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Novos rumos

Opinião Pública | 11/04/2018 | | IFE CAMPINAS

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Dentre os males do homem atual, sobressai a sistemática elevação da violência como método particular e privilegiado para a resolução de conflitos. Basta abrir o jornal ou ouvir o noticiário. Na raiz de um verdadeiro flagelo que o homem conhece desde que é homem e que, hoje, tomou uma proporção tal que ameaça a sobrevivência social, localizamos, dentre várias causas, a perda do sentido do valor, tanto do homem quanto das coisas que nos cercam.

Parece que a humanidade dividiu-se entre a minoria que acredita no mito prometeico da onipotência humana e a maioria que conhece a falta de qualquer poder como a principal experiência de vida, relegada à massa de manobra daquela minoria.

Some-se a isso aquele vazio de valor do homem e das coisas e, assim, entramos num momento de ruptura da estrutura essencial de nossa civilização. Seus elementos constitutivos transformaram-se num amálgama existencial, no qual não se consegue mais distinguir o bem do mal, o verdadeiro do falso, o certo do errado e assim por diante. Efeito prático: o poder constituído descamba para o arbítrio e o arbítrio para o totalitarismo.

Boa parte dessa confusão de línguas é fruto do niilismo, que tem em Nietzsche uma testemunha de vanguarda de nossas piores tentações existenciais. Um de seus fragmentos esclarece qualquer dúvida: “o niilismo não é apenas uma contemplação da inutilidade de tudo, nem apenas a convicção de que todas as coisas merecem cair em ruína. Pondo mãos à obra, manda-as para a ruína (…). A aniquilação com a mão acompanha a aniquilação com o juízo”.

Palavras duras. Palavras proféticas. Como já disse para um fiel leitor, é impossível não ter uma certa afeição do Nietzsche que questiona o Estado tentacular, denuncia os graves problemas e as limitações teóricas das ideologias, ridiculariza a sede de dinheiro e o conforto material desmedido.

A confusão nos conceitos que construíram nossa existência ao longo de séculos – bem, mal, verdade, mentira, certo, errado – gera justamente a perda do valor específico de cada um deles, escapando de nossa capacidade de compreensão e tornando-se inútil para qualquer fim.

Aqui está um ponto-chave. Saber compreender a realidade da existência atual. Não podemos nos satisfazer com uma espécie de determinismo existencial, que assume a aparência espúria de “necessidade histórica” ou de qualquer outro nome pomposo. Tampouco por explicações que retiram a noção de livre vontade do indivíduo no agir social, reduzindo-a a um mero efeito de uma ação bioquímica de uns neurotransmissores cerebrais.

Compreender não significa diminuir o choque da experiência, mas, segundo Arendt, saber examinar e suportar conscientemente o fardo que nosso século colocou sobre nossos ombros e interpretar a realidade sem preconceitos, ao custo que for.

Dessa maneira, no âmbito social, o crescente número de leis em defesa da mulher é causado, em última análise, pela ausência do exercício de virtudes sociais no seio da família, como a solidariedade e a generosidade, e não por causa da estrutura do patriarcalismo familiar, que, apenas, pode potencializar aquela ausência. A falta de compromisso nas relações sociais não é decorrente de um “imperativo do homem pós-humano que vive no seio da modernidade líquida”, mas porque se perdeu a ideia do outro como uma dimensão irradiadora de valores.

Em todas as épocas, a humanidade sempre se viu diante de desafios. Hoje, a história oferece-nos um outro, mais complexo: o desafio de compreender o real poderio do homem atual e a nossa incapacidade de viver um sentido desse mundo criado por esse poderio. Nosso futuro depende do caminho pelo qual esse desafio será levado, mas também do resgate do valor transcendente do homem e das coisas. Com respeito à divergência, é o que penso.

André Gonçalves Fernandes. Ph.D., é juiz de direito, professor-pesquisador, coordenador acadêmico do IFE e membro da Academia Campinense de Letras

Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição 11/04/2018, Página A-2, Opinião.

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Agenda | 28/04/2016 | | IFE CAMPINAS

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5º SEMINÁRIO IFE - ARTE EVENTO COMPLETA WEB—> INSCREVA-SE AQUI: http://goo.gl/forms/XJAVd4YioH
(Entrada franca)

Prezados(as),
Estão abertas as inscrições para a próxima edição de nossos seminários IFE/ACL. Essas vão até 05 de Maio ou até acabarem as vagas. Seguem informações abaixo:

IFE CAMPINAS E ACADEMIA CAMPINENSE DE LETRAS APRESENTAM:

5º SEMINÁRIO IFE CAMPINAS/ACL

“ESTADO E SOCIEDADE: CRISES E TENSÕES”

DATA: 07 DE MAIO DE 2016 | HORÁRIO: 14H00

PALESTRAS:*

1ª Palestra
Título: Estado, cidadania e educação
Por Pedro Goergen: Professor da FE (UNICAMP), com Doutorado em Filosofia pela Universität München (Alemanha); experiência em áreas como Filosofia da Educação, Ética e Teoria Crítica. É membro da ACL.

Coffee-break – 15H30

2ª Palestra
Título: Estado e violência
Por Roberto Romano: Professor do IFCH (UNICAMP), com Doutorado em Filosofia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (França); experiência em áreas como Ética, Filosofia Política e História da Filosofia.

* Ao final de cada palestra haverá 10min. para perguntas e respostas. Quem desejar receberá certificado de participação. Basta informar na inscrição que o deseja.

LOCAL:
Academia Campinense de Letras
Rua Marechal Deodoro, 525 – Centro, Campinas – SP

—> INSCREVA-SE AQUI: http://goo.gl/forms/XJAVd4YioH
(Entrada franca)

Dúvidas? Contate-nos através do e-mail ifecampinas@ife.org.br

REALIZAÇÃO: IFE CAMPINAS
PARCERIA: ACADEMIA CAMPINENSE DE LETRAS

APOIO:
ANUBRA/BRASIL
FÓRUM DAS AMÉRICAS

5º SEMINÁRIO IFE/ACL – “ESTADO E SOCIEDADE: CRISES E TENSÕES” – SÁB. 07/MAI 14H00 | LINK PARA INSCRIÇÃO NESTE POST

Seminários IFE | 20/04/2016 | | IFE CAMPINAS

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5º Seminário IFE-ACL - Arte A4 Completa - 760px - sitePrezados(as),
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Religião, violência e liberdade (por Joathas Bello)

Teologia | 17/02/2015 | | IFE CAMPINAS

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Sacrifice_of_Isaac-Caravaggio_(Uffizi)

René Girard, importante autor contemporâneo, sustenta que a religião é um dos meios mais poderosos com os quais o homem contou para controlar a espiral de violência que ameaça a comunidade: a solução do bode expiatório servia para amenizar os conflitos sociais nascidos do que ele chamou “desejo mimético” (o desejo do desejado por outrem)[1]. Como tese global sobre as religiões é uma ideia discutível, mas não é meu intento discuti-la aqui, senão que gostaria de chamar a atenção, primeiramente, para o significado que ele vê no relato bíblico em que Deus impede o sacrifício de Isaac: o que ali se estaria nos dizendo é que Ele não deseja sacrifícios humanos, e que, portanto, não se solidariza com as religiões que têm sua base nesta prática (e cujos deuses são, portanto, ídolos). Ainda segundo Girard, quando Cristo, vítima inocente, faz-se expiação, seu sacrifício, solidário com o de todas as vítimas da injustiça, religiosa ou não, representa a abolição de todo e qualquer sacrifício cruento, mesmo o de animais; de agora em diante, a Igreja cristã ofereceria apenas o sacrifício eucarístico das espécies consagradas. Ao contrário do que repetem certas visões superficiais, Deus não é um sujeito sanguinário e arbitrário a impor sua vontade, mas aceita até mesmo a consequência mais sórdida da liberdade humana, que é a morte do seu Filho, para justamente através dela resgatar o homem da morte. Em Deus, o atributo da vontade aparece unido à inteligência: é razoável seu agir, Ele não resolve a violência através da violência, mas a vence com amor, e convida a liberdade humana a fazer o mesmo.

O Ocidente nasceu sob a égide destas ideias: uma Razão amorosa que liberta a pessoa humana e lhe revela a verdade de sua dignidade. No final da Idade Média, a filosofia nominalista, para acentuar a onipotência divina, negou as essências eternas em Deus: Ele poderia ter feito tudo de outro modo e, no campo moral, poderia ter ordenado mandamentos contrários aos que ordenou (de acordo com essa visão, se Deus quisesse, o assassinato ou até mesmo o ódio contra Ele poderiam ser meritórios); até por conta disso é que não há, para o nominalismo, conceitos universais, mas só realidades individuais. A partir dessas ideias é que se vai formando o pensamento moderno, e, aos poucos, vão se acentuando cada vez mais a vontade e a liberdade como as principais características do ser humano, uma vontade independente da razão, e, consequentemente, uma liberdade cada vez mais dissociada do bem objetivo: o homem (cada indivíduo) agora é livre para eleger ou inventar os seus fins; a liberdade só é limitada pela liberdade dos demais[2]. Nesse ambiente surgem as várias liberdades modernas ou liberais: liberdade de culto, liberdade de opinião, liberdade de expressão, etc. Depois de muito conflito, a Igreja Católica se dispôs a reconhecer o que haveria de positivo –desde sua perspectiva– nas liberdades modernas, com a Declaração sobre a Liberdade Religiosa, do Concílio Vaticano II[3]. O que ali se expressa é que a liberdade de consciência não é uma liberdade independente da verdade, mas para a busca da mesma[4]. Assim, não há, para a pessoa humana, uma liberdade absoluta: entre outras coisas, não há liberdade para o exercício da ofensa, seja esta, por exemplo, em forma de blasfêmia, seja na forma mais atroz, de atentar contra a vida de outrem[5].

As religiões, especialmente aquelas que se consideram herdeiras de Abraão, deveriam dar testemunho dessa relação entre liberdade, razão e amor –é bastante complicada para a(s) teologia(s) muçulmana(s) a questão da liberdade humana frente a onipotência divina (o mutazilismo foi um intento frustrado), mas o que digo aqui é o que se requer para uma mútua convivência–, e, na esteira do ensinado por Girard, compreender que, assim como não quis o sacrifício de Isaac (ou de Ismael, na versão do Alcorão), Deus não quer vítimas humanas em seu nome: o não fiel é alguém a quem propor a fé e com quem se deve conviver. Por outro lado, o Ocidente secularizado deveria aprender que o “deus” do qual ele burla é um espantalho que não corresponde à adequada imagem divina, que nos selou com um profundo anelo pela liberdade.

Joathas Bello é Doutor em Filosofia pela Universidade de Navarra.

NOTAS

[1] Cf. GIRARD, René. A violência e o sagrado. Tradução: Martha Conceição Gambini. S. Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1990.

[2] Não é meu intuito resumir o complexo processo que levou do nominalismo ao liberalismo (sobre o voluntarismo do que é considerado o pai da modernidade, Descartes, por exemplo, pode-se ver: ZUBIRI, Xavier. Natureza, História, Deus. Tradução: Carlos Nougué. São Paulo: É Realizações, 2010, pp. 163-168), mas quero deixar indicado um possível paralelismo entre a teologia nominalista (da onipotência divina suprarracional) que estaria na raiz da liberdade sem freios do Ocidente, e aquela teologia que domina nos meios fundamentalistas islâmicos (da imposição da vontade/lei divina), que gera o terror irracional. Inclusive os totalitarismos ocidentais se inscreveriam nesta problemática: eles nada mais seriam que a tentativa de unir à força os indivíduos que já não podem mais se encontrar razoável e amorosamente (uma maneira de entender a relação nominalismo-individualismo-totalitarismo pode ser vista em: CORÇÃO, Gustavo. Dois amores, duas cidades: A civilização do homem-exterior [2o volume]. Rio de Janeiro: Agir, 1967, pp. 260-265).

[3] Cf. http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html.

[4] A liberdade religiosa é compreendida pelo liberalismo como o direito do indivíduo a escolher a religião que lhe aprouver, uma vez que não se poderia falar de uma “religião verdadeira”; para o catolicismo, tal direito (natural) existe para que a pessoa humana adore a Deus em verdade, isto é, para que mantenha uma relação autêntica com a questão do sentido da existência, buscando-o sem constrangimento.

[5] Laicistas e fundamentalistas islâmicos transformam em bode expiatório, respectivamente, os religiosos e os “infiéis”: os primeiros, simbolicamente, através do escárnio, e os segundos, fisicamente, através do assassinato.

*** Texto publicado originalmente no site da revista do IFE, Dicta&Contradicta, em 11 de Fevereiro de 2015. Link: http://www.dicta.com.br/religiao-violencia-e-liberdade/