mulher” – por Pablo González Blasco

Literatura | 16/03/2017 | | IFE BRASIL

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Svetlana Alexiévich: “A Guerra não tem rotos de Mulher”. Companhia das Letras. São Paulo. (2016). 390 págs.

A guerra não tem rosto de mulherA partir do momento em que esta escritora recebeu o prêmio Nobel em 2015 -ela diz ser uma jornalista que transcreve a História nas vozes daqueles que nunca tiveram protagonismo-, fiquei atento ao lançamento dos seus livros, e comprei alguns deles na primeira oportunidade. Comecei a leitura por este, espicaçado pela originalidade do tema: mulheres russas na segunda guerra mundial. Uma guerra que não era a praia delas ou que, de um modo ou outro, eram episódios que tinham sido silenciados. “Nos roubaram a Vitória. Não a compartilharam conosco. Na fronte os homens nos tinham dado um trato formidável, nos protegiam. Mas na vida normal tudo isso caiu no esquecimento”. O que não deixa de ser curioso, porque todas elas tinham sido formadas no amor à pátria, de maneira incondicional: “Sempre tínhamos estado combatendo ou nos preparando para a guerra. Nunca vivemos de outra maneira, deve ser que não sabemos como viver sem isso. Na escola ensinavam-nos a amar a morte”. Um patriotismo que se mistura com a mística da alma russa que rende, por exemplo, este testemunho paradoxal e surpreendente: “Minha mãe era uma camponesa sem estudos, acreditava em Deus. Passou toda a guerra rezando-lhe a Deus, de joelhos diante de um ícone: Salva o povo, Salva a Stalin, salva o partido comunista desse monstro que é Hitler”.

Svetlana é uma escritora que dá voz ao povo. Esta obra -parece-me que as outras também- está composta com os testemunhos, magnificamente alinhavados, de multidão de pessoas; neste caso mulheres, que participaram da Segunda grande Guerra. Uma obra polifónica -como reconheceu o comitê do Nobel- fruto de um trabalho de décadas, uma investigação arqueológica, como se comentou na nossa tertúlia literária mensal.

Escritora ou jornalista, tanto faz, mais se assemelha a uma diretora de orquestra que permite a sinfonia de um relato incrível, onde todos os instrumentos tem entrada, compassos de espera, e acordes impactantes. Basta ver, por exemplo, a metodologia que utiliza na coleta de informações: “Passo longas jornadas numa casa ou num apartamento. Tomamos chá, provamos novas blusas, falamos de cortes de cabelo e receitas de cozinha. Olhamos fotos de netos. E então, depois de um tempo, surge o esperado momento onde a pessoa se volta para o seu interior. Deixa de recordar a guerra para lembrar a juventude, um fragmento de vida. É preciso agarrar esse momento. ‘Fui à fronte tão jovem que durante a guerra cresci um pouco’ (…) Os álbuns de fotografias, são como um diário íntimo. Normalmente os diários falam de amores, aqui o tema era a morte (…). As duas tínhamos tomado chá na sua cozinha. As duas chorando”. Quando leio isto, lembro-me do que se define como pesquisa qualitativa, construída através de entrevistas, montando um sujeito coletivo, e onde, sem nenhum demérito se reconhece que o pesquisador se envolve na própria pesquisa. O que não lhe resta nada de rigor científico; é como um mergulho fenomenológico. É a história através das vozes de testemunhas humildes e participantes simples, anônimos. “Sim, isso é o que eu quero transformar em literatura. Não escrevo sobre a guerra, mas sobre o ser humano. Não escrevo a história da guerra, mas a história dos sentimentos humanos. Sou historiadora da alma. A pessoa concreta, discernir o ser humano inteiro. A vibração de eternidade. O que há nele de imutável. Cada um percebe a vida através do seu lugar no mundo ou do ofício em que participa. Somos gente de caminho e de conversas”.

Penso que dificilmente alguém que não fosse mulher, e com muita sensibilidade, teria conseguido semelhantes revelações dando voz a essa polifonia feminina. Não conseguiria captar os relatos em registro feminino. Se lhe escapariam os detalhes. Além de que buscaria uma objetividade que não existe. Esta escritora-jornalista funciona como um líquido revelador dos fotogramas impresso na alma das protagonistas. E o resultado é uma avalanche de sentimentos, sensações, sofrimentos, alegrias e detalhes tremendamente femininos. Os exemplos são múltiplos, variadíssimos, até encantadores no meio da tragédia.

“Quando tínhamos um tempo de descanso, começávamos a bordar alguma coisa. Uns lenços. Nos tinham dado umas meias e polainas que convertíamos em lenços e cachecóis. Apetecia-nos fazer qualquer tarefa feminina, sentíamos falta. Qualquer desculpa servia para voltar ao nosso estado natural. E a saudade de casa, e a família.  Lembro de uma moça que regressou de uma licença, tinha estado na casa dela. Ela cheirava… a casa! Fazíamos fila para cheirá-la. (…). Se renuncias a ser mulher não sobrevives na guerra. Nunca invejei os homens. Nem durante a guerra. Sempre me alegrei de ser mulher. Há quem fale sobre a beleza das armas….Para mim nunca foram belas, sou incapaz de entender o que um  homem admira numa pistola. Eu sou uma mulher (…). Meu marido me propôs matrimônio em Berlim. A guerra tinha acabado. Senti vontade de chorar, de dar-lhe um tapa. Casamento? Nesse momento? Entre tijolos queimados e fumaça? Olha como estou. Faz-me primeiro sentir-me mulher, dá-me flores, diz-me coisas bonitas. Preciso disso! (…). De uma mochila saiu um rato, e todas demos um pulo, e algumas até gritaram. O capitão não acreditava: todas vocês têm medalhas e têm medo de um rato!”

A franco atiradora, a operadora de tanques, que se imaginam no papel de Joana d’Arc. Mulheres que se misturam com sangue e lodo e não perdem o estilo e a feminilidade. “O que levei à guerra quando me alistei? Bombons. Uma mala cheia de bombons. Gastei todo o dinheiro da minha indenização em bombons. Sabia que na guerra não precisaria de dinheiro. E pedi para me enviarem ao mesmo destino que a minha amiga (..). Tínhamos acabado o exercício de tiro e voltávamos à pé. Recolhi umas violetas, um buque pequeno, e o amarrei na minha baioneta. O comandante disse: um soldado é um soldado não uma menina que recolhe flores. Um homem não o podia compreender (…).  As mulheres sempre mencionam a beleza: “estava tão bela no caixão…parecia uma noiva”. Tinham que me entregar uma medalha e minha camisa militar estava velha, fiz um colarinho branco com gaze…. Deram-me dois ovos e eu os utilizei para limpar as botas. Sim, tinha fome, mas ganhou a mulher: queria estar bonita”.

E revelações fascinantes que um repórter homem nunca conseguiria obter. “O que é o mais espantoso na guerra? A morte? Não, para mim o mais terrível era ter de levar calções de homem. Um horror. Algo ridículo, quando estás te preparando para morrer pela Pátria. Somente muito depois, entrando na Polônia, nos deram roupa interior feminina…, Mas, estás chorando? Por quê?”. Confesso que neste momento, entendi de modo contundente e definitivo algo que os homens dificilmente compreendemos: as grifes e os preços do lingerie feminino. Um universo aparte.

E também pensei se, após ler este livro, as ideias da ideologia de gênero, nos seus espasmos de uniformidade e de opção de escolha, conseguiriam subsistir: parece-me que não restaria pedra sobre pedra. “Como ser um homem? Impossível. Nossos pensamentos são uma coisa, mas a natureza é completamente diferente. Começou um bombardeio, os homens correram para se esconder. Mas nós não escutávamos as bombas, corremos para o rio, e entramos na água. Ficamos lá até sentir-nos limpas (…)”. E uma das entrevistadas fecha a questão com a pergunta que o seu neto lhe faz vez quando vê as fotografias: Vovó, antes, na guerra, você era um rapaz?

O horror da guerra plasmado nestas páginas, encontra-se temperado por essa qualidade tão feminina que é o cuidar. Os testemunhos das que exerciam funções de enfermeiras ou de médicas, vem presidido pela ternura. “O que é a felicidade no combate? É encontrar entre os que caíram alguém com vida! (…). Perdi o dom de chorar, esse dom tão de mulheres. Saltavam dos tanques em chamas, os corpos ardendo. Tinham os braços ou pernas rotas. Me pediam: Se morro, escreva à minha mãe, escreva à minha mulher (…). Minha guerra cheira a três sustâncias: sangue, clorofórmio e iodo! No final da jornada tínhamos sangue no cabelo, empapava os aventais, as máscaras. Chegava no corpo. Negra, viscosa, misturada com urina, com excrementos, com tudo o que há dentro de um ser vivo. (…). Na guerra não há cheiros de mulheres. Todos os odores são masculinos. A guerra cheira a homem!”

A descrição da guerra, duríssima, cruel, mas em registro feminino. Algo que dá vida e deixa de ser um filme de ação, como habitualmente nos descrevem no cinema, para ser um conjunto de detalhes entranháveis no meio da pior das tragédias. “Na guerra tudo é em branco e negro. Somente o sangue é vermelho(…). Estava feliz porque não era capaz de odiar.” Justamente essa feminilidade invade capilarmente o cenário, e transforma os homens. Assim o reconhecem os soldados: “Coincidi com muitas moças combatentes, mas não as víamos como mulheres. Eram nossas amigas, as que nos tiravam dos campos de batalha. Nos salvavam, curavam nossas feridas. A mim me salvaram a vida em duas ocasiões. As chamávamos irmãs”. E elas sabem do seu poder de fogo para transformar os homens, mesmo em circunstancias adversas: “Quando os homens viam uma mulher em primeira linha mudavam por completo. A voz de uma mulher lhes transformava. Uma vez comecei a cantar em voz baixa. Pensava que todos dormiam, mas de manhã o comandante me disse: não estávamos dormindo, tínhamos tanta saudade da uma voz de mulher…! ”. Lembrei de Ortega, no seu inesquecível ensaio sobre o amor, e de como as mulheres mudam o ambiente e os homens, igual que o clima muda e formata o vegetal, com influência atmosférica.

E o amor que se veste de sangue na guerra, mas conserva a tonalidade romântica feminina, por mais cruel que sejam as circunstâncias. Diz uma das muitas viúvas:  “eu já sou velha, mas a ele o vejo jovem. Igual que quando nos despedimos. Se o vejo em sonhos também o vejo jovem.  Às vezes fico na frente da sua fotografia e lhe mostro os seus cinco netos, que ele nunca conheceu (…). Quem tenha estado na guerra, sabe o que significa separar-se, nem que seja um só dia”.

E talvez é esse modo entranhável de ver a vida com perspectiva feminina, o que nos abre o caminho para o perdão. “Na sala do hospital havia dois feridos. Um alemão e um soldado nosso, queimado. Fui cuidar do nosso soldado e me disse: eu estou bem, mas este está sofrendo. -É um nazista, disse eu. Sim, mas eu estou bem e ele sofre. Não eram inimigos: eram pessoas feridas no mesmo cômodo. Surgia uma relação humana entre eles (…). De madrugada se formavam filas de crianças alemãs. Eu não podia olhar com indiferença aquelas crianças famintas. Alimentávamos eles, curávamos-lhes. Um dia reparei que estava acariciando um deles. Eu, logo eu, estava acariciando uma criança alemã. Secou-se minha boca, acostumei-me, e eles também se acostumaram”.

A guerra é sempre uma decisão de cima, que acaba soltando o ódio e as paixões irracionais, como as torcidas uniformizadas que se animalizam. Torna-se necessário resgatar o ser humano que temos todos dentro, capaz de atrocidades, mas também de arrependimento e de perdão. “Os dois estavam queimados, negros. Arrastava a nosso ferido e pensava: volto a buscar o alemão ou não?  Compreendi que se lhe deixava morreria sangrando. Regressei a buscá-lo. Arrastei os dois. Foi em Stalingrado, o combate mais terrível. Minha querida: é impossível ter um coração para o ódio e outro para o amor. O ser humano tem um só coração, e eu sempre pensava em como salvar o meu”.

Um livro impressionante, de alto impacto. Uma experiência que transforma o leitor: muitas das leitoras da nossa tertúlia literária tiveram de interromper por dias ou semanas a leitura do livro para recuperar o fôlego… da alma. E, sem dúvida, transformou a própria escritora como ela confessa abertamente: “Não vejo o final deste caminho. O mal parece infinito. Já não posso percebê-lo apenas como um fato histórico. Quem poderá me responder? Os tempos mudam, mas e os humanos? As repetições fazem me pensar na torpeza da vida. Elas contavam tudo isto como soldados. Também como mulheres”. Um livro necessário que nos faz pensar na irracionalidade da guerra. Quando acabamos não somos mais os mesmos, acontece-nos como no final de um episódio bélico: “Quando acabava o ataque era melhor não se olhar na cara. As caras são distintas, diferentes das habituais. ” Uma leitura imprescindível. Para as mulheres, que terão orgulho de comprovar como a substância da sua alma feminina sobrevive nas circunstancias mais adversas. E para os homens, que ganharemos um respeito maior e profundo por elas.  Um Nobel mais do que merecido!!!!

 

Pablo González Blasco é médico (FMUSP, 1981) e Doutor em Medicina (FMUSP, 2002). Membro Fundador (São Paulo, 1992) e Diretor Científico da SOBRAMFA – Sociedade Brasileira de Medicina de Família, e Membro Internacional da Society of Teachers of Family Medicine (STFM). É autor dos livros “O Médico de Família, hoje” (SOBRAMFA, 1997), “Medicina de Família & Cinema” (Casa do Psicólogo, 2002) “Educação da Afetividade através do Cinema” (IEF-Instituto de Ensino e Fomento/SOBRAMFA, São Paulo, 2006) , ”Humanizando a Medicina: Uma Metodologia com o Cinema” (Sâo Camilo, 2011) e “Lições de Liderança no Cinema” (SOBRAMFA, 2013). Co-autor dos livros “Princípios de Medicina de Família” (SOBRAMFA, São Paulo, 2003) e Cinemeducation: a Comprehensive Guide to using film in medical education. (Radcliffe Publishing, Oxford, UK. 2005).

Publicado originalmente em 07/02/2017 em <http://www.pablogonzalezblasco.com.br/2016/12/18/o-esgrimista-a-paixao-por-ensinar/>

 

Aylan Kurdi

Opinião Pública | 09/09/2015 | | IFE CAMPINAS

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IN MEMORY OF AYLAN KURDI SEPTEMBRE 3, 2015 ·PHOTOGRAPHIC ART ·BY ACHRAF BAZNANI

IN MEMORY OF AYLAN KURDI
SEPTEMBRE 3, 2015 ·PHOTOGRAPHIC ART ·BY ACHRAF BAZNANI

 

Assistimos aos desdobramentos da guerra civil na Síria. As estatísticas crescentes de mortos, desaparecidos e refugiados oscilam, mas todas estão na macabra casa dos seis dígitos. O papa Francisco já convocou até um dia de jejum e de oração pelos mortos civis e pelo fim da luta fratricida que por lá campeia. Parece que isso não sensibilizou muito as vontades dos membros das facções em luta. Continuam a se digladiar como se não existisse o amanhã.

Não quero falar sobre guerras, embora acredite que elas são e serão inevitáveis, porque, como assinala Tucídides, o primeiro “repórter de guerra” da história, “a natureza humana permanece sendo a mesma”. Não quero falar sobre esse pacifismo de moda, a brandir cartazes com slogans “Nunca mais a guerra!” ou coisas do gênero. Não evitaram e continuarão não evitando conflitos armados.

Também não quero falar sobre ditaduras políticas, mas sugiro aos ditadores e tiranetes de plantão que mudem suas posturas, renunciando e submetendo-se à Corte de Haia ou, simplesmente, matem-se. A humanidade agradece ao favor feito. Quero falar sobre o pequeno Aylan Kurdi, o menino refugiado sírio de três anos, egresso de uma cidade que, no seio do conflito sírio, fora tomada por indivíduos que mereceriam estar no sétimo círculo do inferno dantesco.

Sua morte por afogamento consternou o mundo, não só pelo forte simbolismo da imagem em si, mas pelas circunstâncias que se deram. Ele, por intermédio de seus pais, teve que optar entre a barbárie da guerra e o calvário mirim da fuga. Uma fuga motivada, à semelhança de muitos outros sírios, pela vida, porque, atrás dele, só havia morte. Morte patrocinada por uma liderança política que nunca leu Agostinho: sem justiça, qual a diferença entre um governo e uma quadrilha de assassinos?

Imagino, daqui, toda a invencível trajetória da viagem. Ameaçada a família, a “Europa” virou sinônimo de “segurança”, mas, até lá, era preciso atravessar um mar, que havia se transformado em sinônimo de “cemitério”, por meio de um bote, que poderia atender pelo sinônimo de “caixão”, onde, graças à ganância do traficante, que poderia ser sinônimo de “coveiro”, carregaria cinco vezes mais pessoas, com base num bilhete de ida, que poderia ser sinônimo de “atestado de óbito”. Ao cabo, virado o bote e depois do afogamento, o cadáver insepulto seria sinônimo de “delicatessen” marinho.

Lênin, certo e erradamente, disse que a morte de uma pessoa é uma tragédia e, a de milhões, uma estatística. Errado: a morte de milhões é um drama. Drama em escala estatística. Certo: a morte de um só é uma desgraça. Desgraça pela comoção de uma narrativa de vida suprimida abruptamente. No caso de Aylan, estupidamente. Toda morte de uma criança inocente é sempre um supremo roubo de Deus.

E, por falar em números, quanta estatística carrega uma criança morta na praia, porque fugia de uma guerra civil alimentada por um bando de insanos com uma cosmovisão político-religiosa historicamente caduca, por um ditador fratricida e por uma indiferente diplomacia ocidental no trato dos refugiados?
Desconfio que a resposta passa pela estatística incomensurável da impotência e da miséria da condição humana.

Há pouco nos referimos ao simbolismo da imagem do cadáver do pequeno Aylan estirado na areia do quebra-mar, justamente onde crianças costumam divertir-se com seus pais em dias de verão.
Nessa mesma imagem chocante, notamos também que ele estava tão bem vestido naquela camiseta vermelha com calça azul e sapatinhos com meias, que parecia ter se aprontado para a festa de uma vida nova. Até Poseidon revoltou-se com o fato dele ter sido barrado no baile, ao devolvê-lo à areia dura, para que nos despertasse desta hybris que provocamos.

Paul Ricoeur, de quem tive a grata satisfação de estudo no doutorado, recorda-nos que o simbolismo é algo que nos conduz ao pensar e um imaginário repleto de elementos simbólicos é requisito fundamental para pensarmos e agirmos no mundo com a consciência daquilo que fazemos. O pequeno Aylan já fez, involuntariamente, sua parte. Resta, agora, saber se queremos fazer a nossa, sob pena de, nas palavras do papa Francisco, continuarmos a trilhar pela “globalização da indiferença”. Com respeito à divergência, é o que penso.

André Gonçalves Fernandes é juiz de direito, doutorando em Filosofia e História da Educação, pesquisador, professor, coordenador do IFE Campinas e membro da Academia Campinense de Letras (fernandes.agf@hotmail.com

Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição 9/9/2015, Página A-2, Opinião.

Sobre o filme “Sniper Americano”

Cinema | 12/03/2015 | | IFE CAMPINAS

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Adaptado do livamerican-sniper-poster-internationalro “American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Militar History”, o filme “Sniper americano”, do diretor Clint Eastwood, conta a história real do fuzileiro naval norte-americano Chris Kyle (Bradley Cooper), considerado o melhor atirador de elite da história dos Estados Unidos.

O filme, um fenômeno de bilheteria (atingiu 90,2 milhões de dólares na estreia em janeiro deste ano),  tem despertado uma intensa discussão pública nos EUA, dividindo liberais e conservadores no debate sobre temas como o papel da guerra, o heroísmo dos soldados, patriotismo, a invasão americana ao Iraque, entre outros. O protagonista, conhecido como “a lenda”, entre os militares americanos e com o apelido de “o demônio de Ramadi”, entre os inimigos iraquianos, seria, para alguns, um moderno herói de guerra, mas, para outros, não passaria de um patriota psicopata.

Para contribuir para o debate, sugerimos a seguir a leitura do artigo escrito por Thiago Cortês, publicado originalmente no site Mídia sem Máscara (http://www.midiasemmascara.org/).

Antes, porém, apresentamos o trailer com uma cena que, por si só, já é um convite a este belo filme:

 

 

American Sniper: lobos e ovelhas

POR THIAGO CORTÊS 

O novo filme de Clint Eastwood começa com o sermão de um pastor sobre o apóstolo Paulo. O que Paulo ensinava e fazia, explica o ministro, era motivo de escândalo para a maioria dos seus contemporâneos. Mas Paulo tinha dentro de si a convicção de estar fazendo a coisa certa.

Chris Kyle está no culto com sua família. Ele ainda é uma criança, mas ouve atento o pastor explicar que somos incapazes de decifrar o padrão de Deus nos eventos que ocorrem na nossa vida. Só podemos considerar real e verdadeiro o que podemos enxergar?

Não se engane pelo cenário da história ou seu contexto histórico. American Sniper não é sobre a Guerra do Iraque – nem contra e nem a favor – ou sobre qualquer aspecto da vida militar.

O drama de Clint Eastwood é sobre os dilemas morais enfrentados por homens de convicção em um mundo no qual a defesa de qualquer princípio – por mais óbvio que seja – é vista como uma atitude fundamentalista. A convicção é uma anomalia. O mundo jaz do relativismo.

Se você quiser defender uma visão moral, prepare-se para enfrentar dilemas terríveis. Se você quiser se sacrificar por algo maior, prepare-se para a solidão. Sim, solidão: ao dizer que está disposto a morrer pelo seu país, Kyle ouve da futura esposa: “você é um egocêntrico!”.

Chris Kyle é filho de um diácono e de uma professora de escola bíblica dominical. Desde cedo ele aprendeu que a defesa dos princípios básicos de certo e errado o colocaria em conflito com a maioria que há muito abandonou o “preto-no-branco” por mil tons de cinza.

Ainda menino, Kyle intervém em uma briga para defender seu irmão mais novo de um típico valentão. Ao ver seu irmão apanhando, ele não tem dúvidas: soca o garoto maior até lhe tirar sangue. Ao invés de lhe repreender, o seu pai lhe explica que as pessoas são divididas em três grupos: ovelhas, predadores e cães pastores que protegem as ovelhas “do Mal”.

“Algumas pessoas preferem acreditar que o Mal não existe. Mas se algum dia ele aparecer na sua porta, não saberão como se proteger. Essas são as ovelhas. E então existem os predadores. Eu e sua mãe não estamos criando ovelhas ou predadores”, adverte o diácono.

Kyle cresce como um típico jovem dos nossos dias. É um beberrão e mulherengo. Mas ele enxerga o que os outros não enxergam. Em certo dia, o noticiário que para seu irmão é entediante, para Chris Kyle é perturbador. E, como Saulo, ele caí do cavalo.

Como a luz do dia

As escolhas daquele que se tornaria o atirador de elite mais letal da história militar dos Estados Unidos são pautadas por um antiquado senso de moralidade. Não há espaço para o cinismo ou a meia-verdade no horizonte de Chris Kyle. Ele enxerga o Mal tão claro como a luz do dia. É essa característica singular que irá definir o seu destino para sempre.

Quando poderia se arriscar menos, Kyle desce às profundezas do labirinto infernal de Ramadi para ensinar soldados novatos sobreviverem um dia a mais. Quando sua esposa grávida pede que ele fique em casa, Chris Kyle volta ao Iraque para proteger seus amigos.

Em pouco tempo a insurgência iraquiana apelida Kyle de “o Diabo de Ramadi”- em referência a uma das cidades em que combateu – e coloca a sua cabeça a prêmio. Ele é temido por sua eficiência em matar. 160 mortes “oficiais”: tudo indica que o número seja maior (255).

O maior mérito de Chris Kyle, contudo, não reside no número de inimigos que ele abateu. Mas na quantidade de garotos que ele salvou com sua mira certeira. O filme faz um sutil e brilhante paralelo entre a visão moral distinta e a pontaria acima da média de Kyle.

Além do inimigo que espreita em cada janela e porta, o jovem texano é obrigado a enfrentar as dúvidas crescentes e o medo paralisante dos seus colegas de farda.

O agnóstico Eastwood fala no filme por meio de um jovem soldado que quase foi padre e é assaltado pela dúvida: Será que eles fazem a coisa certa? E será que vale a pena?

“O Mal existe. Nós já o vimos por aqui”, responde, serenamente, Chris Kyle. Eastwood mostra que o sniper mais admirado e temido da história dos EUA permaneceu até o fim com as convicções simples de um menino dedicado a proteger os inocentes dos bandidos.

A virtude em ação

Há muitos sub-dramas terríveis contidos nas decisões de Kyle, mas não vou abordá-los para que o leitor assista ao filme e possa se surpreender com cada dilema que surge na história.

Ao contrário do que se poderia imaginar, Eastwood não manifesta aprovação diante da moralidade “preto-no-branco” de Chris Kyle. Diante disso ele é novamente agnóstico.

Mas o velho mestre americano não deixa de mostrar que são de homens como Kyle que a sociedade precisa nos momentos mais tenebrosos, quando os lobos aparecem e recuamos como ovelhas confusas e apavoradas. Sem visão moral, sem senso de direção.

Hoje em dia os homens estão mais preocupados em ser queridos por todos e não conseguem defender qualquer princípio por mais de 5 minutos. Eles não acreditam mais em certo e errado. São cínicos. Para os quais “honra” e “sacrifico” são como peças de museu.

São bem poucos os que ainda enxergam o mundo como o apóstolo Paulo e Chris Kyle enxergavam. Mas todos admiram, mesmo que secretamente, pessoas que recusam o cinismo predominante e brindam os seus próximos com uma amostra do que é a virtude em ação. Clint Eastwood faz um elogio desses homens ilustres. Assista American Sniper.

Thiago Cortês escreve no blog Descortês.

Fonte: http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15683-american-sniper-lobos-e-ovelhas.html

Sobre o filme "Sniper Americano"

Cinema | 12/03/2015 | | IFE CAMPINAS

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Adaptado do livamerican-sniper-poster-internationalro “American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Militar History”, o filme “Sniper americano”, do diretor Clint Eastwood, conta a história real do fuzileiro naval norte-americano Chris Kyle (Bradley Cooper), considerado o melhor atirador de elite da história dos Estados Unidos.

O filme, um fenômeno de bilheteria (atingiu 90,2 milhões de dólares na estreia em janeiro deste ano),  tem despertado uma intensa discussão pública nos EUA, dividindo liberais e conservadores no debate sobre temas como o papel da guerra, o heroísmo dos soldados, patriotismo, a invasão americana ao Iraque, entre outros. O protagonista, conhecido como “a lenda”, entre os militares americanos e com o apelido de “o demônio de Ramadi”, entre os inimigos iraquianos, seria, para alguns, um moderno herói de guerra, mas, para outros, não passaria de um patriota psicopata.

Para contribuir para o debate, sugerimos a seguir a leitura do artigo escrito por Thiago Cortês, publicado originalmente no site Mídia sem Máscara (http://www.midiasemmascara.org/).

Antes, porém, apresentamos o trailer com uma cena que, por si só, já é um convite a este belo filme:

 

 

American Sniper: lobos e ovelhas

POR THIAGO CORTÊS 

O novo filme de Clint Eastwood começa com o sermão de um pastor sobre o apóstolo Paulo. O que Paulo ensinava e fazia, explica o ministro, era motivo de escândalo para a maioria dos seus contemporâneos. Mas Paulo tinha dentro de si a convicção de estar fazendo a coisa certa.

Chris Kyle está no culto com sua família. Ele ainda é uma criança, mas ouve atento o pastor explicar que somos incapazes de decifrar o padrão de Deus nos eventos que ocorrem na nossa vida. Só podemos considerar real e verdadeiro o que podemos enxergar?

Não se engane pelo cenário da história ou seu contexto histórico. American Sniper não é sobre a Guerra do Iraque – nem contra e nem a favor – ou sobre qualquer aspecto da vida militar.

O drama de Clint Eastwood é sobre os dilemas morais enfrentados por homens de convicção em um mundo no qual a defesa de qualquer princípio – por mais óbvio que seja – é vista como uma atitude fundamentalista. A convicção é uma anomalia. O mundo jaz do relativismo.

Se você quiser defender uma visão moral, prepare-se para enfrentar dilemas terríveis. Se você quiser se sacrificar por algo maior, prepare-se para a solidão. Sim, solidão: ao dizer que está disposto a morrer pelo seu país, Kyle ouve da futura esposa: “você é um egocêntrico!”.

Chris Kyle é filho de um diácono e de uma professora de escola bíblica dominical. Desde cedo ele aprendeu que a defesa dos princípios básicos de certo e errado o colocaria em conflito com a maioria que há muito abandonou o “preto-no-branco” por mil tons de cinza.

Ainda menino, Kyle intervém em uma briga para defender seu irmão mais novo de um típico valentão. Ao ver seu irmão apanhando, ele não tem dúvidas: soca o garoto maior até lhe tirar sangue. Ao invés de lhe repreender, o seu pai lhe explica que as pessoas são divididas em três grupos: ovelhas, predadores e cães pastores que protegem as ovelhas “do Mal”.

“Algumas pessoas preferem acreditar que o Mal não existe. Mas se algum dia ele aparecer na sua porta, não saberão como se proteger. Essas são as ovelhas. E então existem os predadores. Eu e sua mãe não estamos criando ovelhas ou predadores”, adverte o diácono.

Kyle cresce como um típico jovem dos nossos dias. É um beberrão e mulherengo. Mas ele enxerga o que os outros não enxergam. Em certo dia, o noticiário que para seu irmão é entediante, para Chris Kyle é perturbador. E, como Saulo, ele caí do cavalo.

Como a luz do dia

As escolhas daquele que se tornaria o atirador de elite mais letal da história militar dos Estados Unidos são pautadas por um antiquado senso de moralidade. Não há espaço para o cinismo ou a meia-verdade no horizonte de Chris Kyle. Ele enxerga o Mal tão claro como a luz do dia. É essa característica singular que irá definir o seu destino para sempre.

Quando poderia se arriscar menos, Kyle desce às profundezas do labirinto infernal de Ramadi para ensinar soldados novatos sobreviverem um dia a mais. Quando sua esposa grávida pede que ele fique em casa, Chris Kyle volta ao Iraque para proteger seus amigos.

Em pouco tempo a insurgência iraquiana apelida Kyle de “o Diabo de Ramadi”- em referência a uma das cidades em que combateu – e coloca a sua cabeça a prêmio. Ele é temido por sua eficiência em matar. 160 mortes “oficiais”: tudo indica que o número seja maior (255).

O maior mérito de Chris Kyle, contudo, não reside no número de inimigos que ele abateu. Mas na quantidade de garotos que ele salvou com sua mira certeira. O filme faz um sutil e brilhante paralelo entre a visão moral distinta e a pontaria acima da média de Kyle.

Além do inimigo que espreita em cada janela e porta, o jovem texano é obrigado a enfrentar as dúvidas crescentes e o medo paralisante dos seus colegas de farda.

O agnóstico Eastwood fala no filme por meio de um jovem soldado que quase foi padre e é assaltado pela dúvida: Será que eles fazem a coisa certa? E será que vale a pena?

“O Mal existe. Nós já o vimos por aqui”, responde, serenamente, Chris Kyle. Eastwood mostra que o sniper mais admirado e temido da história dos EUA permaneceu até o fim com as convicções simples de um menino dedicado a proteger os inocentes dos bandidos.

A virtude em ação

Há muitos sub-dramas terríveis contidos nas decisões de Kyle, mas não vou abordá-los para que o leitor assista ao filme e possa se surpreender com cada dilema que surge na história.

Ao contrário do que se poderia imaginar, Eastwood não manifesta aprovação diante da moralidade “preto-no-branco” de Chris Kyle. Diante disso ele é novamente agnóstico.

Mas o velho mestre americano não deixa de mostrar que são de homens como Kyle que a sociedade precisa nos momentos mais tenebrosos, quando os lobos aparecem e recuamos como ovelhas confusas e apavoradas. Sem visão moral, sem senso de direção.

Hoje em dia os homens estão mais preocupados em ser queridos por todos e não conseguem defender qualquer princípio por mais de 5 minutos. Eles não acreditam mais em certo e errado. São cínicos. Para os quais “honra” e “sacrifico” são como peças de museu.

São bem poucos os que ainda enxergam o mundo como o apóstolo Paulo e Chris Kyle enxergavam. Mas todos admiram, mesmo que secretamente, pessoas que recusam o cinismo predominante e brindam os seus próximos com uma amostra do que é a virtude em ação. Clint Eastwood faz um elogio desses homens ilustres. Assista American Sniper.

Thiago Cortês escreve no blog Descortês.

Fonte: http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15683-american-sniper-lobos-e-ovelhas.html