Nem Wyllys, nem Bolsonaro

Opinião Pública | 30/11/2015 | | IFE CAMPINAS

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Acordamos radicais. Essa parece ser a sensação de quem acompanha o desenrolar dos acontecimentos nestes últimos anos. Picham catedrais com palavras obscenas, fazem culto da morte como um direito humano. Por outro lado, cada vez mais “cidadãos de bem” defendem que bandido bom é bandido morto. Exaltam o presídio de Pedrinhas como a higienização necessária à sociedade.

Acordamos radicais. O que aconteceu? Lembro-me que, em 2008, o tema de redação da Fuvest era “Participação política: indispensável ou superada?” O objetivo era que os jovens, então alheios aos rumos do País, refletissem sobre a importância da questão. Menos de uma década depois, quase todo adolescente possui uma opinião radical sobre diversos assuntos. A politização da sociedade é um bem, contudo, desconfio que esse radicalismo trará um fruto amargo.

Mas antes das consequências, é preciso identificar a causa. Uma delas é uma crescente superficialidade. Em uma recente entrevista, Umberto Eco declarou que as redes sociais deram voz “a uma legião de imbecis”. Antes, considerou, eles se manifestavam após umas cervejas em uma mesa de bar, sem prejudicar a coletividade com suas asneiras. Hoje ganham as manchetes de jornais.

Chamá-los de imbecis, embora proceda de uma cólera justa, é um erro. A terminologia correta pode ser mais esclarecedora. As novas tecnologias mostram que há pessoas preconceituosas, inescrupulosas. Antes era possível fingir que eles não existiam. Hoje publicam manuais de como estuprar estudantes.

Outro fator, além dos “imbecis de Eco” é a superficialidade de opinião. Com as redes sociais, todos se julgam especialistas sobre os mais variados assuntos. O Enem é ideológico? Os pandas devem ser salvos? Drogas? Aborto? Intolerância? Todos têm uma opinião (mal) formada. Sem falar na política, palco de delírios de todos os lados.

Essas explosões de raiva contra pessoas ou grupos podem redundar em ódio, se é que já não o vivenciamos. O ódio busca aniquilar o outro, negar-lhe a existência. O exemplo mais extremo que temos hoje é o Estado Islâmico. No Brasil, podemos citar esses “coletivos” de feministas radicais. O que elas cantam? “Sou violenta porque sofri violência”. Se, de fato, essas jovens foram vítimas, sua conduta poderia até ser direcionada contra quem causou o mal. Mas por que se dirige contra toda a sociedade? Por que me odeiam pelo fato de eu ser homem? Que mal eu fiz a elas?

De fato, ser moderado parece ser uma atitude covarde ou equivocada nos dias correntes. Se o PT é corrupto, os outros não o são? As empreiteiras não doaram dinheiro aos outros partidos? Sabemos que sim. Com que intenção? Eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa, já disse Riobaldo, na obra magistral de Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas. O que afirmo não me torna nem um pouco menos antipetista do que já sou, mas acho que me torna mais lúcido.

Por isso, não sigo nenhum J, seja de sobrenome Wyllys ou Bolsonaro. Considero que o momento atual é de indignação e de revolta. Mas sei que o grito superficial cai logo no vazio. Sei que o radicalismo mais violento tem de dormir sobre os escombros da casa que derrubou. O problema é que nós todos moramos sob esse teto. Uma terceira via se faz necessária.

Eduardo Gama é mestre em Literatura pela USP, jornalista, publicitário e membro do IFE-Campinas.

Artigo publicado originalmente no jornal Correio Popular, edição de 18/11/2015, Página A2 – Opinião.