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Responsabilidade e Sentido

Opinião Pública | 09/01/2019 | | IFE CAMPINAS

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Pode parecer surpreendente a alguns o fato de que o ser humano é um ser que erra. Errare humanum est. Errar é humano, diz acertadamente o velho adágio. Todo mundo erra. Não existe nos assuntos meramente humanos algo como a perfeição, a infalibilidade. Igualmente surpreendente pode parecer a algumas pessoas outro fato importantíssimo: todo sujeito é responsável por seus atos, particularmente por seus erros.

Tais fatos parecem estar esquecidos por aqueles exageradamente preocupados com a busca de direitos, que procuram a felicidade por si mesma. Todavia, os direitos são inexoravelmente atrelados a deveres. Os direitos de uns implicam os deveres de outros. Não existem direitos sem deveres. Não há liberdade sem responsabilidade. O verdadeiro exercício da liberdade é responsável.

O famoso psicólogo clínico canadense Jordan Peterson tem insistido na importância de se valorizar a responsabilidade, especialmente aos mais jovens. Para ele, a responsabilidade é um meio pelo qual o indivíduo encontra um sentido para a sua vida. Segundo Peterson, uma vida sem responsabilidade acaba por ser uma vida inútil, sem sentido, niilista. Cabe a cada pessoa descobrir e decidir qual é o seu propósito, quais são suas responsabilidades. Mesmo diante de adversidades, a responsabilidade serve como motor para que a pessoa continue a lutar. A amargura, o ressentimento e a violência só pioram a situação, segundo a experiência clínica de Peterson.

Tais conclusões se assemelham às de Viktor Frankl. Sob condições terríveis dos campos de concentração, o famoso psiquiatra austríaco pôde refletir sobre o sentido existencial dos indivíduos e constatou que o fator determinante para superação dos problemas é a escolha, isto é, o desejo de agir livremente como um sujeito responsável, a fim de ser tornar um ser pleno apesar das circunstâncias. Durante o cárcere de Frankl, dois companheiros lhe confidenciaram, de modo independente, seus planos de suicídio. Alegavam que não esperavam mais nada da vida. A pergunta improvisada que os auxiliou a encontrar um sentido pessoal foi a seguinte: “Não seria concebível que seja a vida que espera algo de você?”. Cada um descobriu assim que podia fazer algo pelo mundo.

Mesmo diante do sofrimento, a pessoa que encontra um sentido – a responsabilidade por si mesmo, de fazer algo e de se tornar alguém – pode transformar a situação adversa numa realização pessoal. Se não podemos mudar a situação, ainda somos livres para mudar nossa atitude frente a tal situação. Para Frankl, a responsabilidade – a habilidade de responder à vida – é fundamental para que a liberdade não se torne mera arbitrariedade e chegou a recomendar que a Estátua da Liberdade na costa Leste dos Estados Unidos fosse suplementada pela Estátua da Responsabilidade na costa Oeste, como um símbolo de sua importância.

Outro sobrevivente de atrocidades, o escritor russo Aleksandr Soljenítsin (Prêmio Nobel de Literatura de 1970), autor de Arquipélago Gulag, poderia culpar Hitler e Stalin por suas prisões e sofrimento. Todavia, optou por fazer um exame de consciência e se perguntar como suas ações o levaram àquela situação. Refletindo sobre como poderia ter contribuído para a criação do regime que lhe oprimia, constatou que a degradação da sociedade e do estado é uma consequência da degradação do indivíduo: “Gradualmente me foi revelado que a linha que separa o bem e o mal não passa por estados, nem entre classes, nem entre partidos políticos – mas através de todo coração humano – e através de todos os corações humanos.”

A constatação de que erramos, de que somos falíveis, capazes de fazer o bem e o mal, deveria bastar para fomentar a humildade. Já foi dito que “a humildade é a verdade” e essa é a principal arma segundo Soljenítsin: a Verdade. Segundo ele, a verdade tem poder de derrubar impérios, sem necessidade do uso da violência. Por isso, temos uma enorme responsabilidade: a de defender a verdade, com integridade, com nosso testemunho pessoal, com nossa vida.

Por fim, inspirados nos ensinamentos de Frankl, podemos dizer que há dois modos de exercitar a liberdade: (i) acreditar que os fins justificam os meios; (ii) ter plena consciência de que existem meios que podem dessacralizar até o mais nobre dos fins. Resta a cada um de nós optar pelo modo que considerar mais responsável.

Fábio Maia Bertato é membro do IFE Campinas e Coordenador Associado do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência – Unicamp (fmbertato@cle.unicamp.br).

Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição de 9 de Janeiro de 2018, Página A2 – Opinião.

A lei de Gerson: alguém se lembra? – por Iura Breyner Botelho

Opinião Pública | 15/09/2017 | | IFE CAMPINAS

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Quem nasceu depois de 1976 não sabe; a tal “Lei de Gerson” foi uma expressão criada naquele ano, por causa de uma propaganda de cigarro em que Gerson, famoso jogador da Seleção Brasileira, campeã da Copa de 70, diz com um carregado sotaque carioca, que “goshtava de levarr vantagem em tudo, cerrto?“. Terminava assim: “faça como eu: fume Villa Rica.”

Imediatamente o público brasileiro associou a expressão com o tal “jeitinho brasileiro“, que faz “drible” em leis e regras ou faz uso delas para conseguir o que quer – o tal levar vantagem em tudo.  Mais tarde o jogador disse ter se arrependido de ter feito o comercial, pois, vira o seu nome associado a toda e qualquer ação pouco ética por meio da expressão “Síndrome de Gerson” ou “Lei de Gerson”.

Nunca como agora esta “lei” foi tão posta em prática, ainda que o termo tenha caído em desuso. Os meios de comunicação e as rodas de conversa presenciais e virtuais soltam comentários indignados sobre a corrupção em Brasília, mas, e as pequenas ou grandes trapaças do dia a dia de cada um de nós, quem assume?

Vejamos se você ou eu não presenciamos todos os dias pessoas que furam filas, que dão uma de “espertinhos” no trânsito ou na vida, que param ou estacionam em frente de uma garagem ou em fila dupla por mera conveniência pessoal… sem contar com os que não cumprem com um compromisso ou acordo, que trabalham mal ou sem empenho, que levam um certificado ou diploma na base da cola e outras trapaças… a lista, infelizmente, é bem longa. Talvez, provavelmente em algum momento, para a vergonha dos que a temos, nos vejamos a nós próprios entre alguma dessas ações, se não agora, ao menos em algum passado de nossa história.

“querer levar vantagem” não é vergonha exclusiva dos brasileiros, como se pensa por aí, nem tão pouco, fenômeno recente na humanidade. A má esperteza a serviço do egoísmo vigora desde Adão e Eva em todo lugar onde haja seres humanos. O Super-Homem criado pelo filósofo Nietzsche, bem ao contrário do Super-Herói dos quadrinhos e telas, é um ser solitário, triste e unicamente preocupado consigo mesmo. Para tais homens vale bem a sentença daquele outro filósofo, Jean Paul Sartre, de que “o inferno são os outros”.

O que acontece é que o ser humano não nasce de chocadeira; está ligado a outros humanos do início ao fim de sua existência. Se se desliga, tentando construir sua felicidade sem levar em conta a dos demais, assina sua própria sentença de infelicidade; a pior “desvantagem” que se pode levar na vida.

Se por um lado, a tendência ao egoísmo nos puxa para baixo, por outro, a possibilidade de mudar de atitude e a liberdade para tal, está inegavelmente ao nosso alcance. Então, o que ocorre é que temos que escolher para que lado apontamos; se o dos honestos; se o dos desonestos; não dá para ficar no meio!

Não se trata de ser o “certinho”; cumpridor de regras; só para não ficar mal diante dos demais ou de si mesmo. Regras só têm sentido quando se leva em conta a vida de cada um em relação aos demais nos diversos agrupamentos sociais, nem mais e nem menos. O importante – e este é o cerne da cidadania – é a consciência individual dos próprios direitos e deveres em cada núcleo social do qual se faça parte, seja família, escola, clube, igreja, condomínio, bairro, cidade, País. Há que se desenvolver o critério em relação ao que é honesto e o bom senso para aplicá-lo em cada circunstância.

A liberdade de espírito é justamente o fruto direto deste esforço. Desdobra-se em duas facetas: a da sinceridade – uma sinceridade selvagem, como costumava dizer um espanhol famoso do Séc. XX – e a da responsabilidade, aquela capacidade das pessoas maduras de assumirem plenamente todas as consequências das próprias escolhas e decisões.  Pessoas interiormente livres não nadam na corrente do “politicamente correto” ou do que todo mundo acha e faz; não seguem “modas”, antes as lançam; não são influenciados, antes influenciam.

Por outro lado, estamos em um tempo em que a mídia domina o geral da opinião pública. Os nada edificantes exemplos que ela exalta nos dão uma falsa ideia de que só se é feliz se se tem posses, fama e/ou influência. Então se passa a acreditar cada vez mais que, nesta “selva de pedra”, é preciso garantir o seu interesse a qualquer custo por cima do dos demais. Para esta sociedade o importante é ser um “vencedor”; um “homem de sucesso”, custe o que custar.

Por conta desta mentalidade competitiva a sociedade vai perdendo tanto o sentido da dignidade da pessoa como o do exercício da cidadania. A sociedade individualista gera sempre infelicidade em forma de neuroses, desconfianças, frustrações, inimizades, medos, opressões e toda a gama de sentimentos negativos que a acompanham. Este homem lobo-do-homem apregoado pela mídia torna-se, no fim das contas, lobo de si mesmo, seu próprio e mortal inimigo em última instância.

Voltemos à Lei do Gerson. A Cultura do “levar vantagem em tudo” é consequência direta das duas ilusões acima citadas. A primeira – felicidade na posse, na fama e no poder –, desmascaramos ao concluir que o homem é o que é; não o que possui ou o que pode diante dos outros. A segunda – a felicidade própria em detrimento da do outro –, a desmentimos definindo o homem como um ser relacional que se realiza, não no atropelamento e na instrumentalização do outro, mas na busca e construção do bem comum, que engloba o outro e o indivíduo mesmo.

Se todos concordamos em que uma sociedade é melhor e mais feliz à medida que vive princípios de honestidade pessoal e solidariedade mútua, o que falta para mudarmos o mundo em que vivemos? Nós – não outros – fabricamos para esta sociedade os políticos e os homens de liderança que execramos, pois eles não saíram de outro lugar, que não dos lares que construímos (ou desconstruímos) ao longo dos anos.

Se a desonestidade entre os homens públicos existe na mesma proporção da que pilhamos entre os demais homens comuns da sociedade, a grande revolução da honestidade e da solidariedade em todos os seus setores começa pela pequena retificação de atitude de cada cidadão – você e eu – em cada circunstância. Então… o que estamos esperando?

Homens responsáveis, livres e respeitosos educam seus filhos nestes valores e também fermentam todos os ambientes em que se movem com eles. São homens que constroem uma sociedade responsável, livre e respeitosa, capaz de gerar administradores, cientistas, engenheiros, pais, mães, empregados, patrões e homens públicos à altura.

Sem dúvida, ser, formar e influenciar pessoas nestes padrões custa trabalho, e muito. Tudo que vale à pena custa. Se não dermos agora mesmo um passo definitivo neste sentido, jamais poderemos pensar em uma cultura ou uma sociedade em que possamos viver num padrão mínimo de segurança, liberdade e paz. Em última instância, cada um deve começar por assumir um compromisso pessoal e inadiável com a boa formação da própria consciência. Sócrates, Platão e Aristóteles podem nos dar umas boas pistas!

Por Iura Breyner Botelho – Pós graduação em História das Artes – Crítica e Teoria – pela FPA (Faculdade Paulista de Artes) em 2012. Iura Breyner Botelho é colaboradora do IFE Campinas. 

 

Pokémon Go

Opinião Pública | 24/08/2016 | | IFE CAMPINAS

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Conversava com um jovem advogado, enquanto despachava sua petição e o notei entretido no celular quando lhe fiz uma indagação. Ele rapidamente se recobrou pelo lapso e emendou: “Esse ‘Pokemon Go’ faz com que a pessoa esqueça de tudo!”. E pensei: “Até da massa cinzenta!”. Ri por dentro. Até que meu superego resolveu dar as cartas naquele momento.

Desconhecia o tal jogo até então. Sabia de sua existência, já que, por gostar de jogos de guerra em primeira pessoa (cresci assistindo aos filmes do Stallone e do Schwarzenegger), sempre ando a vasculhar pelo mundo digital a procura de novos lançamentos. Questionei meu estagiário sobre os detalhes do jogo.

Ele fez uma verdadeira ementa do assunto: “Com a câmera de um celular e a ferramenta da geolocalização, a pessoa perambula pelos locais das cidades e tenta caçar as figurinhas virtuais produzidas pelo aplicativo num ambiente virtual mesclado com mapas do mundo real”. Pensei: “Tempos modernos! Em minha época, eu caçava figurinhas de papel, perambulando pelas bancas, para colar nos álbuns geolocalizados dentro de meu armário”.

O outro estagiário resolveu dar sua colaboração intelectual, saindo em defesa do jovem causídico. Segundo ele, o jogo seria uma forma de aliviar o estresse do cotidiano forense e, se, no passado, os advogados deixavam expediente rumo ao bar para beber e fumar, hoje, eles saem em busca dos solitários e abandonados pokemons. Pensei: “Que alívio! Assim, os pokemons, uma vez resgatados, sairão da periferia existencial de nossas vidas!”.

A explicação tem muito de poesia e, por isso, talvez merecesse uns olhos perolados. Depois de um frenético dia nas galés forenses, o servo da justiça volta a ser criança por umas horas. Nada contra, desde que ele não se esqueça do adulto que ele já se tornou. Aqui reside o problema. Seu público-alvo, segundo a produtora do jogo, são os adultos na faixa dos trinta anos, justamente aqueles que já têm sido atingidos pelo fenômeno da infantilização do homem moderno.

Esse fenômeno parte da recusa do sujeito à vida adulta. Trabalho, empresa, universidade, comércio, casamento, lar, afazeres domésticos, filhos, pagamentos, compromissos sociais, enfim, tudo aquilo que tem o desagradável odor da responsabilidade. A vida, para esses bravos incautos, ainda é uma espécie de longa prorrogação da infância, ou seja, um clima de constante diversão, a fim de se evitar a náusea entediante proporcionada por todas aquelas realidades. E, além de longa, ainda é interminável. Nunca se decidem sobre o momento de debutar na vida adulta.

Aliás, essas crianças, digo, esses adultos, povoam muitos de meus processos. Eles (ou elas) não pagam os alimentos para os filhos, recusam-se a assumir o exercício da paternidade, delegam a criação da prole para a babá ou a escola, não pagam o carro que financiam a partir da segunda parcela e resolvem promover a revisão das cláusulas de um contrato que assinaram livremente, transmitem a responsabilidade criminal para a sociedade opressora, confundem danos morais com suscetibilidade infantil exacerbada, pleiteiam do poder público uma série de direitos que mais lembram caprichos a serem pagos com nosso dinheiro, invadem e ocupam a legítima propriedade alheia para pressionar o prefeito a lhes prover uma habitação, aparecem vestidos na audiência como se fossem passar uma tarde no clube e, se o amor não deu certo, querem ser indenizados em nome do direito à felicidade.

Não reclamo. Nesse caso, como se dá com os parentes do cônjuge, você também não escolhe. Se optei por trabalhar nesta vara em que exerço a jurisdição estatal e onde essa espécie exótica de adulto parece surgir aos borbotões, resta apenas me resignar estoicamente ou rezar para que eles resolvam, ao invés de consultar um advogado naquelas situações, sair por aí em busca de pokemons. A galopante distribuição mensal de processos agradece.

Recordo a esses adultos que, mais cedo ou mais tarde, gostem ou não, sua vida passará pela ciranda das contas, prazos, horários e metas, ainda que prefiram tapar o sol dessa realidade com a peneira de uma tela de celular. De minha parte, espero que não resolvam instalar escorregadores ou balanços para as partes nas salas de espera dos fóruns. Afinal, não gostaria de me deparar, um dia, com algum caçador de pokemons perdido em meu gabinete. Com respeito à divergência, é o que penso.

André Gonçalves Fernandes é juiz de direito, doutorando em Filosofia e História da Educação, professor, pesquisador, coordenador acadêmico do IFE e membro da Academia Campinense de Letras (fernandes.agf@hotmail.com)

Artigo publicano no jornal Correio Popular, edição 24/8/2016, Página A-2, Opinião.

[resenha de filme] "Ponte dos Espiões": A sedutora criatividade do cumprimento do dever (por P.G. Blasco)

Cinema | 08/04/2016 | | IFE CAMPINAS

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Bridge-of-spies-204x300

“Bridge of Spies” (2015)
Diretor: Steven Spielberg.
Elenco: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda.
141 minutos.

Entrou em cartaz [no ano passado] sem estardalhaço nenhum. No jornal, não encontrei estrelas qualificando o filme. Surge sem fazer barulho, em low profile, como o advogado protagonista, Jim Donovan, nesta magnífica história contada pelos irmãos Cohen, e magistralmente orquestrada por Spielberg. Bastam esses nomes para dispensar qualquer necessidade de propaganda. Fui atrás do filme e assisti duas vezes, no intervalo de um par de semanas. Senti uma necessidade imperiosa de apreciar, de saborear, a historia, o modo de contá-la e, naturalmente, a interpretação soberba de Tom Hanks.

A dupla Spielberg-Hanks é um arco voltaico de potencia superior. Vale lembrar O Resgate do Soldado Ryan, um dos filmes que mais me marcaram, um verdadeiro sonho de consumo em educação. Lá se mostra como é possível formar a vida de um homem, norteando seus próximos 40 anos, com uma frase –acompanhada do exemplo heroico- pronunciada in artículo mortis: “James, faça por merecer”. Frase esta, que escolta o jovem James Ryan todos os dias da sua vida, reflete sobre ela, lhe faz ajustar seu comportamento ao gabarito que lhe foi sugerido. Impactante. Emociono-me cada vez que a vejo, o que acontece com bastante frequência, por conta de conferências e seminários nos quais estou envolvido profissionalmente.

É fato conhecido a habilidade que Spielberg tem para mergulhar em histórias reais e injetar nelas humanismo. O fato histórico torna-se palatável, próximo, personalizado, como fazem os bons escritores de romances históricos e de biografias. A História, fria e distante, é iluminada com a presença de personagens de carne e osso, que carregam consigo tudo o que acompanha o quotidiano do ser humano: dilemas, medos, sofrimento, heroísmo, entusiasmo, júbilo. As suas produções – A Lista de Schindler, Amistad, por dar exemplos- rodeiam-se de possibilidades humanas, também de arte e poesia, o que lhes faz transpirar ensinamentos. É um humanismo plasmado em celuloide, que educa, ensina, eleva o espectador.

Pablo González Blasco é médico (FMUSP, 1981) e Doutor em Medicina (FMUSP, 2002). Membro Fundador (São Paulo, 1992) e Diretor Científico da SOBRAMFA – Sociedade Brasileira de Medicina de Família, e Membro Internacional da Society of Teachers of Family Medicine (STFM). É autor dos livros “O Médico de Família, hoje” (SOBRAMFA, 1997), “Medicina de Família & Cinema” (Casa do Psicólogo, 2002) “Educação da Afetividade através do Cinema” (IEF-Instituto de Ensino e Fomento/SOBRAMFA, São Paulo, 2006) , ”Humanizando a Medicina: Uma Metodologia com o Cinema” (Sâo Camilo, 2011) e “Lições de Liderança no Cinema” (SOBRAMFA, 2013). Co-autor dos livros “Princípios de Medicina de Família” (SOBRAMFA, São Paulo, 2003) e Cinemeducation: a Comprehensive Guide to using film in medical education. (Radcliffe Publishing, Oxford, UK. 2005).

Publicado originalmente no site de Pablo González Blasco, link <http://www.pablogonzalezblasco.com.br/2015/12/20/ponte-dos-espioes-a-sedutora-criatividade-do-cumprimento-do-dever/>. Acesso em 07/04/2016.

[resenha de filme] “Ponte dos Espiões”: A sedutora criatividade do cumprimento do dever (por P.G. Blasco)

Cinema | 08/04/2016 | | IFE CAMPINAS

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“Bridge of Spies” (2015)
Diretor: Steven Spielberg.
Elenco: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda.
141 minutos.

Entrou em cartaz [no ano passado] sem estardalhaço nenhum. No jornal, não encontrei estrelas qualificando o filme. Surge sem fazer barulho, em low profile, como o advogado protagonista, Jim Donovan, nesta magnífica história contada pelos irmãos Cohen, e magistralmente orquestrada por Spielberg. Bastam esses nomes para dispensar qualquer necessidade de propaganda. Fui atrás do filme e assisti duas vezes, no intervalo de um par de semanas. Senti uma necessidade imperiosa de apreciar, de saborear, a historia, o modo de contá-la e, naturalmente, a interpretação soberba de Tom Hanks.

A dupla Spielberg-Hanks é um arco voltaico de potencia superior. Vale lembrar O Resgate do Soldado Ryan, um dos filmes que mais me marcaram, um verdadeiro sonho de consumo em educação. Lá se mostra como é possível formar a vida de um homem, norteando seus próximos 40 anos, com uma frase –acompanhada do exemplo heroico- pronunciada in artículo mortis: “James, faça por merecer”. Frase esta, que escolta o jovem James Ryan todos os dias da sua vida, reflete sobre ela, lhe faz ajustar seu comportamento ao gabarito que lhe foi sugerido. Impactante. Emociono-me cada vez que a vejo, o que acontece com bastante frequência, por conta de conferências e seminários nos quais estou envolvido profissionalmente.

É fato conhecido a habilidade que Spielberg tem para mergulhar em histórias reais e injetar nelas humanismo. O fato histórico torna-se palatável, próximo, personalizado, como fazem os bons escritores de romances históricos e de biografias. A História, fria e distante, é iluminada com a presença de personagens de carne e osso, que carregam consigo tudo o que acompanha o quotidiano do ser humano: dilemas, medos, sofrimento, heroísmo, entusiasmo, júbilo. As suas produções – A Lista de Schindler, Amistad, por dar exemplos- rodeiam-se de possibilidades humanas, também de arte e poesia, o que lhes faz transpirar ensinamentos. É um humanismo plasmado em celuloide, que educa, ensina, eleva o espectador.

Pablo González Blasco é médico (FMUSP, 1981) e Doutor em Medicina (FMUSP, 2002). Membro Fundador (São Paulo, 1992) e Diretor Científico da SOBRAMFA – Sociedade Brasileira de Medicina de Família, e Membro Internacional da Society of Teachers of Family Medicine (STFM). É autor dos livros “O Médico de Família, hoje” (SOBRAMFA, 1997), “Medicina de Família & Cinema” (Casa do Psicólogo, 2002) “Educação da Afetividade através do Cinema” (IEF-Instituto de Ensino e Fomento/SOBRAMFA, São Paulo, 2006) , ”Humanizando a Medicina: Uma Metodologia com o Cinema” (Sâo Camilo, 2011) e “Lições de Liderança no Cinema” (SOBRAMFA, 2013). Co-autor dos livros “Princípios de Medicina de Família” (SOBRAMFA, São Paulo, 2003) e Cinemeducation: a Comprehensive Guide to using film in medical education. (Radcliffe Publishing, Oxford, UK. 2005).

Publicado originalmente no site de Pablo González Blasco, link <http://www.pablogonzalezblasco.com.br/2015/12/20/ponte-dos-espioes-a-sedutora-criatividade-do-cumprimento-do-dever/>. Acesso em 07/04/2016.