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Protagonistas do futuro – por Isabella Silveira de Castro

Opinião Pública | 22/10/2014 | | IFE CAMPINAS

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O mundo sofre hoje as dolorosas penas do desenvolvimento de uma sociedade que se tornou insustentável; não pela falta de recursos, mas pela falta de perspectivas. A realidade é tão crítica que quem acredita em um futuro realmente melhor é taxado como sonhador. Entretanto, como suprir as carências do mundo sem acreditar que isto seja possível?

Mesmo o futuro parecendo obscuro e incerto, é preciso nutrir o sonho para ficarmos enérgicos na modificação do presente. Caso contrário, alimentando a visão pessimista e conformista de incapacidade, apenas favorecer-se-á a manutenção dos problemas, tornando-nos cúmplices e igualmente culpados pela realidade. Um cientista vive na perspectiva de descobertas, aparentemente distantes, muitas vezes improváveis; mas, mesmo com tantos obstáculos, empenha-se em seu trabalho. Por isso, espero que os cientistas acreditem na cura do câncer e espero que todos acreditem em uma melhora.

Embora exista uma tendência ao conformismo, os jovens, principalmente, são naturais questionadores e dificilmente acatam submissos a realidade imposta. Contudo, devido ao disseminado individualismo, ao passarem pela fase de revolta, não fazem com que sua consciência crítica reverta-se em ações concretas. Nota-se que a revolta de muitos jovens é expressa por atitudes de pura autoafirmação, como adoção de estilos alternativos e vida desregrada, ou seja, atos que sirvam para afirmarem seu controle sobre suas vidas e futuros; entretanto, tal controle é equivocado.

O equívoco não está na possibilidade de determinarem seus futuros, mas em colocarem como objetivo a ser alcançado a satisfação de prazeres momentâneos, pois, justamente por sua característica de transitoriedade, os prazeres não transformam futuro algum. Logo, na tentativa de determinarem seus futuros, os jovens acabam apenas preenchendo o presente.

Consequentemente, cria-se um ciclo, há sempre expectativa em “preencher” novamente o presente com prazeres. Por conseguinte, realizações a longo prazo perdem o significado, o imediatismo prevalece, ao lado da falsa sensação de satisfação pessoal. Com esta mentalidade, a sociedade ficará para sempre estagnada. O jovem de hoje não almeja fazer escolhas em proveito de melhoras sociais e sustenta discursos justificantes: o discurso é fruto da escolha e não mais as escolhas como o resultado de convicções.

A filosofia do “deixa a vida me levar” é insustentável em sua essência, pois a vida é construção humana, cada um tem papel indispensável em sua história, por isso, o “deixar-se levar” é o mesmo que desistir de si mesmo se entregando ao acaso. A citação de Frei Beto ilustra a questão: “Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o risco de injetar drogas”. Não nego importância de momentos prazerosos e de lazer, mas a vida não resume-se a eles.

A compreensão do valor da vida em sua universalidade, isto é, a concebendo não apenas no momento presente e além de sua individualidade, é essencial para construção de um mundo diferente. Quando não damos sentido a nossa existência – não temos objetivos ou convicções – caminhamos sem rumo à procura incessante da felicidade e acabamos equivocadamente confundindo-a com prazer.

A busca pelo sentido da vida é um dos maiores dilemas da história e cabe a cada um dar sentido a sua: as condutas que nos propomos a fazer e a finalidade pelas quais as fazemos revelam o sentido que almejamos dar a elas. Talvez aí esteja a chave de um enigma: o combustível do homem é o reconhecimento do valor de suas ações. Sendo assim, o primeiro passo para um mundo melhor é a convicção, sobretudo da juventude, na necessidade de posturas que contribuam para melhora social. O segundo passo é deixar que os objetivos norteiem as condutas, objetivos coletivos e pessoais.

Quem sabe assim, o futuro seja diferente, diferente de verdade. Quando o homem decide desenvolver novas tecnologias, cria coisas fantásticas. Basta nos inspirarmos no espirito inovador dos inventores e persistência dos cientistas. Tantos ideais alcançados pela ciência foram ditos inatingíveis; vamos educar as novas gerações a provar que um projeto de futuro melhor é concretizável.

■■ Isabella Silveira de Castro é graduanda em Direito pela PUC-Campinas e colaboradora do IFE Campinas.

Artigo publicado no jornal Correio Popular, dia 11 de Outubro de 2014, Página A2 – Opinião.