A Virgem e o comunismo


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Ilustração: reprodução

 

Há quase cem anos a notícia de que três crianças portuguesas, de sete, nove e dez anos de idade respectivamente estavam vendo e conversando com a Virgem Maria agitou a imprensa internacional e estarreceu a própria Igreja.

Eram três pequenos pastores de ovelhas, muito pobres, analfabetos e que não sabiam nada de política e quase nada de teologia. Já na primeira aparição, Nossa Senhora pediria à Lúcia, a mais velha dos três e que era a única que falava com a Virgem, visto que Francisco só a via, mas não a ouvia e Jacinta a via e ouvia, mas não falava com Ela, que aprendesse a ler e escrever. Lúcia seria a transmissora dessas desconcertantes mensagens.

A Mãe de Jesus avisava que seu Filho estava muito ofendido com os pecados da humanidade e que seu braço pesava sobre os muitos erros que se cometiam indistintamente em todo canto. A aparição ocorreu pouco tempo antes do fim da Primeira Guerra Mundial e Nossa Senhora fazia um apelo à conversão, pedia a reza do terço diariamente, a frequência aos sacramentos e que as pessoas mudassem de vida senão no reinado de Pio XI viria outra guerra ainda pior e a Rússia espalharia seus erros pelo mundo. A tudo isso, Nossa Senhora ainda acrescentou o pedido de que o mundo fosse consagrado ao seu Imaculado Coração, com uma menção especial à Rússia.

Os “erros da Rússia”, mencionados pela Virgem Maria são uma referência clara e ao mesmo tempo uma condenação veemente da ideologia socialista como pretensa solução para os problemas políticos, econômicos e culturais da humanidade. A aparição se deu em Fátima, Portugal, no ano de 1917 e coincide exatamente com a Revolução Socialista, também chamada de “bolchevique”, ocorrida na Rússia no mesmo ano.

Os apelos de Nossa Senhora não foram atendidos a tempo e, realmente, após o advento da Segunda Guerra Mundial, a URSS desponta como uma potência socialista e os “erros da Rússia” se espalham pelo mundo ainda mais. A Guerra Fria foi o tempo propício da propagação dessas nefastas doutrinas por todo o mundo. No Brasil, a índole cristã de nossa nação não aderiu conscientemente a essas ideologias, porém, durante a Ditadura Militar, usando a tese da “válvula de escape”, a fim de acalmar militantes socialistas, nossas universidades foram entregues aos seus cuidados e aqueles que antes lutavam na guerrilha, passaram a destruir a cultura como cupim, ou seja, destruíam por dentro os fundamentos da cultura brasileira, enquanto a casca, a exterioridade parecia se manter. Os “erros da Rússia” chegaram até nós e hoje se expressam no projeto de poder do partido dominante, se expressam no financiamento da ideia de criar uma “pátria grande” que unifique a América Latina e a transforme num conjunto de republiquetas comunistas; na ideia de Reforma Política que criaria os “sovietes” brasileiros e beneficiariam apenas o partido que já está no poder e que também se expressam em interpretações teológicas marxistas que tentam conciliar o inconciliável: o materialismo dialético e a realidade transcendental da fé, corroendo as consciências de muita gente dentro da própria Igreja.

Os “erros da Rússia” estão diante de nossos olhos e já fazem parte de nosso cotidiano. Combatamos valentemente esses erros através de uma consciência clara da realidade de uma recusa sistemática a tais propostas e de uma ação que impeça o seu avanço. Paulo VI já dizia que “em Maria, tudo se refere a Cristo e Dele depende”, ou seja, Ela sempre nos direciona e orienta para seu Filho; corramos portanto na direção que Ela nos indica e confiemos em sua maternal promessa feita em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!” Deste triunfo depende, inclusive a estabilidade da ordem social e isto não é mero piedosismo pueril, mas uma realidade que transcende nossa lógica simplória.

■■ Luiz Raphael Tonon é professor de História e Filosofia, Gestor do Núcleo de Teologia do IFE Campinas e leigo consagrado da comunidade Católica Pantokrator.

Artigo publicado no jornal Correio Popular, em 28 de Setembro de 2015, Página A2 – Opinião.

Imagem: Ilustração que acompanha o artigo na versão impressa, Página A2.