Trabalho de homem e mulher


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Imagem: reprodução de ilustração de Italo para o artigo impresso (Página A2 – Opinião).

 

No dia 15 de junho, o Correio noticiou que a tenente-coronel Carla Danielle Basson Niglia é a primeira mulher na história a comandar um batalhão na cidade. 600 homens estarão sob o seu comando. Essa é uma grande notícia que mostra um aspecto positivo das conquistas femininas ao longo das últimas décadas. É bom viver em uma época na qual as pessoas podem seguir sua vocação, escolher um trabalho no qual contribuirão de forma eficaz para o desenvolvimento da sociedade.

Como Campinas passou por uma grande discussão acerca da adoção ou não da ideologia de gênero nos currículos das escolas públicas, fiquei intrigado com uma questão: afinal, há trabalhos que são mais masculinos do que femininos?

Eu pensava que não existiam mulheres coletoras de lixo, que ficavam atrás do caminhão, para ser mais específico. Mas não é que há? Em Belo Horizonte, uma equipe feminina foi montada no fim do ano passado para a prática do serviço. Uma delas, Sinália Ramos, declarou: “A gente não deixa de ser mulher. Estamos sempre de batom e brinco.”

Mas analisemos alguns dados que podem iluminar um pouco a questão. Na Psicologia, segundo dados de 2012 do Conselho Federal de Psicologia, elas são 90%. Esse quadro está inalterado desde 1988. Já na Engenharia Civil, de acordo com o Confea Crea, elas somam 18%. Na Enfermagem, o quadro também pouco mudou em décadas: desde 1980, o percentual de homens na profissão subiu de 5,9 para 7,9. Na educação, especialmente nos anos iniciais, elas são maioria, acima de 80%. Mulheres nutricionistas: 96,5%. Bombeiros, 8,8%.

Essa incursão por dados prova apenas que não há profissões de homem ou de mulher, como um título um tanto quanto sensacionalista pode indicar. O que há são aptidões, vocações. Em uma sociedade na qual as diferenças entre homens e mulheres são levadas em consideração, como a Noruega, por exemplo, cada pessoa escolhe o que melhor lhe convém. Nada impede que um homem seja psicólogo, nada impede que uma mulher seja física. Mas por que há tão poucos psicólogos e tão poucas físicas?

Os adeptos da ideologia de gênero oferecem como resposta que esse fato se deve à sociedade machista e patriarcal. Segundo eles, desde o instante em que nascemos, somos fabricados para sermos homens ou mulheres, de acordo com uma concepção opressora que quer rotular cada um de nós. O fato biológico, para eles, é irrelevante.

Ora, quando se joga fora a chave que abriria uma porta fechada, o que resta? Explicações mais ou menos acertadas ou, na maioria dos casos, mais ou menos estapafúrdias sobre o fato da porta estar nessas condições. É isso o que os propositores da ideologia de gênero fazem.

Ninguém é obrigado a seguir essa ou aquela profissão. Contudo, o fato de muito mais homens escolherem algumas e muito mais mulheres escolherem outras tem uma explicação. E ela reside no cérebro.

As diferenças são muitas. Uma delas é o fato de as mulheres serem muito superiores aos homens em ler expressões faciais. Simon Baron Cohen, professor de Cambridge, e grande especialista em autismo, descobriu que as meninas, desde o primeiro dia de vida, são mais empáticas que os meninos. Esse fato não tem nada a ver com a criação, mas com hormônios. Além disso, a mente masculina é atraída mais facilmente por sistemas e para entender como eles funcionam. Já o cérebro feminino presta mais atenção às emoções, afirma Cohen.

Isso não significa que todos os homens tenham um cérebro masculino e que todas as mulheres possuam um feminino. Mas essa tendência é inegável e já foi bastante estudada. Não há dúvidas de que devemos caminhar rumo a uma sociedade na qual cada pessoa siga a profissão que desejar e não seja alvo de discriminação por isso.

Mas, para citar um exemplo, como professor de Redação não posso desconsiderar o fato, por si só evidente, de que a maioria das meninas escreve melhor do que os meninos. Muitas vezes, peço que as meninas escrevam menos linhas. Os meninos, mais. É preciso ter paciência com eles, pois o cérebro masculino amadurece mais tarde. Desconsiderar essas diferenças não é um avanço. É uma injustiça.

Eduardo Gama é mestre em Literatura pela USP, jornalista, publicitário e membro do IFE-Campinas.

Artigo publicado no jornal Correio Popular em 28 de Julho de 2015, Página A2 – Opinião.