O IDEÁRIO DO IFE


Como norte, parece-nos essencial reafirmar o clássico ideal da unidade e universalidade do saber. Sabemos que este ideal só se pode realizar hoje em torno de uma Ontologia e de uma Antropologia Filosófica que não sejam reducionistas e ideologizadas, mas harmonizem o saber clássico com as contribuições das diversas correntes de pensamento modernas, das ciências e das doutrinas das liberdades cívicas. Sabemos também que esse ideal, pela sua amplidão de horizontes, está além das forças de qualquer indivíduo, sendo necessária a cooperação de várias pessoas com mentalidades, formação, inclinações e opiniões diversas.

Para realizar esse ideal, confiamos no estudo permanente, sério, metódico e exigente, mas levado a cabo com paixão e temperado ao mesmo tempo pelo debate de idéias em um ambiente de respeito, liberdade e responsabilidade intelectuais. A única ferramenta admitida neste estudo é a da argumentação racional, em um espírito de busca da verdade positivo e aberto à inovação, sem apegos obstinados ao passado. Temos a intenção de oferecer o resultado dos nossos trabalhos à sociedade, mas buscamos dialogar primariamente com os universitários, acadêmicos e formadores de opinião, responsáveis por gerar e debater as ideias que influenciam a cultura nas suas várias manifestações.

Todo o nosso pensamento pressupõe um consenso em torno de valores que consideramos fundamentais, pois sem eles a sociedade e cada homem em particular acabam por deteriorar-se. São eles:

1) a dignidade humana, com a defesa e promoção dos direitos e deveres de cada indivíduo, sem discriminações de espécie alguma. Esses direitos e deveres são anteriores ao seu reconhecimento por parte do Estado, e é o seu respeito que garante a legitimidade de qualquer ordem social. Repudiamos toda a ideologia que sustente a relativização do valor do ser humano em vista de fins políticos ou econômicos, sejam eles quais forem.

2) O respeito aos valores religiosos que fundaram as grandes civilizações ocidentais e orientais, bem como à mútua autonomia dos âmbitos religioso e político. Todos devem poder formar livremente a sua consciência em matéria religiosa. Discordar de alguns aspectos das religiões jamais pode significar discriminação contra aqueles que as professam, nem implicar que se negue o acesso dos seus fiéis ao debate cultural e político; e, em contrapartida, seguir alguma religião nunca pode ser motivo para impor os valores que esta considera revelados.

3) A afirmação da família como formadora primária e essencial da pessoa humana, escola da cidadania e célula da sociedade. Esta afirmação implica a defesa da sua integridade e dos seus direitos perante todo o tipo de manipulação estatal ou ideológica da educação e da reprodução humanas.

4) O ideal democrático, com o respeito essencial e intrínseco pela liberdade dos indivíduos e das organizações intermediárias. Toda forma concreta de governo deve estar fundada no respeito pelas verdades legadas pelas gerações anteriores, que podem ser atingidas por meio do bom uso da razão, e aprofundadas e desenvolvidas pela mesma razão, sem rupturas institucionais arbitrárias nem imposições de qualquer tipo.

Desejamos que nosso trabalho ajude na elaboração de valores consensuais fundados no ideal descrito acima, necessários para a construção de uma sociedade verdadeiramente livre, democrática e solidária. Não participamos nem participaremos nunca de nenhum projeto político, partidário ou de poder. Nosso objetivo é a afirmação de valores culturais.