Mundo politicamente correto

Opinião Pública | 14/06/2017 | | IFE CAMPINAS

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Vivemos num mundo politicamente correto e que, vez ou outra, dá uma azia mental enorme. No último mês, tive dois ataques. O primeiro foi causado pelo STF, que acolheu a constitucionalidade da lei de cotas para o serviço público federal. A corte também examinou se os órgãos públicos federais podem verificar eventuais falsas declarações de candidatos cotistas, já que a condição de negro é feita por autodeclaração.

O voto do relator admitiu essa verificação por meio da autodeclaração presencial e da entrevista por comissão plural. O mundo dá voltas e a tal “comissão plural” é o nome eufemístico para Tribunal Racial, cujo telos – ontologicamente – é idêntico ao criado pelas Leis de Nüremberg (1935), editadas por Hitler que, como líder do partido do nacional-socialismo alemão, já tinha sido, pela via plebiscitária, conduzido democraticamente ao status de Führer. Só que, na versão pindorama, a tal corte vai decidir quem é negro o suficiente para fazer jus às cotas.

Não adianta. O politicamente correto, mais cedo ou mais tarde, traz à superfície suas incongruências e reducionismos invencíveis, quando não caricatos ou mesmo lamentáveis, como o ressurgimento de um tribunal para decidir a raça de uma pessoa. A história já mostrou que isso não dá certo.

Então, deixo aqui, como contribuição para essa esquizofrenia mental de “comissão plural”, a leitura da didática tabela nazista que acompanha a “norma de proteção do sangue e honra alemães”, a principal parte das Leis de Nüremberg, a explicar muito bem os esquemas familiares que determinavam a pureza da raça ariana. Parece-me um bom precedente étnico. Vai ajudar bastante a esclarecer as mentes dos membros da dita comissão.

Creio que a primeira coisa a ser feita por nosso Tribunal Racial seja traduzir essa tabela para o vernáculo, transformar os fluxogramas rudimentares para o PowerPoint e, depois, substituir a expressão “Jude” por “negro”. Depois, quem sabe, um dia, se isso for estendido para as promoções internas da magistratura, talvez, candidate-me pela cota racial, já que, como pardo, tenho, orgulhosamente, alguma ascendência negra.

Para os magistrados caucasianos, há uma saída: sugiro que digam que se “sintam” como negros. Afinal, para muitos estudiosos, a identidade racional não é genética (cor da pele), mas decorre da “experiência atuacional” da pessoa. Nesse tópico, consultem a Rachel Dolezal. Ela domina o assunto.

O segundo ataque de azia mental veio da reação ao último atentado terrorista em Londres. O Islã logrou aquilo que o Bigodinho, com toda sua temível Blitzkrieg, não conseguiu. O Império que governou um terço do planeta, o país que, sozinho, enfrentou os nazistas e resistiu a uma chuva de bombas da Luftwaffe, agora sucumbe pela tirania do politicamente correto e o consequente ataque, intensivo e ostensivo, de bárbaros que não tiveram sequer que invadir a Inglaterra, mas foram, gentilmente, convidados a ocupar a Ilha.

Como ovelhas mudas levadas ao matadouro, britânicos assistem, atônicos e passivos, seus concidadãos serem mortos a tiros, esfaqueados, atropelados e destroçados por bombas. Esse é o “novo normal” no Velho Mundo. “Sigam suas vidas normalmente, finjam que nada aconteceu, cuidado para não discriminar, cuidado para não ofender ninguém”. É o recado que está nas entrelinhas da mensagem de condolência do prefeito londrino.

A maioria do povo britânico já disse um basta a tudo isso, quando votou pelo Brexit, baseado no princípio da autodeterminação dos povos. Resta saber quando seus governantes farão o mesmo. Enquanto perdurar esse clima de terror urbano, sugiro aos europeus que se mudem, por uns tempos, para a Polônia. Não se ouve notícia de atentado terrorista por lá. Pudera, naquelas terras, vigora um muslim ban.

Uma vez lá, aproveitem as belas paisagens para incrementar consideravelmente a contribuição demográfica do continente europeu. Afinal, quando a esterilidade voluntária vira regra numa sociedade, há carência de mão-de-obra nativa e, como efeito, fica-se dependente de uma população economicamente ativa de estrangeiros.

Nada contra forasteiros. Desde que respeitem os valores do povo que os acolheu, paguem seus impostos e convivam pacificamente. O problema é que, no caso dos muçulmanos, além da dependência econômica, uma nação torna-se, ainda, refém dos energúmenos que, em nome de Alá, explodem, atropelam e esfaqueiam os infiéis inocentes.

Depois disso, vem o politicamente correto pedir aos ingleses que, em relação aos muçulmanos, “amem-se uns aos outros, derrubem os muros que os separam e simplesmente coexistam”. A Inglaterra, que ocupa um lugar muito grande em meu coração, por muitas e muitas razões, é a França de amanhã.

André Gonçalves Fernandes é juiz de direito, doutorando em Filosofia e História da Educação, professor, pesquisador, coordenador acadêmico do IFE e membro da Academia Campinense de Letras (fernandes.agf@hotmail.com)

Artigo publicado no jornal Correio Popular, edição 14/06/2017, Página A-2, Opinião.