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As virtudes perdidas do hospício (por Oliver Sacks)

Política e Sociologia | 21/07/2015 | | IFE CAMPINAS

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Hospício em Canterbury.

 

Normalmente pensamos nos hospitais psiquiátricos como ninhos de cobras, infernos de caos e miséria, penúria e brutalidade. Hoje, a maior parte deles foi fechada ou abandonada – e sentimos um calafrio ao pensar no terror daqueles que um dia foram confinados em lugares como esses. Assim, vale a pena ouvir a voz de uma de suas internas, uma certa Anna Agnew, julgada demente em 1878 (tais decisões, naqueles dias, eram tomadas não por um médico, mas um juiz) e “abandonada” no Hospital para Doentes Mentais de Indiana. Anna foi recebida no hospital após realizar tentativas cada vez mais desequilibradas de suicídio e tentar matar um de seus filhos com láudano. Sentiu profundo alívio quando a instituição fechou um círculo de proteção em torno de si, e ainda mais por terem reconhecido sua loucura.

Como escreveria mais tarde:

“Na primeira semana de internação no hospital, senti um grau de contentamento maior do que sentira todo o ano anterior. Não que estivesse reconciliada com a vida, mas porque minha triste condição mental fora compreendida, e fui tratada de acordo. Além disso, estava cercada por pessoas no mesmo estado de confusão e aflição mental, pessoas por cujas penas… passei a me interessar, na medida em que despertavam minha simpatia… E, ao mesmo tempo, eu também era tratada como uma mulher doente, com uma ternura até então desconhecida por mim.

O Dr. Hester foi a primeira pessoa suficientemente gentil para me dizer em resposta à minha pergunta, “Estou louca?” “Sim, madame, e bastante!”… “Mas”, continuou, “queremos ajudá-la da melhor maneira possível e nossa esperança para a senhora é a segurança deste lugar”…. Ouvi-o [dizer] certa vez, em reprimenda a um assistente negligente: “Fiz um juramento ao Estado de Indiana de proteger estas desafortunadas. Sou pai, filho, irmão e marido de mais de trezentas mulheres… e quero que sejam bem tratadas!”

Anna também conta (como Lucy King relata em seu livro From Under the Cloud at Seven Steeples [1]) o quanto era crucial, para os doentes e perturbados, a ordem e a previsibilidade do asilo:

Este lugar me lembra um grande relógio, tão regular e suave é o seu funcionamento. O sistema é perfeito, nosso cardápio é excelente e variado, como em uma família bem ordenada… Retiramo-nos ao toque do telefone, às oito, e uma hora depois há silêncio e escuridão… por todo este imenso edifício.

O antigo termo para hospital psiquiátrico era “asilo de lunáticos”, e “asilo”, em seu uso original, significa refúgio, proteção, santuário – nas palavras do Oxford English Dictionary, “uma instituição benevolente responsável por receber e cuidar de alguma classe de doentes, desabrigados ou abandonados”. Desde o século quarto de nossa era, monastérios, conventos e igrejas já serviam de asilos. E a estes se somaram os asilos seculares, que (segundo sugere Michel Foucault) surgiram após a virtual aniquilação dos leprosos na Europa pela Peste Negra, sendo os leprosários então vazios utilizados para abrigar pobres, doentes, loucos e criminosos. Erving Goffman, em seu famoso livro Asylums [2], classifica estas instituições como “totais” – lugares onde se estabelece um fosso intransponível entre funcionários e internos, onde regras e funções rígidas obliteram qualquer senso de amizade e simpatia, e onde internos são desprovidos de qualquer autonomia, liberdade, dignidade ou personalidade, reduzidos a cifras no sistema.

Nos anos 50, quando Goffman realizava sua pesquisa no Hospital St. Elizabeth em Washington, D.C., este era de fato o caso, ao menos em muitos destes hospitais. Mas é difícil acreditar que criar tal sistema tenha sido a intenção dos cidadãos íntegros e dos filantropos que fundaram a maior parte dos hospícios dos Estados Unidos na primeira metade do século dezenove. Na ausência de medicação própria para as doenças mentais na época, o “tratamento moral” – um tratamento voltado aos indivíduos como um todo e seu potencial para a saúde física e mental, e não somente para uma parte afetada de seu cérebro – era considerado a única alternativa humana.

Estes manicômios públicos eram com freqüência edifícios palacianos, com telhados altos, amplas janelas, e grandes pavilhões, oferecendo luz e espaço abundantes, ar fresco, além de exercício e uma dieta variada. A maioria dos manicômios eram em grande medida auto-suficientes, produzindo a maior parte de sua própria comida. Os pacientes trabalhavam nos campos e celeiros, já que o trabalho era considerado uma forma central de terapia para eles, além de servir para o sustento do manicômio. Espírito de comunidade e companheirismo também eram centrais – na verdade vitais – para os pacientes, que de outra forma acabariam isolados em seu próprio mundo mental, entregues às suas obsessões e alucinações. Igualmente crucial era o reconhecimento e aceitação de sua insanidade (coisa que para Anna Agnew foi uma grande “gentileza”) pelos funcionários e pelos outros doentes.

Enfim, retomando o significado original de “asilo”, estes manicômios ofereciam controle e proteção para os pacientes, tanto em relação aos seus próprios impulsos (quiçá suicidas ou homicidas) quanto do ridículo, do isolamento, da agressão ou do abuso que com tanta freqüência sofriam no mundo exterior. Os asilos ofereciam uma vida com suas próprias proteções e limitações, uma vida possivelmente simplificada e estreita, mas que, dentro desta estrutura de segurança, dava a cada um a liberdade de ser tão louco quanto quisesse e, ao menos para alguns pacientes, a possibilidade de viver suas psicoses e emergir de suas profundezas mais sãos e estáveis.

Em geral, porém, os pacientes permaneciam nos asilos por longos períodos. Havia pouca preparação para um retorno à vida do lado de fora, e, possivelmente, após anos de confinamento em um asilo os residentes tornavam-se “institucionalizados” de alguma forma: já não desejavam, ou não podiam suportar, o mundo externo. Em geral, os pacientes viviam nos manicômios por décadas, e morriam neles – cada asilo tinha seu próprio cemitério. (As vidas dessas pessoas foram reconstruídas com grande sensibilidade por Darby Penney e Peter Stastny em seu livro The Lives They Left Behind [3]).

Era inevitável, em tais circunstâncias, que a população dos hospícios crescesse – e alguns asilos, imensos, chegaram a assemelhar-se a pequenas cidades. Pilgrim State, em Long Island, abrigava mais de 14.000 pacientes ao mesmo tempo. Era inevitável, também, que com números tão grandes de internos e recursos inadequados os manicômios públicos decaíssem de seus ideais originais. Nos últimos anos do século dezenove, haviam já se tornado sinônimo de miséria e negligência, freqüentemente entregues à direção de burocratas ineptos, corruptos ou sádicos – situação que permaneceu inalterada ao longo da primeira metade do século vinte.

Semelhante evolução, ou involução, ocorreu no Manicômio Creedmoor no Queens, Nova York, fundado muito modestamente em 1912 como a Fazenda Colônia do Manicômio Público do Brooklin, fiel aos ideais do século dezenove de oferecer espaço, ar fresco e trabalho para seus pacientes. Mas a população de Creedmoor cresceu rapidamente – chegando a sete mil em 1959 – e, como mostrou Susan Sheenan em seu livro de 1982 Is There no Place on Earth for Me?, tornou-se tão infame, superpovoado e mal dirigido quanto qualquer outro manicômio público. Ainda assim, as plantações e o gado originais foram mantidos, fornecendo recursos cruciais para alguns pacientes, que podiam cuidar de animais e plantas, ainda que fossem demasiado perturbados ou ambivalentes para manter qualquer relacionamento com outros seres humanos.

Em Creedmoor havia um ginásio, uma piscina e salas de recreação com mesas de pingue-pongue e de bilhar; havia um teatro e um estúdio de televisão onde os pacientes podiam produzir, dirigir e atuar em seus próprios espetáculos – espetáculos que, como o teatro de Sade no século dezoito, permitiam a expressão criativa de suas próprias preocupações e interesses. A música era importante – havia uma pequena orquestra de pacientes – assim como também o eram as artes visuais. (Ainda hoje, com a maior parte do hospital fechada e caindo em pedaços, o notável Museu Vivo de Creedmoor fornece aos pacientes material e espaço para trabalharem em pintura ou escultura. Um dos fundadores do Museu Vivo, Janos Marton, chama-o um “espaço protegido” para os artistas).

Havia imensas cozinhas e lavanderias, e estas, como as plantações e o gado, ofereciam trabalho e “terapia do trabalho” para muitos dos pacientes, além de oportunidades para aprender algumas das habilidades da vida cotidiana, que, dada sua debilitação pela doença mental, talvez jamais chegassem a adquirir. E havia grandes salas de jantar comunitárias, que, na melhor das hipóteses, nutria um senso de comunidade e companheirismo.

Assim, mesmo na década de 50, quando as condições dos manicômios públicos eram tão desoladoras, alguns dos bons aspectos da vida de um asilo ainda podiam ser encontrados. Havia com freqüência, mesmo nos piores manicômios, bolsões de decência humana, de verdadeira vida e ternura.

Os anos 50 trouxeram o advento de novos medicamentos anti-psicóticos, medicamentos que pareciam prometer ao menos algum alívio ou supressão dos sintomas psicóticos, quando não uma “cura”. A disponibilização destas drogas reforçou a idéia de que a hospitalização não precisava ser custodiada nem durar toda uma vida. Se uma rápida passagem pelo hospital podia “estancar” uma psicose e ser seguida pelo retorno dos pacientes às suas comunidades, onde poderiam ser mantidos sob medicação e monitorados sem internação por clínicas competentes, então, pensava-se, o prognóstico, toda a história natural das doenças mentais, poderia ser transformado, e a vasta e desesperançada população dos hospícios poderia ser drasticamente reduzida.

Durante a década de 60, diversos hospitais públicos dedicados a uma internação de curto período foram construídos sob esta premissa. Entre eles estava o Hospital Público do Bronx (hoje Centro Psiquiátrico do Bronx). O Hospital do Bronx tinha um diretor talentoso e visionário e um quadro de funcionários escolhidos a dedo quando foi inaugurado em 1963, mas com toda a sua orientação de vanguarda, tinha de lidar com um enorme influxo de pacientes de hospitais mais antigos, que começavam por então a ser fechados. Comecei a trabalhar como neurologista lá em 1966 e, ao longo dos anos, viria a conhecer centenas destes pacientes, muitos dos quais haviam passado a maior parte de sua vida adulta em manicômios.

Havia, no Hospital do Bronx, como em todos os hospitais de seu gênero, grande variação na qualidade do tratamento dado aos pacientes: havia departamentos bons, por vezes exemplares, com médicos e atendentes decentes e solícitos, como também os maus e revoltantes, marcados pela negligência e crueldade. Vi ambos em meus vinte e cinco anos no Hospital do Bronx. Mas também guardo memórias de como alguns pacientes, já não mais psicóticos violentos ou trancafiados nas alas de segurança, podiam passear tranqüilos pelos pavilhões, jogar baseball ou ir a concertos e filmes. Como os pacientes em Creedmoor, podiam produzir seus próprios espetáculos, e a qualquer hora do dia podia-se encontrar pacientes lendo calmamente na biblioteca do hospital ou folheando jornais e revistas nas salas de recreação.

Triste e ironicamente, logo após minha chegada nos anos 60 as oportunidades de trabalho para os pacientes virtualmente desapareceram sob o disfarce da proteção de seus direitos. Considerava-se que manter pacientes na cozinha, na lavanderia, na horta ou em oficinas de trabalho era uma “exploração”. Esta proscrição do trabalho – baseada em noções legalistas sobre os direitos dos pacientes e não em suas reais necessidades – privou muitos doentes de uma forma importante de terapia, algo que poderia lhes dar estímulo e identidade do tipo econômico e social. O trabalho podia “normalizá-los” e criar comunidades, podia tirá-los de seu solipsístico mundo interior, e os efeitos de sua interdição foram extremamente desalentadores. Para muitos pacientes que haviam anteriormente gozado os benefícios do trabalho e da atividade, havia agora pouco a fazer senão sentar, como zumbis, diante de um televisor incessantemente ligado.

A luta anti-manicomial, que começou como uma goteira nos anos 60, tornou-se uma inundação na década de 80, ainda que já na época fosse claro que estava criando tantos problemas quanto soluções. A imensa população de desabrigados, os “psicóticos de calçada”, em todas grandes metrópoles, era uma chocante evidência de que nenhuma cidade tinha uma rede adequada de clínicas psiquiátricas e abrigos ou a infra-estrutura para lidar com as centenas de milhares de pacientes que haviam sido despejados dos poucos manicômios restantes.

Os medicamentos anti-psicóticos que haviam sido introduzidos nesta onda anti-manicomial com freqüência revelaram-se muito menos milagrosos do que se esperava. Podiam mesmo diminuir os sintomas “positivos” das doenças mentais – as alucinações e ilusões da esquizofrenia. Todavia, faziam pouco pelos sintomas “negativos” – a apatia, a passividade, a falta de motivação e de habilidade para se relacionar com outras pessoas –, freqüentemente mais debilitantes que os sintomas positivos. Com efeito (ao menos do modo como foram originalmente utilizados), os remédios anti-psicóticos tendiam a reduzir a energia e a vitalidade, levando a uma apatia característica. Por vezes causavam efeitos colaterais intoleráveis, desordens motoras como o Parkinson e a discinesia tardia [4], que podiam persistir por anos após a interrupção do medicamento. E outras vezes os pacientes resistiam a se livrar de suas psicoses, psicoses que davam sentido ao seu mundo e os situava no centro deste mundo. Assim, era comum que alguns pacientes parassem de tomar o medicamento anti-psicótico prescrito.

Desta forma, pacientes que eram medicados com anti-psicóticos e dispensados, tinham de ser readmitidos algumas semanas ou meses depois. Conheci diversos destes pacientes, muitos dos quais me diziam, com efeito, “o Hospital do Bronx não é nenhum piquenique, mas é infinitamente melhor do que passar fome e frio nas ruas, ou ser esfaqueado numa viela”. O hospital, pelo menos, oferecia proteção e segurança – oferecia, em uma palavra, asilo.

Por volta de 1990 estava claro que o sistema havia exagerado, que o fechamento em massa dos manicômios fora precipitado, não havendo alternativas adequadas para repô-los. Não deveriam ter sido fechados, mas sim reformados, com novas medidas para a superpopulação, a qualidade dos funcionários, as negligências e brutalidades. Quanto aos tratamentos químicos, embora importantes, não eram suficientes. Esquecemos os aspectos benignos dos manicômios, ou talvez tenhamos acreditado não ser mais possível mantê-los: os amplos espaços e o senso de comunidade, o local para o trabalho e para a diversão, e o gradual aprendizado de habilidades sociais e vocacionais – um paraíso seguro que os manicômios públicos estavam bem equipados para garantir.

Não se deve ser muito romântico com relação à loucura ou aos manicômios nos quais os dementes eram confinados. Sob as manias, grandiloqüências, fantasias e alucinações, há uma tristeza profunda e incomensurável nas doenças mentais, uma tristeza que se reflete na arquitetura freqüentemente grandiosa mas melancólica dos antigos manicômios. Como as fotografias de Christopher Payne comprovam em seu livro Asylum [5], suas ruínas, desoladoras ao seu modo hoje em dia, oferecem um testemunho mudo e torturante tanto da dor que afligia os pacientes afetados por doenças mentais extremas, quanto das heróicas estruturas que na época foram erguidas para tentar aliviar esta dor.

Payne, um poeta visual, bem como um arquiteto por formação, passou anos pesquisando e fotografando estes edifícios – com freqüência o orgulho das comunidades locais e um símbolo poderoso da atenção humana para com os menos afortunados. Suas fotografias são lindas imagens por si só, além de prestar um tributo para um tipo de arquitetura pública que já não mais existe. Elas focam o monumental e o mundano, as extraordinárias fachadas e a pintura descascada.

As fotografias de Payne são uma potente elegia, especialmente, talvez, para quem trabalhou e viveu nesses lugares e os viu repletos de pessoas, plenos de vida. Os espaços desolados evocam as vidas que em outros tempos os preenchiam, os refeitórios estão mais uma vez tomados por pessoas, e as espaçosas salas de recreação, com suas altas janelas, mostram mais uma vez, como outrora, pacientes lendo tranquilamente, dormindo em sofás (coisa absolutamente permitida), ou simplesmente contemplando o espaço. Para mim elas evocam não só a vida tumultuosa destes lugares, mas a atmosfera protegida e particular que eles ofereciam no tempo em que, como notou Anna Agnew em seu diário, eram locais em que se podia ser louco e estar seguro, locais em que a loucura de uma pessoa podia encontrar, senão uma cura, ao menos reconhecimento e respeito, além de um senso vital de companheirismo e comunidade.

Qual é a situação agora? Os manicômios públicos que ainda existem estão quase todos vazios e contêm somente uma fração insignificante dos residentes com os quais contava antigamente. Os internos que restaram são em geral pacientes cronicamente doentes que não respondem à medicação, ou casos incorrigivelmente violentos que não podem circular com segurança no exterior. Assim, a vasta maioria das pessoas mentalmente doentes vive fora dos hospitais psiquiátricos. Alguns vivem sós ou com suas famílias, freqüentando clínicas de tratamento sem regime de internação; outros vivem em “casas de recolhimento”, residências que oferecem um quarto, uma ou mais refeições, e medicações prescritas.

A qualidade destas residências varia bastante – mas mesmo nas melhores entre elas (como aponta Tim Parks em sua resenha do livro de Jay Neugeboren sobre seu irmão esquizofrênico, Imagining Robert [6], e pelo próprio Neugeboren, em sua recente resenha de The Center Cannot Hold, relato autobiográfico de Elyn Saks sobre sua própria esquizofrenia[7]), os pacientes com freqüência sentem-se isolados e, pior ainda, desprovidos do aconselhamento e tratamento psiquiátricos necessários. Os últimos quinze anos testemunharam o surgimento de uma nova geração de remédios anti-psicóticos, com efeitos terapêuticos melhores e efeitos colaterais reduzidos, mas a ênfase exagerada nos modelos “químicos” de esquizofrenia e em tratamentos puramente farmacológicos podem deixar o centro da experiência humana e social da doença mental intocado.

Particularmente importante em Nova York – especialmente após o movimento anti-manicomial – é a Fountain House, fundada há sessenta anos, a qual oferece um clube na West 47th Street para doentes mentais de toda a cidade. Aqui eles podem ir e vir livremente, encontrar outras pessoas, sentar juntos nas refeições, e, acima de tudo, receber assistência na procura de um emprego estável, no preenchimento de formulários e em toda sorte de burocracia. Clubes semelhantes têm sido fundados em diversas cidades. Nestes clubes há funcionários regulares e voluntários, mas eles dependem crucialmente de recursos privados, os quais têm sido mais escassos desde a recessão.

Há também, curiosamente, certas residências comunitárias que derivam, historicamente, tanto dos asilos quanto das fazendas terapêuticas do século dezenove, e elas oferecem, para os poucos afortunados que conseguem se internar, programas compreensivos para os doentes mentais. Visitei algumas delas – Gould Farm em Massachusetts e Cooper Riis na Carolina do Norte – e vi muito daquilo que era admirável nos antigos manicômios públicos: comunidade, companheirismo, oportunidades de trabalho e criação, além do respeito pela individualidade de cada um, somando-se a tudo isso o melhor que há em tratamento psicoterapêutico e todas as medicações necessárias.

Freqüentemente a medicação é bastante modesta nestas circunstâncias ideais. Muitos dos pacientes nestes lugares (embora a esquizofrenia e a condição maníaca depressiva sejam permanentes) são “graduados” após muitos meses ou mesmo um ano ou dois, assumindo uma vida independente e por vezes retornando à escola ou ao trabalho, com uma quantidade modesta de assistência continuada e aconselhamento. Para muitos deles, uma vida plena e satisfatória com poucas ou mesmo nenhuma recaída está ao alcance.

Embora o custo de internação nestas casas seja considerável – mais de US$100.000,00 por ano (em parte financiados por contribuições familiares e o resto por doações privadas) – é muito menor do que o custo de um ano em um hospital, para não dizer nada dos custos humanos envolvidos. Mas há poucas casas deste nível nos Estados Unidos – elas são capazes de acomodar não mais do que algumas centenas de pacientes dentre os milhões existentes.

Os restantes – os 99% de doentes mentais que não dispõem de recursos suficientes – têm de se resignar a um tratamento inadequado e a uma vida incapaz de atingir seu potencial. A Aliança Nacional para os Doentes Mentais faz o que pode, mas milhões de doentes mentais continuam a ser as pessoas menos assistidas, mais desprovidas de direitos e mais excluídas da nossa sociedade. E ainda assim, é evidente – da experiência de lugares como Cooper Riis e Gould Farm, e de indivíduos como Elyn Saks – que a esquizofrenia não é necessariamente (embora possa ser) uma doença inevitavelmente deteriorante; e que, em circunstâncias ideais e havendo recursos, mesmo as pessoas mais profundamente afetadas – relegadas a um prognóstico “sem esperança” – podem ser levadas a viver uma vida satisfatória e produtiva.

Oliver Sacks nasceu em Londres, em 1933, e mora nos EUA, onde leciona no Albert Einstein College of Medicine (Nova York). É autor de Enxaqueca, Tempo de despertar (que inspirou o filme homônimo com Robert de Niro e Robin Williams), O homem que confundiu sua mulher com chapéu, A Ilha dos daltônicos, Vendo vozes, Tio Tungstênio e Com uma perna só – todos publicados pela Companhia das Letras.

Tradução de Marcelo Consentino.


[1] From Under the Cloud at Seven Steeples, 1878–1885: The Peculiarly Saddened Life of Anna Agnew at the Indiana Hospital for the Insane (Guild Press/Emmis, 2002).

[2] Asylums: Essays on the Social Situation of Mental Patients and Other Inmates (Anchor, 1961). Publicado no Brasil como Manicômios, prisões e conventos, na coleção Debates da Editora Perspectiva.

[3] The Lives They Left Behind: Suitcases from a State Hospital Attic (Bellevue Literary Press, 2008).

[4] Distúrbio da atividade motora.

[5] Publicado pela MIT Press em setembro. Este ensaio aparece de uma forma modificada como introdução.

[6] Imagining Robert: My Brother, Madness, and Survival (Morrow, 1997); ver a resenha de Tim Parks nestas páginas, “In the Locked Ward”, 24 de fevereiro de 2000.

[7] The Center Cannot Hold: My Journey Through Madness (Hyperion, 2007); ver a resenha de Jay Neugeboren nestas páginas, “Infiltrating the Enemy of the Mind”, 12 de abril de 2008.

*

Artigo publicado em português originalmente na revista-livro do Instituto de Formação e Educação (IFE), Dicta&Contradica, Edição 4, Dezembro/2009.

[FILME] “‘Gravidade’: Epopeia Feminina à Conquista do Espaço (interior)” (por Pablo González)

Cinema | 17/07/2015 | | IFE CAMPINAS

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     Um belíssimo filme. Com peso, densidade, com a gravidade que parece faltar no cenário espacial. Dito isto, e para aumentar os créditos, vale comentar a seguir o processo como fui seduzido. Os filmes de ficção nunca foram a minha praia. Se a ficção é espacial, e as críticas recomendam ver em 3D, sei que posso esperar uma constelação de efeitos especiais que tentam compensar a falta de conteúdo humano, que é a verdadeira isca com a que um filme consegue me fisgar. Resisti-me à aventura espacial de Clooney e Bullock, fui encontrando desculpas –afinal há muito filme na lista de espera para ser visto- até que, num momento desavisado, apertei o play. Impactante. Não soube dizer por quê, mas deixou marca.

Como dizia Ortega, somos também nossas circunstâncias. As minhas guardavam, ainda quentes, as ponderações geradas pelos livros que tinha acabado de ler e comentar. Garotas no limite, de Leonard Sax, onde se fala das mulheres –adolescentes, para ser mais preciso- que estão conectadas com metade do planeta, e desconectadas delas mesmas, da sua intimidade. A biografia de Marañon, onde se adverte que o romantismo precisa de tempo e solidão para ser vivido, distanciando-se da pressa e da técnica. E um texto que o Papa Francisco enviou no dia mundial das comunicações aos detentores da mídia, sugerindo que se esforcem por encontrar no ambiente digital o sentido da pausa e da calma, o silêncio que permite escutar, dimensões todas que nos ajudam a crescer em humanidade e em compreensão recíproca

     Todos estes pensamentos temperavam-se com os comentários dos protagonistas no filme. “Metade da américa ficou sem Facebook” –diz Clooney quando perde a comunicação com Houston. “O que você mais gosta de estar aqui em cima?” –pergunta ele para a cientista. “Creio que é do silêncio” –responde Sandra Bullock. Retornei ao filme outra vez, buscando agora o eco das reflexões que tinha me provocado. Borges dizia que quando voltamos uma e outra vez sobre um livro, o vemos de modo diferente porque nós mudamos durante o processo. Foi o que me aconteceu. Um efeito retardado, a ficha demorou em cair completamente, o fez em câmara lenta, como os atores movimentando-se na ausência de gravidade. Assim as ideias que cercavam minha mente, em busca do peso próprio, lentamente, em silêncio.

     O filme é, todo ele, uma epopeia feminina, a conquista da uma mulher sobre ela mesma. O espaço sideral, as questões técnicas, são guarnição, detalhe sem importância. Surgem máquinas que respondem a ordens em russo ou em chinês, tentativas de diálogos em sintonias perdidas que tem cães por interlocutores, crianças, e canções de ninar. E o frio que congela a cápsula espacial e, sempre, o silêncio que permite encontrar-se com ela mesma: refletir sobre a sua vida, suas frustrações e alegrias, suas dores e feridas que encontram , na ausência da atmosfera tóxica, possibilidades de cicatrização. “Você rezará uma prece por minha alma?. Eu vou tentar rezar uma também, embora nunca rezei na minha vida, ninguém me ensinou”. Uma cura da própria vida. Uma conquista do espaço, não do astral, mas do interior, dos meandros da alma.

     Tinha escutado de algum crítico que a performance da Sandra Bullock merecia um Oscar. Como é possível uma mulher ser feminina enfiada num traje de astronauta e movendo-se em câmara lenta? –pensei. Ela consegue; impõe-se, nos gestos, na modulação da voz, nas miudezas, e faz do entorno escuro, gélido, silencioso, o seu habitat. Lembrei –como não?- de Ortega, naquele ensaio magnífico sobre a alma feminina, “Estudos sobre o amor”: A mulher muda o entorno, como o clima faz com o vegetal. E faz de tudo o que a circunda, costume; transforma o ambiente –mesmo inóspito e adverso- num lar.

O nascer do sol, lindo, imponente, sem nuvens na atmosfera que filtrem a sua contundente luz. O oxigênio que escasseia e que é preciso saborear, respirando devagar, como quem degusta vinho, e não cerveja para apagar a sede.

     Alfonso Cuarón, o diretor Mexicano, leva com mérito o Globo de Ouro. Afinal, não é fácil dirigir um ator e meio e quatro vozes ao longo de um filme, mantendo o interesse, segurando uma trama tensa em suspense magnífico. Hitchcock dizia que dar sustos no cinema não requer muito talento, além do que, tudo se resolve em cinco segundos. O mérito mesmo é por conta do suspense onde o diretor brinca com a plateia, minutos, até horas, porque envolve o espectador na trama, torna-o partícipe do que se passa no celuloide. O susto e o terror ficam por conta dos efeitos especiais, da surpresa grosseira. O suspense requer a habilidade de sintonizar de modo quase interativo com os sentimentos do público –emoções, expectativas, medos- e, de algum modo, projetá-los como num espelho nas ações e figuras das personagens. O suspense faz-nos, por algum tempo, viver a vida peculiar dos protagonistas.

Quando o suspense não depende apenas de ações externas, mas das decisões vitais dos protagonistas, a empatia abre um canal de comunicação todo especial. Por isso Sandra Bullock e a sua epopeia particular nos fascinam. Ficamos presos aos seus solilóquios, nos emocionamos quando busca o conforto no latir dos cachorros, nas coisas simples da vida. “Houston in the blind’- assim começam sempre os registros que envia a cegas porque não sabe se alguém a escuta. Têm o sabor daqueles diários femininos, onde se estampavam o colorido da alma, fatos e sonhos, medos e receios, realidades e fantasias em igual proporção. E junto com a cientista que se debate pela sobrevivência, somos obrigados a pensar na nossa própria realidade. Vale a pena estar conectados com milhares de pessoas –quer dizer, com uma plateia que é tão numerosa como irreal e infiel- ou aproveitaria mais nutrir a própria intimidade, e conhecer-nos melhor? Vai ver que é quando desparecem as supostas conexões o momento em que começamos a conhecer-nos. É conhecida a piada daquele que está sendo enterrado, contemplado por apenas um par de sujeitos que comentam: “quem diria, ele tinha milhares da amigos no Facebook. Cadê eles?”.

     Conhece-te a ti mesmo, reza a máxima dos clássicos. Ao que poderia se acrescentar o conselho do monge sábio do século XII, Bernardo de Claraval: “Por maior que pareça o teu saber, de nada vale se não te conheces. Não é sábio aquele que não o é para si mesmo”. Conhecer-nos para, depois, poder conhecer os outros e sabermos servir, ser úteis. Conhecimento, silêncio, ponderação, paciência. Aqui encaixa o recado do Papa Francisco, que se recolhe na mensagem já comentada: “Temos necessidade de ser pacientes, se quisermos compreender aqueles que são diferentes de nós: uma pessoa expressa-se plenamente a si mesma, não quando é simplesmente tolerada, mas quando sabe que é verdadeiramente acolhida”

E para tudo isso ser possível é preciso sair do barulho, da correria da alma. É preciso desprender-se da gravidade que nos amarra à terra. Gravidade que nos prende à mediocridade e nos impede, como dizia Guimarães Rosa, de “botar para se esquecer uma porção de coisas -as bestas coisas em que a gente no fazer e no nem pensar vive preso, só por precisão, mas sem fidalguia”. E ai sim, focar-se no que interessa, encontrar as verdadeiras prioridades, aquilatando as lembranças, tornando-as reais, na dimensão certa, em câmara lenta, saboreando-as como o oxigênio da alma que se acaba e do qual precisamos para retomar a nossa vida com passo firme, decidido.

Tudo isso gira na órbita de Gravity. Um filme superior. Um diretor corajoso. Uma atriz monumental.

Pablo González Blasco

Publicado originalmente em <http://www.pablogonzalezblasco.com.br/2014/02/20/gravidade-epopeia-feminina-a-conquista-do-espaco/> Último acesso: 16/07/2015.

A cruz e a coroa: por uma justificação democrática das concepções éticas e dos símbolos religiosos na esfera pública (por Tarcísio Amorim)

Filosofia | 16/07/2015 | | IFE RIO

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Partindo da teoria do liberalismo político de John Rawls, Cécile Laborde defende um espaço público livre de qualquer simbolismo religioso, entendendo que tais elementos simbólicos ameaçam o senso de cidadania por não representarem a totalidade dos membros de uma comunidade política. Tendo como base a crítica de Michael Sandel e Jürgen Habermas aos princípios do liberalismo rawlsiano, este artigo procura demonstrar que, além de não violar os princípios democráticos, o simbolismo religioso constitui-se como o corolário da exigência liberal do princípio de autonomia política entre aqueles povos que articulam concepções substanciais de bem fundamentadas em razões religiosas. Ainda que do ponto de vista legal tal fato é reconhecido pela jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos, neste ensaio busco oferecer uma justificação moral, além de meramente jurídica, para a afirmação dos símbolos religiosos no Estado liberal democrático.

Os modelos de separação e estabelecimento religioso

No artigo Political Liberalism and Religion: On Separation and Establishment (2011), Cécile Laborde, especialista em teoria política e republicanismo da University College London, toma o conceito de liberalismo político de John Rawls como ponto de partida para a avaliação de quatro modelos sobre o lugar da religião na esfera pública, os quais ela classifica da seguinte forma:

1) Separação Militante – proteção inadequada para liberdades religiosas; apoio oficial e promoção do ceticismo ou ateísmo pelo Estado, laicidade antirreligiosa.

2) Separação Moderada – proteção adequada às liberdades religiosas; ausência de suporte oficial à religião; ausência de financiamento público para a educação religiosa e de outros meios de suporte para grupos religiosos.

3) Estabelecimento Moderado – proteção adequada para liberdades religiosas; suporte oficial de religiões pelo Estado; financiamento público da educação religiosa e outros meios de suporte para grupos religiosos.

4) Estabelecimento Pleno – proteção inadequada às liberdades religiosas; suporte oficial e promoção da ortodoxia religiosa pelo Estado; Estado antissecular e teocrático.

Laborde defende que, enquanto o primeiro e quarto modelo seriam incompatíveis com a democracia liberal por sua falha em proteger os direitos básicos de minorias religiosas e dissidentes, o segundo e o terceiro são geralmente aceitos na literatura acerca do liberalismo democrático, que se divide quanto ao grau de viabilidade que cada um provê em diferentes contextos.

No caso do Estabelecimento Moderado, a teórica afirma que ele pode ser proposto com base em princípios liberais, apelando-se para a razão pública. Este seria o caso se, por exemplo, o estado provesse fundos para capelanias militares a fim de garantir o direito para seus membros de praticar sua religião. Da mesma forma, associações ou instituições de caráter religioso poderiam ser patrocinadas quando estas oferecessem serviços cujo valor fosse publicamente reconhecido, especialmente quando outras organizações privadas não religiosas usufruíssem do mesmo benefício.

Para a Separação Moderada, Laborde contraria o argumento de que este modelo só poderia prevalecer a partir de razões seculares abrangestes (usando o termo rawlsiano), que impõem uma cosmovisão secular sobre cidadãos religiosos. Isso porque, seguindo a lógica do consenso sobreposto de Rawls, estes mesmos cidadãos poderiam encontrar argumentos em seus próprios sistemas doutrinários para apoiarem a separação – tal como na ideia cristã de um dualismo compreendendo o mundo temporal e o sagrado. Entretando, Laborde concede que visões ateias e agnósticas poderiam ter mais oportunidades de florescimento numa sociedade em que este modelo é adotado. Para remediar tal situação, a autora defende que o Estado pode adotar medidas para contrabalançar possíveis efeitos injustos de arranjos institucionais e legais, como, por exemplo, políticas de exceções que visem acomodar demandas de grupos religiosos.

Na última seção, porém, Laborde advoca uma visão liberal republicana, que implica a exclusão dos elementos simbólicos da religião. O principal argumento para tal modelo é que o liberalismo político deveria se preocupar não somente com a distribuição de direitos e oportunidades básicas, mas também com outras formas mais intangíveis de reconhecimento. A autora pretende excluir até mesmo as formas mais modestas de estabelecimento afirmando que nas democracias onde ele existe a promoção oficial de símbolos religiosos acabaria por representar não-religiosos como cidadãos de segunda classe, ameaçando seu senso de cidadania e prejudicando sua capacidade de apoiar as instituições políticas. A visão republicana toma o simbolismo oficial como matéria de justiça básica, já que seria necessário assegurar a neutralidade também nesse âmbito, a fim de prevenir uma concepção parcial de cidadania. Neste modelo, símbolos religiosos como crucifixos e cerimônias oficiais presididas por clérigos são exemplos de práticas que deveriam ser banidas, ainda que elas a priori não apresentem nenhuma ameaça às liberdades básicas dos cidadãos. A proposta de Laborde constitui-se um passo adiante na secularização do Estado em relação aos modelos vigentes na Europa, onde o estabelecimento simbólico ainda é comum em muitos países e contam com o apoio das leis internacionais. O modelo britânico, nesse sentido, é particularmente ilustrativo.

Sobre a natureza da razão pública e da constituição do Estado

A primeira limitação de tal esboço teórico, porém, encontra-se na ausência de um engamento adequado com a literatura acerca do tema da razão pública e religião. De fato, há uma ampla crítica à ideia rawlsiana de uma razão pública desvinculada de visões religiosas e outras doutrinas abrangentes, fundamentada na oposição ao argumento de que existiriam princípios básicos de justiça que poderiam ser razoavelmente aceitos por todos os cidadãos, independentemente de suas convicções particulares. Cécile Laborde simplesmente toma de forma acrítica aquilo que a literatura kantiana convencionou chamar de a prioridade do “justo” sobre as concepções de vida boa1, deixando de lado os desenvolvimentos recentes no campo da teoria política que questionam tal relação.

Uma das críticas a essa visão que divide o indivíduo em um ser político e social, avançando uma concepção de razão pública que estaria restrita aos aspectos básicos da justiça distributiva – deixando a busca da realização das concepções de vida boa para a esfera privada – foi articulada pelo filósofo Michael Sandel. Como ele explica, a teoria liberal é fundada na concepção kantiana do ser desvinculado, ou seja, do indivíduo racional que é livre para escolher entre diferentes concepções de bem ser estar associado aos seus fins a priori. O indivíduo é livre somente enquanto exerce sua capacidade racional, sendo a liberdade entendida como o próprio processo pelo qual este indivíduo toma parte no mundo inteligível e reconhece sua vontade autônoma. O que está em questão, nas palavras de Sandel (2007, p. 215), é uma “perspectiva de como o mundo é”, e uma “concepção particular do indivíduo”. Se a justiça está somente relacionada com a possibilidade de escolha do indivíduo de suas próprias concepções de vida boa, então há uma noção ontológica do indivíduo que antecede sua existência, já que seus fins não são dados a priori, e os elementos empíricos dessa existência são abstraído do ato de escolha racional. De um ponto de vista comunitarista, Sandel questiona até que ponto essa possibilidade de escolha se aplica para aqueles que endossam uma visão dos fins da vida humana como associados ao caráter coletivo de sua comunidade e suas concepções éticas abrangentes. Adicione-se ainda o fato de que partindo de um ponto de vista metafísico, pode-se associar os fins da vida humana com uma interpretação cosmológica do mundo, que exige sua descoberta ao invés da mera criação, e que também se reflete na coletividade, dissolvendo a separação entre a moral política e a ética privada. Nesses casos, existe um conflito ontológico entre a concepções do ser desvinculado e a visão do ser constituído, ou seja, do sujeito cujos fins estão associados com outras realidades externas.

Vale notar que é justamente esta definição que leva Sandel a defender a proteção especial de práticas religiosas, com o argumento de que é por conta da natureza constituída do ser que indivíduos podem julgar seus compromissos religiosos não como um objeto de eleição (comparado-se com gostos pessoais ou práticas habituais não vinculativas), mas como parte de sua identidade e constituição como seres humanos. Mandamentos religiosos, nesse sentido, não podem ser tratados como matéria de predileção, e por isso o Estado deveria conceder exceções para algumas demandas de religião (permitir o uso do véu islâmico, por exemplo, não é o mesmo que modificar requisitos de uniforme a fim de se acomodar outras preferências contingentes de vestimenta). Ao endossar o princípio de moralidade política rawlsiano, Laborde superestima a capacidade do Estado liberal em prover meios adequados para acomodação das práticas religiosas, quando discorre sobre o modelo da Separação Moderada. Se o Estado liberal não reconhece os fins morais do indivíduos como constituídos, então como garantir que a proteção dessas práticas não fiquem à mercê das contingências do processo democrático e da vontade da maioria como qualquer outra matéria de preferência pessoal? É o que vem acontecendo na França desde 2004, quando o uso de símbolos religiosos individuais foi proibido nas escolas públicas.

Outra oposição à visão rawlsiana de razão pública se dirige à sua exigência de tradução dos argumentos religiosos em termos seculares. Laborde se opõe aos críticos da separação dizendo que cidadãos religiosos podem encontrar razões em seus próprios esquemas doutrinais para endossarem o estado liberal. Ela retoma a ideia de consenso sobreposto, presente na teoria de Ralws, pela qual os aderentes de doutrinas abrangentes consentem com os requisitos do Estado liberal por suas próprias razões em matérias políticas, enquanto buscam realizar suas crenças nos ambientes privados. Como exemplo, Laborde menciona o princípio cristão que ordena dar “a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, ilustrando a convergência entre doutrinas religiosas e o argumento liberal pela separação. Não é preciso lembrar, porém, que este princípio envolve diferentes e complexas interpretações teológicas e filosóficas da distinção entre o mundo sagrado e secular e que esta mesma dicotomia, que Jose Casanova (1994, p. 12-13) reconhece ser uma herança do Cristianismo em sua análise da secularização do ocidente, não se aplica da mesma forma a outras tradições religiosas, como o islamismo. O argumento, portanto, é inválido por sua própria natureza. A autora simplesmente parte do princípio liberal de forma acrítica, sem uma justificação satisfatória, exigindo que os cidadãos religiosos adaptem suas razões de modo a fazê-las convergir com os requisitos do estado liberal.

Em Religion in the Public Sphere (2006), Jürgen Habermas critica essa lógica, defendendo que exigir a restrição das razões abrangentes seria impor um fardo injusto sobre aqueles que se apoiam em visões religiosas para guiarem suas ações políticas. O filósofo sublinha que de acordo com as convicções de muitos fiéis, basear suas decisões acerca de matérias fundamentais de justiça não é uma questão de escolha. Para ilustrar esse ponto, Habermas recorre a uma reflexão desenvolvida por Nicholas Wolterstorff:

É de sua convicção que eles devem buscar a totalidade, integralidade e integração em suas vidas: que eles devem permitir que a Palavra de Deus, os ensinamentos da Torah, os mandamentos e exemplos de Jesus, ou o que for, definam sua existência como um todo, incluindo, portanto, sua existência social e política (Wolterstorff apud Habermas, 2006, p. 8).

Nesse sentido, se o estado liberal tem como objetivo proteger os direitos dos cidadãos religiosos de modo que eles possam perseguir suas próprias concepções de vida boa, ele não pode exigir que eles justifiquem seus argumentos políticos de forma independente de suas visões abrangentes2. Habermas, portanto, opõe-se a divisão da concepção de cidadania em uma identidade pública e outra privada.

Tal lógica converge com outra realidade da qual o liberalismo político tenta esquivar-se: a da impossibilidade da construção da uma esfera pública neutra, desvinculada de concepções particulares de vida boa. Essa realidade foi ilustrada no debate entre o próprio Jürgen Habermas (1994) e o filósofo canadense Charles Taylor (1994), em torno da política de reconhecimento. Para este, o procedimentalismo liberal3 não seria capaz de atender às demandas de grupos e movimentos culturais que carregam identidades e objetivos coletivos. Mencionando as particularidades das leis do Quebeque, que restringem o uso da língua inglesa em nome da sobrevivência da cultura franco-canadense, Taylor argumenta que o princípio da autonomia política, que garante que indivíduos possam perseguir suas concepções de bem, pode implicar a exigência do reconhecimento oficial de identidades coletivas, cujas mesmas concepções abrangentes de bem marcam a esfera pública com suas visões de mundo em diversos âmbitos: língua oficial, currículo escolar, escolhas de datas celebrativas, símbolos nacionais, etc. Para Taylor, a política do reconhecimento, assim explicada, constituiria um outro tipo de liberalismo, distante das concepções kantianas procedimentalistas que enfatizam a neutralidade do Estado. Habermas, por outro lado, ainda endossando a crítica ao procedimentalismo liberal, rejeita a enumeração de diversos tipos de liberalismo, afirmando que o próprio princípio de autonomia liberal exige o reconhecido de identidades coletivas e mesmo das políticas de diferença. Mais ainda, Habermas admite que toda comunidade jurídica e todo processo de implementação de direitos básicos é informado pelas tradições e experiências particulares das comunidades na qual seus cidadãos se inserem. Assim, embora ressalte o compromisso do Estado liberal com as liberdades fundamentais, o filósofo concede que todo sistema legal é sempre a expressão de uma forma particular de vida e não somente o reflexo de caraterísticas universais de direitos básicos. Como exemplo, ele menciona os privilégios constitucionais gozados pelas Igrejas cristãs na Alemanha, que remontam ao seu papel histórico na formação dos valores nacionais e no desenvolvimento de suas instituições políticas. Nesse entendimento, toda sociedade democrática carrega símbolos e concepções éticas particulares, que embora não sejam universalmente compartilhadas, constituem a base sobre a qual tais sociedades constroem suas instituições políticas. Para o filósofo republicano David Miller (2000), é exatamente essa característica que permite com que uma nação possa participar do processo democrático identificando-se como um povo particular.

Considerações Finais

Dito isso, pode-se retomar as principais objeções de Cécile Laborde com relação ao simbolismo religioso e verificar sua procedência. Como vimos, a autora avança uma concepção liberal/rawlsiana de esfera pública, na qual se exige que os indivíduos abdiquem de suas concepções substantivas de bem na deliberação sobre os princípios básicos de justiça. Seguindo a crítica de Sandel à visão do ser desvinculado, unida à oposição de Habermas à concepção dual de cidadania, deve-se rejeitar tal perspectiva, pois as concepções particulares de bem informam e condicionam o todo ato de escolha e justificação política. A concepção liberal, nesse sentido, não pode ser universalmente compartilhada, pois exigiria a priori um tipo de justificação também baseada em uma visão particular do indivíduo e da razão pública.

Por fim, Laborde rejeita a promoção de símbolos religiosos pelo Estado, alegando que eles imporiam uma ameaça ao senso de cidadania, por não representearem todos os membros de uma determinada comunidade política. Tendo em vista, porém, a exposição de Habermas sobre a impossibilidade de um espaço público neutro, podemos concluir que, embora os símbolos políticos lhe sejam inerentes, nenhum Estado pode representar todos os cidadãos em cada item de seu arcabouço simbólico. Através de sua língua, literatura, de seu sistema educacional e currículo escolar, bem como da escolha de seus elementos celebrativos um povo constrói suas instituições de forma particular, distinguindo-se de seus vizinhos e delineando suas fronteiras por seu senso de nacionalidade. A própria escolha constitucional entre uma monarquia parlamentarista ou um sistema republicano é contingente à história particular de uma nação, cuja simbologia cultural permeia tais instituições. Sendo assim, qual seria a diferença entre a cruz e a coroa?

Foi seguindo tal lógica de pensamento que Joseph Weiler (2010), professor de Direito na Universidade de Nova York e presidente do Instituo Universitário Europeu de Florença, apresentou a defesa da manutenção dos crucifixos nas escolas italianas perante a Corte Europeia de Direitos Humanos em 2011. Seguindo a lógica de Miller sobre a necessidade dos símbolos para a coesão democrática, Weiler ressaltou que “muitos de nossos símbolos estatais, por causa da história europeia, uma história de centenas e milhares de anos de entrelaçamento com o cristianismo, carregam uma dimensão religiosa(…)”. “A cruz”, ele destaca, “é o exemplo mais visível, aparecendo em diversas bandeiras, brasões, prédios, moedas, etc.”. Antes disso, porém, o Tribunal Administrativo de Veneto já havia decidido internamente por essa causa, argumentando que o crucifixo é não só um símbolo da evolução cultural e histórica do povo italiano, mas também de um sistema de valores que fundamentam a identidade nacional (2005, sec. 11.9).

Se admite-se, portanto, que as manifestações de símbolos culturais pelo Estado, além de inevitável em uma democracia liberal, condicionam sua coesão processual e eficácia jurídica na afirmação do princípio de autonomia, pode-se rejeitar o argumento de Cécile Laborde de que elementos simbólicos de origem religiosa ameaçam o senso de cidadania. Toda expressão cultural de uma comunidade política reflete uma história particular, que marca tradições e costumes não universais. Assim como a língua francesa, no exemplo de Charles Taylor, representa uma concepção substancial de vida boa e uma determinada visão de mundo, a escolha pelo estabelecimento moderado não viola os princípios democráticos, já que não há nesse modelo nenhuma restrição das liberdades religiosas básicas, fato que a mesma Laborde admite. Como explícito no próprio modelo rawlsiano, tratar o simbolismo religioso de forma diferente de qualquer outro simbolismo cultural seria impor uma restrição injusta e parcial, já que – mantendo-se as estruturas básicas de direito – não há nenhum motivo para se abordar concepções substanciais de vida boa de maneira diversa pelo simples fato de uma ser secular e outra religiosa. Uma vez que se entende a natureza constitucional do Estado como eticamente orientada, não é possível defender uma concepção secular de republicanismo nos termos de Laborde, e deve-se, portanto, admitir a validade dos símbolos religiosos como expressão cultural de uma comunidade política.

Bibliografia

CASANOVA, José. Public religions in the modern world. Chicago : University of Chicago Press, 1994.

HABERMAS, Jürgen. Lutas pelo reconhecimento no estado democrático constitucional. In: GUTMANN, Amy (org.).Multiculturalismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.

______. Religion in the public sphere. European Journal of Philosophy, 14, 1, 2006, p. 1–25.

Joseph Weiler’s testimony before the European Court of Human Rights. Dotsub. 2010. Disponível em <https://dotsub.com/view/65bc5332-aa10-4b8c-bc50-d051e8f4fcc7>.

LABORDE, Cecile. Political Liberalism and Religion: On Separation and Establishment. The Journal of Political Philosophy, March, 2011.

MILLER, David. Citizenship and national identity. Cambridge: Polity Press, 2000.

SANDEL, Michael. Filosofía pública. Bercelona: Marbot ediciones, 2007.

TAYLOR, Charles. A política do reconhecimento. In: GUTMANN, Amy (org.). Multiculturalismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1994, p. 45-94.

Tribunale Amministrativo Regionale per il Veneto, Sentenza 17 marzo 2005, sec. 11.9

Notas

1 O justo nessa tradição é entendido em seu aspecto universal, já que o indivíduo deve recorrer aos princípios básicos que se supõem genericamente compartilhados. John Rawls parte desse conceito ao exigir que o indivíduo abdique de suas concepções morais particulares em vista da razão pública, que se supõe universal para a deliberação acerca de elementos constitucionais básicos.

2 Sobre a racionalidade dos argumentos religiosos, ver: CARVALHO, Tarcísio A. A complementaridade entre razão e religião no âmbito democrático e os desafios do mundo contemporâneo: dez anos do debate Habermas-Ratzinger. Dicta & Contradicta, 2014. Disponível em <http://www.dicta.com.br/a-complementaridade-entre-razao-e-religiao-no-ambito-democratico-e-os-desafios-do-mundo-contemporaneo-dez-anos-do-debate-habermas-ratzinger/>.

3 A ideia da democracia procedimental, presente nas teorias liberais, se baseia na visão de um estado democrático no qual as instituições políticas serviriam como meros instrumentos de distribuição e administração da justiça, sem endossarem concepções substanciais particulares de vida boa.

Tarcísio Amorim é doutorando em Ciência Política pela University College Dublin e mestre em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Publicado originalmente no site da Revista Dicta & Contradicta

Os Miseráveis (por Victor Bariani)

Cinema | 13/07/2015 | | IFE CAMPINAS

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Os Miseráveis (Les Misérables). Diretor: Tom Hooper.  Hugh Jackman, Russel Crowe, Anne Hathaway, Eddie Redmayne, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter. 158 min. (2012)

Miseraveis_Poster_Nacional

A realidade que nos cerca tem um grande poder de puxar-nos para baixo, fazendo com que olhemos apenas para o miserável e sufocante chão. No entanto, às vezes, a vida pode nos dar um belo presente erguendo-nos para cima para que, mesmo por uns instantes, olhemos de um ponto de vista mais alto e humano, respirando novos ares e aproximando-nos das virtudes e dos valores que nos motivam a viver e que, por muitos momentos, são esquecidos, pois não se encontram no chão que nos habituamos a olhar. O cinema é uma dessas cordas elevadoras de almas, e essa obra de arte da qual escrevo é um verdadeiro guindaste.

Através de um belíssimo musical, somos convidados a entender como um homem pode retribuir a injustiça, a dor e o sofrimento com o perdão, a caridade e o amor. O que, ao olhar para o chão, seria entendido como loucura é aqui a forma mais sublime de se chegar a Deus, revolucionando a si mesmo (que me perdoem os céticos, mas é impossível não falar de espiritualidade e, por conseguinte, de Deus, ao se pincelar impressões sobre esse filme). Afinal, qual é a melhor maneira de criar uma revolução? Por meio do convencimento das massas alguns diriam, ou talvez pegando em armas, diriam outros, ou ainda, fazendo algo incrivelmente revolucionário para suas cabeças, muitos iriam compartilhar a torto e a direito qualquer “post no facebook” relacionado à corrupção política. Contudo, existe outro meio de incitar uma revolução, o qual não envolve nada que se encontre na miséria do chão, mas está dentro de nós: a revolução do amor.

O intuito máximo de uma revolução é a mudança. Dito isso, é válido o seguinte questionamento: na obra em questão, quem de fato cumpriu com os objetivos da revolução? Aqueles que devolveram a dor e a violência na mesma moeda ou aqueles  que tiveram a coragem de estender sua caridade e compaixão ao inimigo? Jean Valjean não incitou as massas, não defendeu a guerrilha, nem muito menos ficaria navegando pela internet com a intenção de jogar pragas virtuais em seus inimigos reais. Em lugar dessas ações compreensíveis, mas ineficazes, ele fez sua parte: influenciou para o bem a vida das pessoas que conheceu, procurando amá-las incondicionalmente. Por que fez isso? Pois um dia fizeram isso para ele quando tiveram a oportunidade de pagar no “olho por olho” um crime desesperado que cometeu. E por que esse alguém retribuiu de maneira tão nobre a ação tão miserável de Jean? Pois um dia fizeram, possivelmente, o mesmo para essa pessoa, de modo que chegamos à conclusão que em cada um de nós existe um gancho que espera que alguma corda prenda nele para nos elevar, para tornarmos mais humanos.

Muita ilusão e idealismo, inaplicáveis à realidade? A questão é: de qual realidade estamos falando? Caso essa realidade seja acabar com as guerras e a miséria, sim, isso é um pensamento muito idealista. Entretanto, nossa realidade é aquilo que nos cerca, de modo que colocar um sorriso no rosto de uma criança, cumprir o dever com alegria e simplicidade, ajudar um homem preso em baixo de uma carroça e amar ao próximo como a ti mesmo são, dentre outros, genuínos atos revolucionários.

Fonte: http://www.pablogonzalezblasco.com.br/2013/06/13/os-miseraveis/ 

INSCRIÇÕES ABERTAS :: “INTÉRPRETES DO BRASIL” :: CURSO DE EXTENSÃO IFE CAMPINAS

Educação | 08/07/2015 | | IFE CAMPINAS

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A proposta do curso é familiarizar o público não especializado com as idéias chave de seis pensadores que marcaram época na reflexão sobre a identidade nacional brasileira e que exerceram influência decisiva sobre a modelagem de nossas instituições políticas e educacionais em sua configuração atual.

São eles: José Bonifácio, Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro.

AGENDA DO CURSO:

(As ementas de cada aula e breve currículo dos professores estão ao final deste post.)

1º/AGOSTO
1. JOSÉ BONIFÁCIO, PATRIARCA DA INDEPENDÊNCIA
Prof. Esp. Rafael Nogueira

22/AGOSTO
2. JOAQUIM NABUCO, ESTADISTA DO IMPÉRIO
Prof. Ms. Bruno Garschagen

12/SETEMBRO
3. GILBERTO FREYRE, PENSADOR DA IDENTIDADE NACIONAL
Prof. Ms. Flávio Alencar

26/SETEMBRO
4. CAIO PRADO JÚNIOR, HISTORIADOR DO BRASIL
Prof. Ms. Fábio Florence

3/OUTUBRO
5. SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, DEFENSOR DA BRASILIDADE
Prof. Ms. Aldo Fernandes

7/NOVEMBRO
6. DARCY RIBEIRO, O ANTROPÓLOGO DA REPÚBLICA
Prof. Dr. João Malheiro

BENEFÍCIOS DO CURSO:

– Único do mercado
– Professores altamente qualificados
– Material (pasta, folhas etc.)
– Conhecimento válido para a vida
– Coffee break a cada atividade
– Salas com recurso multimídia
– Artigos do IFE no jornal Correio Popular no mailing list dos alunos
– Recebimento de certificado ao final

INSCRIÇÕES:

– Enviar e-mail para ifecampinas@ife.org.br solicitando ficha cadastral OU diretamente através deste link http://unisal.br/cursos/interpretes-do-brasil/ (Clique do lado direito em “Inscreva-se para este curso”)
– INVESTIMENTO: 5 parcelas de R$ 129,00 para 6 aulas (R$ 129,90 na Matrícula + 4 de R$ 129,00)

HORÁRIO: Manhãs de sábado. 9h00-10h30 (1ª parte); 10h30 Coffee break; 11h00-12h00 (2ª e última parte)

REALIZAÇÃO:

IFE CAMPINAS
www.ife.org.br

PARCERIA:

UNISAL
www.unisal.br

LOCAL:

UNISAL – Liceu Salesiano
Unidade Liceu Salesiano, R. Baronesa Geraldo de Resende, 330
Jd. Guanabara, Campinas/SP – CEP 13075-270

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→ Para visualizar o cartaz do curso em PDF acesse este link: http://ifecampinas.org.br/wp-content/uploads/2015/06/Cartaz_InterpretesBrasil-WEB-PDF.pdf
→ Para visualizar o cartaz do curso em JPEG acesse este link: http://ifecampinas.org.br/wp-content/uploads/2015/06/Cartaz_InterpretesBrasil-WEB-high_02.jpg

EMENTAS E BREVE CURRÍCULO DOS PROFESSORES

1º/AGOSTO
  1. JOSÉ BONIFÁCIO, PATRIARCA DA INDEPENDÊNCIA

José Bonifácio de Andrada e Silva desempenhou papel fundamental não apenas em nosso processo de emancipação, mas também na construção de um governo centralizador e forte o bastante para impedir a fragmentação do território nacional. Homem de visões lúcidas e ricas, assinalou o papel positivo da miscigenação racial para a formação da nação brasileira, arquitetou o poder moderador (decisivo para a estabilidade política do império) e exerceu importante influência na formação de Dom Pedro II, na qualidade de seu tutor pessoal.

Por Rafael Nogueira: Especialista em Educação pela UNIMES, Bacharel em Direito, Licenciado e Bacharel em Filosofia pela UniSantos.

22/AGOSTO
  1. JOAQUIM NABUCO, ESTADISTA DO IMPÉRIO

Conhecido como figura de ponta do movimento abolicionista, Joaquim Nabuco foi um verdadeiro “cidadão do mundo”. Frequentou os principais meios intelectuais da chamada “Era Vitoriana” e elaborou importantes e originais lições a partir da prática política de seu pai, senador Nabuco de Araújo, um dos arquitetos da política da conciliação no segundo reinado.

Por Bruno Garschagen: Palestrante, Escritor, Editor e Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela UCP (Portugal). Visiting student da University of Oxford.

12/SETEMBRO
  1. GILBERTO FREYRE, PENSADOR DA IDENTIDADE NACIONAL

Autor de uma das obras mais originais sobre a formação da identidade brasileira, “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freyre é, sobretudo, conhecido pela avaliação positiva da miscigenação racial como fator de formação do povo brasileiro. Mas, além disso, empreendeu longas viagens por territórios de colonização portuguesa e empreendeu, até o fim de sua longa vida, um incansável esforço para compreender o caráter específico da colonização da portuguesa e suas constantes culturais.

Por Flávio Alencar: Mestre em História pela UFF (RJ) e pesquisador visitante no Russell Kirk Center (EUA).

26/SETEMBRO
  1. CAIO PRADO JÚNIOR, HISTORIADOR DO BRASIL

A obra do paulista Caio Prado Júnior é marcada pela tentativa de adaptação do pensamento marxista à análise da formação brasileira. Seguindo a conhecida sentença de Marx, segundo a qual “os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; trata-se agora de transformá-lo”, Prado Júnior influenciou de maneira decisiva os movimentos sociais de esquerda que até hoje marcam forte presença na política brasileira.

Por Fabio Florence: Doutorando pela PUC-SP, Mestre em Filosofia pela UNICAMP e bacharel em Direito pela PUC-Campinas (SP).

3/OUTUBRO
  1. SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, DEFENSOR DA BRASILIDADE

Autor do celebrado clássico “Raízes do Brasil”, mas também de “Caminhos e Fronteiras”, Sérgio Buarque de Holanda adaptou o instrumental teórico de grandes historiadores alemães, como Leopold Von Ranke e Eduard Meyer, e do sociólogo Max Weber para compreender a especificidade do homem brasileiro.

Por Aldo Rio Branco Fernandes: Gen Bda Ex, Mestre em História do Brasil e Professor de História da EsPCEX e da AMAN (SP).

7/NOVEMBRO
  1. DARCY RIBEIRO, O ANTROPÓLOGO DA REPÚBLICA

Influenciado pelo marxismo, mas não limitado a ele, Darcy Ribeiro empreendeu o último grande esforço teórico de interpretação da realidade brasileira em seu clássico “O Povo Brasileiro” (publicado em 1995). Além de antropólogo e romancista, Ribeiro desempenhou papel de destaque nas reformas educacionais brasileiras nos governos de João Goulart e, no Rio de Janeiro, de Leonel Brizola.

Por João Malheiro: Doutor em Educação pela UFRJ, pesquisador e autor do livro “A Alma da Escola do Século XXI”

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Agradecemos sua atenção.
Cordialmente,

Equipe IFE Campinas.