A inclusão vista de perto

Opinião Pública | 02/06/2015 | | IFE CAMPINAS

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Criança de três anos com autismo indicando um peixe em aquário. Foto: Connie Kasari (Wikipedia Creative Commons: link http://en.wikipedia.org/wiki/Autism#/media/File:Opening_a_window_to_the_autistic_brain.jpg)

Criança de três anos com autismo indicando um peixe em aquário. (Foto: Connie Kasari, Wikipedia – Creative Commons, link da imagem aqui)

 
Muito se discute sobre dos problemas do nosso tempo. De fato, não são poucos. Contudo, há uma questão que me deixa orgulhoso por viver em nossa época. Refiro-me à inclusão, notadamente a escolar. Não porque a vivamos à perfeição – muito pelo contrário –, mas sim pelo esforço que começa a ser feito para termos uma sociedade mais humana e menos propensa a considerar apenas como dignos aqueles sem qualquer transtorno ou deficiência.

Tenho um filho com autismo e sou professor, isto é, vivencio os dois lados dessa solução, incluir, que muitas vezes é um problema.

O lado perverso da inclusão ainda é o fato de haver escolas que negam a matrícula a crianças diferentes. A desculpa, quando existe alguma, é a de que os professores não estão aptos para a tarefa. Mas a primeira questão que deve ser feita a professores, coordenadores e pais é: quem está preparado? Quando recebi o diagnóstico do meu filho, tudo o que tinha era boa vontade. E isso, ao menos no início, faz toda a diferença, tanto do lado da escola como dos pais.

Alguns poderão objetar afirmando ser um dever dos profissionais da educação saber lidar com o transtorno, como por exemplo, o autismo. Mas, mesmo eu, que tenho um filho nessa condição e sou professor, não sei o suficiente para ensinar jovens de 13 a 16 anos, faixa etária em que leciono. Imagine os que pouco ouviram falar sobre o assunto. Além disso, não existe apenas o autismo, mas diversas síndromes e deficiências que exigem um cuidado individualizado, isto é, de um para um. Como um professor pode realizar essa tarefa em meio a mais 30 alunos?

O último livro que li a respeito, TEA e inclusão escolar, de Anita Brito, professora e mãe de um jovem com autismo, é muito elucidativo porque mostra a inclusão como um processo no qual escola e família devem trabalhar juntas. Os problemas acontecem quando uma das partes não compreende esse fato. A escola pensa estar fazendo um favor à família e, por isso, em face de qualquer problema, tende a demonstrar irritação. Os pais, por sua vez, podem ver preconceito em tudo e serem hipersensíveis a qualquer observação da escola.

Enquanto as faculdades não “incluírem a inclusão” como matéria obrigatória e fundamental ante os desafios atuais, ela acontecerá quando a escola e a família aceitarem a criança tal como ela é. Assim, os desafios que forem surgindo serão superados com compreensão e conhecimento. Os pais podem ajudar e muito para que a escola do filho seja de fato inclusiva, principalmente auxiliando-a a lidar de forma mais eficaz com a criança. Bons profissionais aceitarão de bom grado essa ajuda, pois serão profissionais mais capacitados e humanos.

O meu filho é estimado por toda a escola na qual estuda. Gostaria que todos os pais de crianças especiais soubessem como é bom ver que o filho está em boas mãos. Enquanto nenhum poder público cumpre a sua obrigação, escola e pais devem fazer não a inclusão dos sonhos, mas a possível e que pode transformar a vida dos nossos filhos.

Eduardo Gama é mestre em Literatura pela USP, jornalista, publicitário e membro do IFE Campinas

Artigo publicado no jornal Correio Popular, 1º de Junho de 2015, Página A2 – Opinião.